domingo, 28 de julho de 2013

Guardador de Azevinhos

Já não sei ao certo qual foi a primeira árvore que plantei, nem a idade que teria, e claro que aquelas árvores que as crianças plantam com a ajuda dos professores no dia mundial da árvore também não contam como é lógico. Mas lembro-me bem de, ainda na adolescência, teria uns quatorze ou quinze anos, ter recolhido duas pequenas plantas, e de as ter trazido para plantar em casa.

Eu vivo num pequeno meio rural recortado pelo rio Douro, e em criança era muito comum encontrarem-se muitos azevinhos por aqui, e lembro-me particularmente de uma zona onde o meu avô construiu a sua casa, reaproveitando uma velha casa centenária em pedra de laje a poucos metros do rio. Esse sítio era longe do centro da povoação, não tinha estrada, era basicamente um caminho de cabras, sem sequer iluminação. A estrada, os postes de eletricidade e a água canalizada chegariam depois dos meus avós terem ido para lá morar.

Naquele local, a cem metros da casa, tinha por lá imensos azevinhos, e eu achei que deveria trazer um bocadinho daquela planta mágica para casa. Ainda me lembro bem que na altura trouxe uns pequenos filhotes e tive a preocupação de escolher uns que fossem rebentos de árvores que tinham bagas. Ainda não teria a explicação na altura, mas já sabia que uns davam bagas e outros não, e assim teria a certeza que os meus azevinhos iriam dar bolinhas vermelhas no futuro. Esses dois pequenos azevinhos, plantados por mim, têm hoje mais de vinte anos, e talvez uns cinco metros de altura.

Azevinho - Ilex Aquifolium

E em boa altura os trouxe. A ganância por um lado e a estupidez por outro, ou os dois juntos! fez com que aos poucos esta árvore fosse completamente dizimada. Uns cortados para enfeites de natal e outros cortados para serem vendidos - e eu ainda me lembro bem de ver pessoas a vender montes de ramos de azevinho nas beiras das estradas - acabaram, em pouquíssimo tempo, por quase por extinguir a espécie que crescia aqui espontaneamente. A ganância era tanta que chegaram inclusive a ir cortar metade de um azevinho num terreno privado com uma pequena casa que só era habitada ao fim de semana - dá para acreditar? E o fenómeno não aconteceu por aqui mas um pouco por todo o país onde eles existiam, em especial no norte, onde a espécie se dá melhor, por preferir solos mais ácidos. 

Entretanto o azevinho passou a ser espécie protegida em Portugal em 1989, mas só depois do mal feito é que se colocou trancas na porta, e a verdade é que a espécie está quase extinta. Quando antes se encontravam espontâneamente, debaixo dos carvalhais onde gostam de crescer, hoje quase só mesmo em parques ou nos jardins das nossas casas. Fez-se a lei, mas nestes mais de vinte anos foi feita alguma coisa para reverter a situação? Claro que não, se os governos não se interessam com as vidas das pessoas vão agora estar preocupados com uma árvore, ainda por cima que não dá nenhum dinheiro a ganhar, estão preocupados sim mas é em eucaliptar o país que dá muito ganhar aos senhores amigos da pasta do papel. 

Aqui perto de casa existe um azevinho no monte, já com uns três ou quatros metros de altura e intacto, certamente porque não dá bolas, se desse, estou em crer que não seria a lei que o impediria de ser mutilado, por outro lado também é verdade que está num sítio muito pouco visível e pouca gente passará lá. 

Azevinho silvestre

Do lado direito desta estrada em terra batida que serve unicamente de acesso à proteção civil e aos  montes da encosta eucaliptada encontra-se o azevinho à sombra de sobreiros e carvalhos. 
Não tem um só tronco mas sim vários pequenos troncos


Azevinho com múltiplos troncos
e mais interessante, não vi qualquer sinal de nenhuma praga. O azevinho, e falo pelo exemplo dos meus, é muito propenso à conchonilha e aos pulgões que atacam os rebentos novos, e muitas vezes em parque ou jardins, muitas vezes vejo azevinhos com fumagina, com as folhas completamente pretas. Pois este azevinho silvestre em plena natureza, está viçoso e com as folhas bem verdes e brilhantes.  



Mas o problema foi esse, dizimaram os azevinhos que dão as bolas vermelhas, que são os frutos que contêm as sementes que irão originar novas plantas. Ora matando as fêmeas - a explicação para uns darem bolas e outros não, é simples, na natureza a planta pode ser macho ou fêmea e só as fêmeas dão os frutos - e matando as fêmeas ou cortando todos os ramos com as bolinhas vermelhas, acaba-se com a propagação. Seria o mesmo que se cortar os testículos a todos os bebés que nasçam! quando o último homem morresse a espécie estaria extinta passados uns anos quando a última mulher morresse também.

Ainda por cima estamos a falar de uma semente que pode demorar vários anos a germinar. Cada baga contém três ou quatro sementes. Desde o momento em que a baga cai ao chão e a semente germina muito tempo se passará. Daí que se forem recolhidas sementes ainda verdes e colocadas a germinar nada acontecerá. Na imagem abaixo temos as famosas bolinhas vermelhas, e as sementes propriamente ditas, mas pelo menos já um ano depois de terem caído ao chão e estão então agora preparadas para germinar. 


Bagas e sementes de azevinho

Entretanto de há uns quatro ou cinco anos para cá, aos poucos começaram a nascer azevinhos um pouco por todo o meu terreno. São muitas as sementes que caem ao chão, muitas bagas comidas pelos pássaros e não é de estranhar que a maior quantidade de plantas nasça debaixo da copa das árvores, por um lado porque é onde as sementes encontram um solo mais solto e fértil, mas por outro, porque é local de refúgio da passarada que de inverno se alimenta das bagas. 

Com alguma paciência transplanto umas largas dezenas das pequenas plantinhas para vasos ou outros recipientes, afinal estamos a falar de azevinhos espontâneos provenientes de uma espécie autóctone cá da terra. Até no terreno baldio vizinho já nasceem azevinhos, não sei se sementes levadas pelo ventos ou pássaros, ou de sementes que eu mesmo atirei para lá.



E se a semente demora anos a germinar, a verdade é que depois de termos uma pequena planta com cinco centímetros, ela cresce razoavelmente bem. Basta ver a diferença como, em ano e meio, estes azevinhos trigémeos cresceram rápido.

Azevinho com ano e meio de diferença

Aproveitei e experimentei também pegar num azevinho - escolhi o que tinha as raízes mais interessantes - e tentei fazer dele um bonsai. Acho que fui demasiado ansioso, a árvore deveria ter estado mais tempo a engrossar e adquiri mais alguma forma antes de a transplantar para um vaso de bonsai, mas pronto, agora às poucos irei tentando reduzir-lhe o tamanho das folhas, e dar-lhe um formato mais interessante com melhores proporções. Não é fácil, ainda estou muito verde neste arte, afinal esta foi a primeira verdadeira experiência feita por mim, mas aos poucos pode ser que lhe apanhe o jeito.  


Evolução de azevinho transformado em bonsai

# Azevinho - Ilex aquifolium "Myrtifolia"

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A morte veste-se de cor-de-rosa

A partir do momento que plantei um pequeno canteiro com algumas aromáticas no jardim, o número de objetos voadores, mais ou menos identificados por mim, como que disparou sobre as suas flores. 
Mas o que me começou a chamar a atenção foi uma pequena aranha cor-de-rosa que se fixava imóvel sobre as flores. Aranhas cor-de-rosa? 

Por norma gosto de observar o comportamento dos bichos - vício perfeitamente normal em qualquer bucólico anónimo que se preze! - olhar de perto as plantas, até para ver se está tudo bem, porque do nada pode aparecer bicharada prejudicial como os pulgões que num ápice são aos milhares.

Descobrir um novo bicharoco pode ser fascinante, mas mais ainda, é tentar investigar para chegar à sua identidade pelo seu aspeto e comportamento. Estava então na presença de uma aranha cor-de-rosa, que ficava imóvel nas flores e sem que fosse visível qualquer teia por perto. Cheguei depois, com a ajuda da internet, à identidade deste temível predador conhecido por aranha-caranguejo-das-flores (Misumena vatia). 

É conhecida precisamente por atacar as suas presas por emboscada,  mas sem recurso a teias, esconde-se atrás das flores, com um detalhe, ela muda de cor consoante as cores das flores, para melhor se confundir, e mais facilmente atacar um qualquer inseto voador que não se apercebe da sua presença e que voa para a morte. 







segunda-feira, 22 de julho de 2013

Tronco velho vira novo expositor novo para as tillandsias

Gosto de troncos velhos, apodrecidos pelo tempo, troncos queimados e raízes de árvores arrancadas. 

Esta primavera, numa das minhas caminhadas perto de casa, fui ter até antigo campo que outrora foi de cultivo e certamente bastante produtivo, até porque, mesmo naquele naquele pico de calor tórrido, passa lá um curso de água abundante, mas agora, e à semelhança do que passa na maioria do país está ao abandono. 
O que antes era uma vinha, era agora um amontoado de lenha, mas ainda encontrei duas ou três videiras parcialmente arrancadas no solo. Uma delas já muito envelhecida tinha umas cavidades já comidas tempo e resolvi arrancá-la e ao passar os olhos achei que aquele tronco ainda me daria jeito para eu fazer qualquer coisa com ele.


O tronco ainda reservava uma surpresa. Dentro de uma das cavidades encontrei várias sementes de carvalho a nascer! Impressionante, primeiro como lá foram parar, depois, como mesmo sem terra conseguiram encontrar as condições necessárias para germinar. 



Entretanto à coisa de um ano que tinha uma tillandsia que um tio meu me tinha oferecido, isto porque em visita lá a casa dele a vi num muro, pendurada num arame e fui vê-la de perto. "Não lhe faço nada, só quando rego o jardim atiro-lhe com um bocado de água para cima e ela está sempre a crescer e dá flor" disse-me. 

Estou em crer que a primeira vez que vi plantas aéreas foi há uns anos atrás na feira medieval de Santa Maria da Feira. Numa tendinha perto da loja oficial tinha estava lá uma senhora a vender plantas, acho até que era a única no recinto. Vendia vários tipos de plantas, lembro-me de ter plantas aromáticas e tinha as pequenas plantas aéreas penduradas e expostas em cortiça. Achei aquilo interessantíssimo.  - Plantas que não precisam nem de terra nem de água para viver e alimentam-se simplesmente de ar? Uau! Se isto não é o ser vivo mais evoluído deve lá andar perto! E foi então no ano passado que por insistência do meu tio lá trouxe uma planta para casa, isto depois de ele ter arrancado metade da planta dele. E acabei por a pendurar lá em casa mas num sítio temporário. 

Tinha agora este tronco e pareceu-me que poderia ser o expositor ideal para colocar as duas espécies que tinha, porque entretanto ofereceram uma à minha mãe, que também arrancou uma pequena planta para me dar, tal qual eu tinha feito com a planta que o meu tio me havia dado, para lhe dar a ela!
Há vários tipos de expositores para este tipo de plantas, encontram-se uns globos de vidro e outras coisas que acho demasiado artificiais. Estas plantas crescem naturalmente fixadas em outras plantas ou árvores ou até rochas, logo não acho que colocar uma planta dentro de um vidro seja muito coerente, estético ou apropriado, mas é, como tudo, uma questão de gosto. 

Cortei então o tronco que tinha, ficando com a parte que me interessava e tratei de fixar as plantas. Entretanto passei por uma grande superfície que tinha alguma variedade de espécies e como estavam baratinhas trouxe mais uma espécie diferente! 

Mais interessante ainda, foi ter cortado o tronco num nó que permite pendurá-lo em qualquer sítio sem auxílio de qualquer que o prenda! Ele fica sempre bem seguro, "firme e hirto" como dizia o outro!







Entretanto no final de maio a primeira plantinha, a que o meu tio me havia dado, presenteou-me com a sua linda flor:






sexta-feira, 19 de julho de 2013

Escolher as sebes

Quando há uns anos comecei a restauração da minha casa a minha primeira preocupação foi desde logo avançar com a construção de um muro a toda a volta do terreno e a colocação de um portão. A casa tinha unicamente uma fiada de blocos a delimitar o terreno nem sequer tinha muros nem portão, mas toda a gente na aldeia sabia muito bem quem eram os donos, afinal eu continua a viver na mesma aldeia simplesmente agora a setecentos metros dali.
Apesar disso eu já sabia que faziam do terreno maninho e não tinham qualquer problema de o atravessar como atalho para ir ao monte. Também via que as laranjas e tangerinas das árvores que tinha desapareciam rapidamente, não sei, certamente seria alguma praga que pegava nas árvores, uma praga daquelas com dois braços com cinco dedos em cada mão!

Era uma situação que me incomodava mas que tolerava. A água transbordou quando chego lá certo dia e dou de caras com as ovelhas do vizinho no meu terreno. Já certa vez tinham-me comido um limoeiro que tinha plantado, agora, ao ver aquele cenário, decidi de imediato que tinha de vedar o terreno. Optei por fazer um muro com cerca de um metro de altura, e depois colocar rede em cima. Não gosto de muros altos, é muito corrente em Portugal, mas eu não gosto porque me faz lembrar uma cadeia.

Pelo contrário, até acho muito interessante como, em muitos países como que abolem os muros e as vedações, e as entradas das casas mais não são que são amplos espaços totalmente abertos e integrados uns nos outros, dando uma enorme sensação de liberdade. Curioso também como associamos os muros a manter uma certa segurança, e depois num desses países onde eles não existem, nos Estados Unidos, encontramos um país conhecido precisamente conhecido pela sua elevada taxa de criminalidade.

Vejamos alguns exemplos em vários países, da quase ausência de muros e vedações recolhidos aleatoriamente do Google Maps:

Ontario/Canada

Mineota/E.U.A.

Inglaterra
Suécia

E agora alguns exemplos em países latinos:

França
Cracóvia/Roménia

Lazio/Itália

Saragoça/Espanha

No meu entender, e posso estar perfeitamente errado, mas parece-me que isto tem muito a ver com a cultura dos povos, e delimitar e colocar enormes muros, tem muito a ver com o pensamento latino do querer afirmar o que "é meu".

Por isso mesmo, por achar que enormes muros à frente de uma casa a fazem parecer uma cadeia é que fiz uns muros baixos, com cerca de um metro, e depois coloquei rede já a pensar em plantar posteriormente arbustos que fizessem uma bonita sebe. 

As sebes podem ter muitas funções e as plantas são escolhidas mediante aquilo que se pretende. Servem para dar privacidade, de corta-ventos, defender de animais e pessoas (neste caso escolhem-se plantas que picam bastante), produzir frutos, dar flores, etc.
No meu caso tinha principalmente a ver com a questão da privacidade. Equacionei várias opções e fui observando também o que era usado aqui na zona onde vivo. E isto é importante para sabermos se determinada espécie se dá bem ou não. Não adianta escolher determinada planta que se viu muito bonita no Algarve se vivemos no norte, com solos e micro-climas diferentes.

A minha escolha acabou por recair na Escallonia rubra, um arbusto que se dá bem praticamente em todos os tipos de solo e climas, resistente à seca, tem umas folhas de um verde brilhante quase como se tivessem sido envernizadas, e ainda por cima temos o bónus de ter umas flores avermelhadas no verão.

Escallonia rubra

Entretanto nos dois últimos anos as escallonias estão com um problema, que pelo que andei a ler, serão fungos, que resulta numa queda massiva das folha, que faz com que o efeito principal da sebe, a privacidade, se perca. Já iniciei um tratamento, mas sobre isso dedicarei-me aqui noutro artigo. 

Numa outra zona, num pequeno espaço em que o passeio está até ao muro e tem ainda um espaço com um lago de tartarugas, plantei umas heras para cobrir esse espaço e confesso que gostei do resultado final e ainda mais por não darem quase nenhuma manutenção. O único senão é mesmo o crescimento lento, mas depois compensa a espera. Outra vantagem é não ocuparem mais de meio metro de largura como a maioria dos arburtos. Mas tenho observado noutros sítios por onde passo, que elas engrossam bastante e ficam com as folhas muito largas e com um aspeto envelhecido. Mas penso que se as for aparando elas manterão sempre um aspeto mais viçoso, mas isso irei ver com o passar do tempo. Quatro anos depois é este o resultado:

Hera

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ferramentas pouco ortodoxas

Hoje em dia o mercado da jardinagem oferece-nos um vastíssimo leque de opções para metermos mão à obra no jardim. Seja para preparar a terra, plantar, sachar, podar, regar, ou para proteção individual, seja qual for a tarefa, existirá sempre uma grande oferta de ferramentas, das mais brilhantes, às mais coloridas, dos materiais mais nobres até às ferramentas mais baratas.

Por muitas vezes tenho parado em frente a uma prateleira de ferramentas de jardim, seja num horto, numa grande superfície da especialidade ou até num hipermercado. Primeiro quase que fico hipnotizado, pego nas ferramentas, gosto de as acariciar e sentir na mão, comparo os preços, mas rapidamente as volto a colocar no sítio e faço sempre a mesma pergunta: - "mas tu vais precisar mesmo disso"? 

Não nego que algumas daquelas ferramentas darão algum jeito, mas eu sou um consumidor difícil, e a este respeito nem se trata de as ferramentas serem caríssimas e depois não as utilizar, pois estamos a falar de pequenos valores. Tem mais a ver com o facto de comprar por impulso, para depois acabar por não lhe dar grande uso e ser mais uma ferramenta que se comprou para ter e ficar a ocupar espaço. 
É como nos saldos, não é por a roupa estar a metade do preço que vou trazer um camião de roupa que nunca vou vestir certo?! Já tinha dito que era um consumidor difícil? 

Mas quais as ferramentas que eu uso? É quase embaraço ou patético admito, mas entre algumas das  ferramentas que mais uso no jardim encontram-se, um martelo de calceiro, uma chave de bocas,  uma faca de cozinha velha e uma velha tesoura de costura!


1. O martelo de calceteiro. 
Esta ferramenta era do meu avô paterno (que não conheci) que depois ficou com o meu pai, e está agora na minha posse. Serve-me para cavar, plantar, o que for preciso, mas inclusive já assentei paralelos no jardim com ele, cumprindo assim no fundo a sua verdadeira função! 
2. Faca velha de cozinha.
Está sempre por perto, dá-me sempre jeito!
3. Chave de fendas que se transformou em utensílio para arrancar ervas! E de tanto uso que teve em vez de uma ponta espalmada está que parece um punção!
4. Tesoura velha, que antigamente foi usada na costura pela minha mãe
5. Tesoura da poda.
Velha tesoura da poda que também era do meu pai, e de tanto uso precisou levar o parafuso central e que numa loja da especialidade não tiveram problemas em cobrar-me 4€ pelo parafuso com a quadra. Bem o parafuso era dourado - seria de ouro? É verdade que visitei várias lojas de ferragens e nenhuma tinha! mas quer dizer, com 4€ já se compra uma nova assim das mais foleiras! Mas pronto, prolonguei o uso de mais uma ferramenta que tem o seu valor sentimental para mim e isso também não tem preço. 
6. Tesoura corta-relva
Uso-a tanto para aparar relva em sítios de difícil acesso como aparar as sebes
7. "Arrancador de inço"
Esta ferramenta comprei-a há uns dias! Milagre! Estava num hipermercado e passei os olhos, peguei nela e como há semanas andei a plantar relva (gramínea) achei que me iria dar bastante jeito para arrancar as daninhas que rapidamente nascem quando se revolve a terra. Custou 2€ e uns cêntimos, mas fiquei satisfeito. Foi uma boa compra, saiu melhor do que pensava!

Estas são as ferramentas mais usadas para a maioria dos trabalhos que faço, e que diga-se têm servido perfeitamente. Como mero aprendiz, estou em crer que, apesar de tudo, a ferramenta mais importante do jardineiro serão mesmo as suas mãos. 

domingo, 14 de julho de 2013

Atraso de vida

Viver no campo numa vivenda tem de facto inequívocas vantagens. Além de não sentir que vivo permanentemente numa cadeia como num qualquer apartamento na cidade, de não ter de partilhar a habitação com várias pessoas que não conheço e ter de cumprir certas regras, como a questão do ruído, e não estar à vontade para fazer toda uma série de coisas, temos ainda outra qualidade de vida no campo. Mas por outro lado há coisas que pela sua especificidade só podem mesmo acontecer nos meios rurais.

Hoje ao fim da tarde peguei na cadela dos meus pais, a Pandora, e fui caminhar calmamente pelo monte fazer um trilho já habitual. Quando fazia o percurso de volta, e ainda estaria a bem mais de quinhentos metros de casa, comecei a sentir um cheiro horrível a plástico queimado, mas não consegui identificar qualquer sinal de fumo precisamente porque estava longe, e o céu ainda por cima hoje encontrava-se encoberto. Já a chegar a casa dos meus pais, o cheiro era ainda mais intenso, e perguntei de imediato à minha mãe se alguém andava a queimar plásticos. De imediato me responde que era o vizinho, e que inclusive teve de ir fechar as janelas porque o cheiro era insuportável.

É verdade que eu "ainda sou do tempo em que" não havia recolha do lixo. É verdade. Hoje em dia parece algo banal ter um contentor do lixo à porta de casa, existem os vidrões e ecopontos para tudo e mais alguma coisa,  mas quando era criança haviam as lixeiras a céu aberto, e era habitual queimar-se o lixo. Mas as coisas felizmente que mudaram!
Não cabe na cabeça de ninguém, nos dias de hoje, alguém que tem ao fundo da rua um contentor do lixo se ponha a queimar plásticos em casa e a libertar substâncias tóxicas para si e para a sua família, mas também para toda a vizinhança e para o meio ambiente.

Mas infelizmente este vizinho não é caso único. Eu chego à conclusão que as pessoas, além de irresponsáveis e ignorantes adoram é fazer  fogueiras, e qualquer desculpa é boa para as fazer, fogueiras já agora diga-se, que por mero acaso, nesta altura do verão até são proibidas!
A propósito de ignorância, também ainda não percebi o porquê de, tendo o município um serviço (ainda) gratuito de recolha de eletrodomésticos e outros objetos de grandes dimensões, é possível encontrar pelo monte televisores e computadores, frigoríficos, etc. - Qual é mais fácil, ligar para a câmara municipal e esperar tranquilamente que o venham a casa carregar, onde será encaminhado para a reciclagem,  ou pegar num eletrodoméstico geralmente pesado, carregar com ele e ir deixá-lo num qualquer terreno baldio?

É nestas pequenas coisas que se percebe o porquê de sermos um país atrasadinho, verdadeiramente terceiro-mundista.

sábado, 13 de julho de 2013

Contornos da dependência

Cresci no campo, no meio das árvores, do canto dos pássaros e dos trabalhos agrícolas para consumo próprio. Aprendi os nomes dos bichos da terra, não pelos livros  mas por conviver com eles de perto.
Ia a pé para a escola primária, sozinho claro, quanto muito tendo por companhia a lua, e aprendi a reconhecer sapos, salamandras, cobras, licranços e libelinhas.
Lembro-me de ser criança e admirar as grandes árvores, um enorme pinheiro-manso que existia a meio caminho entre a casa e a escola, ou de um enorme carvalho que havia perto de casa, onde mais tarde, já em adulto, ainda cheguei a fazer um piquenique.
Mas apesar de todo este ambiente favorável, não creio que o meio onde nascemos seja primordial na influência de nos deixar o bichinho pelo gosto da natureza. Até porque a meio da adolescência fui estudar para a cidade e poderia rapidamente tornar-me num urbano-depressivo. Mas não, apesar da vida na cidade ter os seus atrativos e seduzir bastante mas nunca deixei de preferir a qualidade de vida no campo.

Entretanto nos últimos anos o gosto tornou-se vício e isso vê-se na quantidade de diferentes plantas que tenho vindo a juntar nas traseiras da minha casa. Chego mesmo a trazer plantas que encontro em lixeiras, ou abandonadas em qualquer sítio se gosto delas ou acho que têm potencial; recolho até baldes ou bidões que encontro para servirem de vaso, e sei perfeitamente que isto pode ser visto pelos outros como sinal de insanidade, mas verdade seja dita, também nunca me preocupei minimamente com o que pensam de mim! Se fôssemos a viver em função do que os outros gostam bem nunca faríamos nada do que nós gostamos.

Comecei também a dedicar-me horas a fio ao terreno de minha casa para que um dia se possa parecer com um jardim. Aos poucos comecei a modificar as coisas, não é fácil, por um lado porque é como tentar pintar uma tela em branco sem ter sido nunca pintor, por outro, fazer tantas coisas para uma só pessoa. Mas o trabalho também não é cego e o que é preciso é meter mãos à obra, e quem me conhece sabe que eu sou muito persistente, obsessivo quase, e aos poucos o trabalho vai aparecendo feito, e é depois com enorme satisfação, e algum orgulho por vezes, quando vejo o meu trabalho começar a dar frutos.

Em busca do nome perdido

Não sei bem há já quanto tempo que cheguei à conclusão, muito até por incentivo de algumas pessoas, que poderia ser interessante ir relatando, quer as minhas aventuras como aprendiz de jardineiro, mas também relatar aquilo que no fundo é a minha natureza nesse sentido duplo, por um lado da minha natureza como pessoa  que se revela nas pequenas coisas que gosto, e por outro, da minha interação com ela, a natureza, nas suas diferentes formas, e ir escrevendo sobre isso em formato blogue.

A ideia seduziu-me mas fui adiando, até que comecei a pensar mais seriamente sobre isso, mas entretanto não me surgia nome nenhum. E é verdade que eu prendo-me com estes pequenos pormenores, mas também um nome é algo importante, no fundo é a marca e identidade de tudo. Mas nada surgia que me satisfizesse minimamente. O tempo foi passando, e acho que já se passaram mesmo alguns anos, até que este ano acabei mesmo por começar um primeiro blogue antes deste, coisa parva que surgiu do nada, e calhar é mesmo assim que às vezes devemos começar, impulsivamente.

Até que, e finalmente, há já uns dias que tinha decidido que seria este mesmo nome, agora não havia volta a dar, agora estava mesmo decidido! mas comecei a sentir em mim uma certa inércia, uma espécie de medo que não vá ser capaz de fazer uma coisa minimamente interessante...
Ainda não sei bem o que sairá daqui, mas já sei pelo menos o que não quero no que o blogue seja. Não sou especialista de nada do que vou escrever, não partilharei fichas descritivas ou informações que qualquer pessoa encontrar em qualquer sítio da Internet, é possível até que aqui coloque coisas erradas sem saber. Mas escreverei sim mas sobre as minhas experiências, as minhas aventuras no jardim, as minhas dúvidas e as minhas descobertas, deixando aqui a cada nova mensagem como uma espécie de um novo cromo da natureza que se colou para ir enchendo a caderneta.