sábado, 31 de agosto de 2019

Propagação de Pinheiro-manso

Recentemente passei a treinar num antiga escola primária que entretanto foi encerrada por causa de não cumprir um limite mínimo de alunos. E uma das primeiras coisas que me chamou logo a atenção na escola foi o pinheiro-manso centenário, mesmo ao lado da escola, que exibe boa envergadura.



E um dos meus colegas, sabendo da minha ligação à natureza, um destes dias guardou uma pinha que tinha caído, e quando esteve comigo entregou-ma ainda com os frutos intactos.

Aqui a norte é cada vez mais raro encontrar pinheiros-mansos. O pinheiro-manso era usado para lhe extraírem a resina, para ser usado na construção de móveis, na gastronomia (os pinhões têm alto valor) e até como planta medicinal. Mas entraram em declínio, não sei ao certo, mas estou em crer que, devido ao seu crescimento muito lento, bem mais lento que o pinheiro-bravo, que por sua vez é bem mais lento que o eucalipto, e certamente que isso explica o porquê da invasão do eucalipto pela indústria do papel.



Trouxe então a pinha de pinheiro-manso para casa e comecei a retirar todos os seus valiosíssimo frutos que lhe estavam agarrados. Contei cerca de cinquenta. Entretanto o que fazer? Não!, não os comi! Guardei-os e entretanto trouxe do trabalho umas quantas garrafas plásticas de litro e meio, e fiz uma sementeira! Claro que não os vou poder plantar no meu terreno, mas isso fica para depois. Se germinarem vinte ou trinta (não faço ideia qual é a taxa de germinação) são vinte ou trinta futuras árvores, pois posso doá-las ou plantá-las em alguns terrenos baldios.

E é nisto que as pessoas e os governos e as câmaras municipais não pensam. O pinhal de Leiria foi vítima de um crime e ardeu completamente. Bem o vi este verão quando por lá passei para ir à praia. No entanto o que é que está a ser feito? Se cada português, todos os anos enterrasse cinquenta sementes (que não é nada!) ao fim de um ano seriam cinquenta milhões de novas árvores que iriam crescem. Mas alguém faz alguma coisa? Que eu saiba, muito pouco. E depois os jovens fazem greve pelo clima, culpam os governos, mas afinal o que é que eles fazem pelo planeta? Nada. É pena, porque o futuro é dos jovens, não de nós que já temos alguns cabelos brancos.

E o resultado para já é este, quatorze sementes de pinheiro-manso enfiadas na terra. Veremos se e quando começarão a germinar.


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Por Que é Que nos Últimos Três Meses Morreram 500 Milhões de Abelhas no Brasil?

Enquanto milhares de fogos avançam pela floresta Amazónica, o Brasil enfrenta uma tragédia mais silenciosa nas quintas agrícolas do país: o silêncio das colmeias vazias. No inicio do ano os apicultores relataram ter perdido mais de 500 Milhões de abelhas em apenas três meses. A velocidade e a escala das mortes lembram o colapso das colmeias devido a uma doença que começou a dizimar as abelhas na América do Norte e na Europa em 2006.

Fotografia Boston Globe/Boston

Mas os sintomas são notoriamente diferentes. Enquanto que o colapso das colmeias fez com que as as abelhas operárias abandonassem as suas colmeias e desaparecessem, no Brasil as abelhas estão a cair mortas no local. Mas no caso Brasil os especialistas apontam para uma causa abrangente: os pesticidas

Há um paralelo no Brasil entre a crise da Amazónia e a morte das abelhas. O afrouxamento na exigência do cumprimento das regras florestais levou a mais incêndios, assim como o afrouxamento das restrições sobre os pesticidas expôs as abelhas a mais dose letais. Cerca de trezentos novos produtos foram rapidamente aprovados mesmo que fossem estritamente proibidos e regulamentados noutros países. E assim como a queima de uma floresta tropical afeta muito mais do que as árvores, o mesmo se passa com a perda de abelhas que ultrapassa as paredes da colmeia. 

Dependendo de como analisamos os números, as culturas que são polinizadas por abelhas, são responsáveis por até cerca de um terço dos alimentos da dieta humana. 

Além da agricultura, os cientistas só conseguem adivinhar a escala do problema, mas a situação gera uma pergunta preocupante. Se as colónias nutridas e cuidadas por apicultores profissionais estãoa morrer, qual será então o destino das abelhas na natureza?

Quando pensamos em abelhas, ou mentes voltam-se imediatamente para a espécie que conhecemos melhor - a abelha doméstica. Mas as nossas paisagens também são abundantes em abelhas selvagens e as estimativas colocam o número total de espécies de abelhas acima de 20.000, mais do que todas as aves e mamíferos do mundo juntos. Muitos deles também são polinizadores essenciais, tanto de culturas quanto de plantas nativas no coração dos ecossistemas, desde florestas tropicais até prados de montanha. E embora a maioria das abelhas selvagens nunca tenha sido estudada em detalhes, sabemos que elas são vulneráveis ​​às mesmas ameaças químicas que as abelhas. Então, sabemos que quando abelha doméstica começa a morrer o mesmo se passará na natureza.

Os desafios enfrentados pelas abelhas do Brasil, assim como as suas florestas, resumem -se em parte a más políticas. Mas isso não deixa ninguém louco, porque numa democracia a política do governo equivale a uma expressão de vontade coletiva. E o Brasil dificilmente é o único país democrático em que a proteção ambiental está desprotegida. Movimentos recentes nos Estados Unidos reduziram as áreas selvagens e enfraqueceram a Lei de Espécies Ameaçadas, sem mencionar a promoção do uso de pesticidas nas Reservas Nacionais de Vida Selvagem e a reaprovação do sulfoxaflor, um produto proibido em 2015 especificamente devido à sua toxicidade para as abelhas.



Sim, devemos exigir mais dos nossos líderes políticos, mas também devemos exigir melhor de nós mesmos - nas urnas e para além disso. Há um aumento exponencial na procura por alimentos orgânicos, refletindo uma tendência global que deverá dobrar as vendas e a produção em menos de cinco anos. É um lembrete de que a forma como compramos alimentos afeta diretamente a maneira como os cultivamos e os métodos orgânicos - mesmo que entremeados por campos de cultivo convencionais - suportam uma diversidade muito maior de polinizadores. Mas, para ajudar as abelhas mais diretamente (ou quando os produtos orgânicos não são acessíveis), é possível dar passos ainda mais próximos de casa através do simples ato de plantar flores. Fontes de alimento (néctar e pólen) livres de pesticidas podem aumentar a abundância de abelhas em qualquer habitat, desde janelas urbanas a parques da cidade, jardins de quintal e até nas margens de estradas.

"A Silent Spring", de Rachel Carson, deu ao movimento ambientalista a sua metáfora mais duradoura, um mundo sem canto de pássaros. Mas ela também alertou sobre as flores sem o zumbido das abelhas, e há paisagens em que essa visão já se está a aproximar demais da verdade. A boa notícia é que o declínio das abelhas, tal como o desmatamento, são tragédias evitáveis. O primeiro passo é perceber. Agora é hora de agir.

Tradução livre do artigo Why have 500m bees died in Brazil in the past three months? de Thor Hanson no The Guardian.

domingo, 25 de agosto de 2019

Borboletas (6) - Argynnis pandora?

Pouco depois de ter fotografado uma Vanessa cardui no festival de jardins de Alllariz, foi a vez de, também numa budleia, ter desta feita fotografado, e pela primeira vez, esta linda borboleta:




Estou em crer que se trata de uma Argynnis pandora (Borboleta-cardinal) mas sem certeza

Graptopetalum paraguayense: Evolução de uma Suculenta ao Longo dos Anos

Enquanto remexia num cartão de memória antigo que estava num telemóvel, deparei-me com uma fotografia de 2013 de uma das suculentas mais bonitas que está em casa dos meus pais (apesar de ter sido eu que arranjei a planta).



Seis anos volvidos e, apesar da minha mãe há uns anos ter feito o disparate de cortar vários canos para oferecer a umas pessoas de família que cá apareceram, a verdade é que a planta voltou recuperou espetacularmente.


Esta suculenta Graptopetalum paraguayense (que na internet vi que também designam de planta fantasma chamam de forma estas grandes rosetas de cor cinzenta, com folhas pontiagudas muito bonitas e, estando num vaso como o das fotografias, acaba por pender dando um efeito muito bonito. É preciso cuidado para não tocar nas folhas pois estas desprendem-se com imensa facilidade. Por outro lado tem a vantagem de, cada nova folha dar origem a uma nova planta.

Pelo fácil cultivo e até resistência creio que estará indicada para os iniciantes no mundo das suculentas. É preciso no entanto ter cuidado com o granizo, visto que pequenas pedras de gelo acabam por deixar marcar muito feias. De resto é extremamente fácil de cuidar.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

10º Festival Internacional de Jardins de Allariz - Jardins de Cinema


Já mesmo no fim das férias de Agosto fiz um périplo de dois dias pelos Festivais de Jardins da Península Ibérica com algumas visitas a viveiros e hortos pelo meio. Revisitei o festival de jardins de Ponte de Lima, e visitei pela segunda vez o festival de jardins de Allariz (em Orense na Galiza) o único festival de jardins de Espanha, e que tem a vantagem de ficar só a cerca de hora e meia de carro do festival português. 

Curiosamente este ano comemora-se a décima edição do festival, que nasceu em 2010, nas margens do rio Arnoia, um local de grande valor ambiental e que por isso mesmo foi declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO. 

Os quarenta mil metros quadrados do festival alongam-se paralelamente entre o rio e a estrada, e como as árvores têm poucos anos ainda não conseguem ocultar as vivendas do outro lado da rua. 
É um espaço bastante comprido que contempla doze jardins efémeros: dez jardins (espanhóis e internacionais) a concurso, um jardim de exposição (por norma de cariz infantil) e um espaço que se mantém por mais um ano, para contemplar (à semelhança do que acontece em Ponte de Lima) o jardim vencedor do ano anterior. 


Como é lógico todos os anos há um tema diferente que os candidatos devem interpretar à sua maneira, e o tema deste ano é "Jardins de Cinema". Venham então comigo fazer uma visita guiada ao festival de jardins de Allariz deste ano.


1 - DESCALÇOS NO JARDIM (ITÁLIA)

O jardim proposto estabelece uma analogia com a ação criativa de fazer filmes. Tem sequências, narrativas e atores. A sequência no jardim consiste em três cenas temáticas únicas (o deserto, a floresta, a pradaria). A narrativa é o caminho, linear e torto, que mantém a sequência em conjunto. Os atores são os visitantes, improvisando a vida no jardim. O propósito do design é construir experiência e resposta emocional através da exploração e surpresa...




 2 - O JARDIM DO ZOOTROPO (ESPANHA E CHILE)

O cinema é uma forma de expressão artística que se baseia tecnicamente na geração de movimentos a partir de imagens estáticas. Essa técnica se materializou em inúmeros objetos antes do cinema durante o século XIX. O zootropo é um mecanismo de pré-filme que consistia em um cilindro com fendas verticais, no qual, ao girar, o observador pode testemunhar uma cena em movimento a partir de uma sequência de imagens.



O jardim zootropo representa dentro da sequência ecológica da formação florestal da floresta galega. A água como parte fundamental da sequência nos acompanha no caminho até o jardim até entrarmos nela. Neste passeio o espectador é convidado a interagir com o zootropo procurando as rachaduras e observando através delas...




3 - CHIM CHIM "MARY POPPINS" (EUA)



Enquanto alguns filmes constroem cenas em diferentes jardins, exploramos a maneira oposta como um jardim pode ser reconstruído, inspirado em um filme. Esta proposta, " Chim Chimney " é um jardim temático de cinema que convida as pessoas para o mundo da fantasia, recriando e reinterpretando a atmosfera de um filme. Especificamente inspirada no filme, Mary Poppins (1964), "Chim Chimney", recria a cena mágica e icónica de Mary Poppins cantando "ChimChimChree" com Burt, o debochado, no telhado com seu guarda-chuva voador.





4 - CAVALGANDO ALLARIZ



O jardim reflete a história de Allariz do sexto ao vigésimo séculos, coberto por 50 metros de tapete. É feito através de 5 cenas inspiradas em 5 momentos...





  5 - O JARDIM PROIBIDO (PORTUGAL) JARDIM VENCEDOR 2018


Proibido é uma palavra que expressa algo que não é autorizado ou permitido. É a palavra que escolhemos para descrever nosso jardim. Depois do pecado de Adão e Eva no Éden, todos sentirão que o fruto proibido é o mais desejado.







6 - GALLEWOOD (GALIZA, R. DOMINICANA E ARGENTINA)

... Em suma, este projeto é um trabalho de campo sobre as relações pessoais com o espaço que nos rodeia através do cinema. Essas relações são evidentes no que cada um escolhe para seu próprio filme.




7 - LILLE VILLE (GALIZA)

LILLE \ VILLE é uma proposta que visa reunir os dois principais conceitos da 10ª edição do Festival Internacional de Jardins de Allariz, "Cinema Gardens". Para fazer isso, um novo elemento é introduzido, o cenário arquitectónico e uma referência de filme, DOGVILLE.








8 - AS BORBOLETAS DA MEMÓRIA (ALLARIZ)

"A linguagem das borboletas", uma história de Manuel Rivas, juntamente com o filme homónimo de José Luis Cuerda, filmado na cidade de Allariz, foi a inspiração para este jardim da escola (...) 
Esperamos que essas "borboletas da memória" sejam um canto da lembrança do passado e uma reivindicação de um presente lúdico, vital, integrador, harmonioso e livre, como brincadeiras de crianças, como o vôo das borboletas.





9 - O CINEMA, COMO SEMPRE (ESPANHA)

...  No interior, o jardim, como o cinema, é um espaço isolado que nos orienta a olhar para o seu ponto focal: a tela, cuja observação é o objetivo final de qualquer sala, com seus bancos e poltronas voltados para ela. E, assim como uma mudança espacial na entrada é sugerida, o paradigma é repetido no verso, quando saímos da sala e voltamos para o mundo externo.





10 - SÊ O HERÓI DO TEU PRÓPRIO FILME (ÁUSTRIA & ALEMANHA)

Os seres humanos são responsáveis ​​por suas vidas e é por isso que eles criam seu próprio filme. Nenhuma vida é a mesma, mas tem capítulos semelhantes. O jardim é dividido em quatro zonas que representam a infância, a juventude, a idade adulta e a velhice. Infância: Lembre - se de Peter Pan quando ele toma um pequeno lanche e as crianças podem voar. Aqui está a citação: "Tudo o que é preciso é fé e confiança". Você deve ter fé para caminhar pelo corredor e você deve confiar no próximo capítulo. 

Juventude: No filme "Looking for Nemo", Dory diz: "Continue nadando, continue nadando, continue nadando, nadando, nadando". Suas escolhas não são fixas, há sempre uma solução. Entre na bagunça das ervas, tente de maneiras diferentes. Nada está errado.

Idade adulta: Na cena em que Daisy dança e tenta convencer Benjamin a passar a noite juntos, eles não o fazem e isso apóia o relacionamento deles. A citação: "Oportunidades marcam o curso de nossas vidas, mesmo aquelas que soltamos", nos dá a ideia de que tudo tem uma influência na vida de uma maneira boa ou ruim. Então, neste capítulo, tente o que você gosta. "Tire seus sapatos, sente-se um pouco ou pule." Velhice: O filme "The Bucket List" é sobre o significado da vida especial na cena em que os oficiais da Câmara se preocupam: "Você encontrou alegria em sua vida? Sua vida trouxe alegria aos outros? ”Olhe para o jardim e veja o que você experimentou. Tome seu tempo, tudo vai acabar aqui.

















11 - MÚSICA NO JARDIM DO ARPEL (ESPANHA) 

Jacques Tati é um dos grandes comediantes da sétima arte, herdeiro dos mestres do melhor cinema em quadradinhos silencioso. Em 1958, dirigiu e executou, "Mon Oncle", seu primeiro filme colorido, que recebeu, entre outros prémios, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

A casa da família Arpel é um legado das formas racionalistas do início do século XX. Criado por Jacques Tati, Pierre Etaix e Jacques Lagrange, ele dá-nos uma visão divertida do mundo moderno. O seu jardim é inspirado nos jardins do início do século XX: Lebisch, Lurçat, os irmãos Vera, Molnár, Mallet-Stevens e Guévrékian.

Hoje, jardim e habitação, despertam grande interesse e são fonte de inspiração para paisagistas, arquitetos, cineastas ... A herança de Tati no XXI é vista em criadores de todo o mundo: Gaudin, Nouvel, Koolhaas, Perrault, Meadows ..., que confessam o seu fascínio por este espaço. Eles são "loucos por Tati", assim como a equipa que apresenta essa proposta. É surpreendente que a botânica do jardim nunca tenha sido estudada...







12 - UM FLASHBACK NO CELULÓIDE (ESCÓCIA)

Um flashback no Celluloid é um multicinema ao ar livre onde se pode descobrir quatro grandes clássicos do cinema filmados em preto e branco. Convidamo-lo a percorrer caminhos sinuosos de celulóide, onde pode escolher diferentes maneiras de chegar às quatro salas de projeção ou dar uma olhada na cabine de projeção central e ver como o filme passa pelo projetor e leva os filmes para a tela grande.

Sabia que o filme de celulóide é feito de plantas? O celulóide foi inventado por volta de 1860, é um material plástico obtido a partir de cânfora e nitrato de celulose obtido a partir de plantas.






No final da visita (que tem um custo de 2€) podemos votar no nosso jardim favorito, bastando para isso utilizar um monitor tátil. E, já agora, o vosso jardim preferido é.....?

Toda a informação no site oficial aqui