domingo, 19 de outubro de 2025

Um Ponto Mais Verde e um Crânio

 Ao caminhar pelo relvado vejo um ponto mais verde escuro com uma coisinha branco no meio. Porquê?
A resposta eu já a sabia semanas antes ao ter reparado num roedor morto em cima do relvado mas como não o removi de imediato por ali ficou. 


Nada se Perde, Tudo se Transforma

A coisinha branca é o crânio do animal, único vestígio que restou do corpo do animal. O resto do corpo a terra e os bichos absorveram e o ponto mais verde é sinal de ter servido também para nutrir a relva. 

O crânio é de uma ratazana que, sabe-se lá porquê morreu no relvado. E o crânio foi a única coisa que restou com destaque para os dentinhos da frente. 


sexta-feira, 10 de outubro de 2025

A Linguagem das Flores na Cultura Chinesa

Publicado ontem, no Diário de Notícias:


"Da resiliência simbolizada pela ameixeira à riqueza e prosperidade da peónia, passando pela nobreza da orquídea e pela longevidade do crisântemo, cada flor é como uma janela que permite entrever a forma como os chineses encaram a natureza e a vida. Nesta edição, vamos conhecer quatro flores emblemáticas da China e o seu significado cultural.

  A ameixeira é originária da China e as suas flores são das mais célebres do país. No rigor do inverno, quando a maioria das plantas já se encontra murcha, a ameixeira continua a florescer. Os chineses apreciam profundamente esta qualidade natural de “não temer o frio”, atribuindo-lhe o valor simbólico de resiliência e coragem. Além disso, por ter cinco pétalas, é conhecida desde a dinastia Song (960–1279) como a “flor das cinco felicidades”, representando sorte, prosperidade, longevidade, alegria e riqueza. O motivo da ameixeira tornou-se naturalmente um dos padrões auspiciosos da tradição chinesa, sendo amplamente utilizado em porcelanas e vestuário. Durante as dinastias Ming e Qing (1368–1912), foi um dos mais populares, muitas vezes combinado com elementos como a pega-rabuda para formar composições de bom augúrio.

  A peónia, considerada a “rainha das flores”, também é originária da China, onde é cultivada há mais de 1500 anos. Inicialmente usada como planta medicinal, a sua raiz (designada por danpi) tem propriedades de redução da febre, alívio da dor e ação refrescante. O imperador Taizong da dinastia Tang (599–649) apreciava particularmente a exuberância da peónia e proclamou-a “flor nacional”. Naquela época, apenas a família imperial e a nobreza podiam cultivá-la, razão pela qual a peónia se foi tornando um símbolo de estatuto social e prosperidade, um significado que se mantém até hoje. Tal como o trevo-de-quatro-folhas simboliza a sorte nas culturas ocidentais, na China a peónia é também associada à boa sorte, pelo que muitas famílias chinesas gostam de colocar em casa quadros ou objetos decorativos com este motivo, acreditando que atraem boa fortuna.

  O crisântemo é a flor mais representativa do outono e apresenta uma grande diversidade de formas: alguns lembram pompons, outros parecem cascatas. É frequentemente utilizado para preparar chás medicinais, aos quais se atribui a capacidade de retardar o envelhecimento. No festival tradicional chinês Chongyang (nono dia do nono mês lunar, também conhecido como “Dia dos Idosos”), apreciar flores e beber vinho de crisântemo são costumes importantes. Por isso, esta flor está associada ao desejo de longevidade. O poeta Tao Yuanming (c.365–427), da dinastia Jin do Leste, tornou-se célebre pelo seu amor aos crisântemos, que assim ganharam o simbolismo do “eremita”, representando uma vida desprendida da fama e da riqueza, e uma conduta nobre e independente. No Ocidente, os crisântemos são muitas vezes usados em contextos de luto e, com o intercâmbio entre culturas, os chineses também passaram a utilizar o crisântemo para expressar a sua saudade e pesar pelos falecidos.

  Quanto à orquídea, na cultura chinesa, esta simboliza a elegância e a pureza. Crescendo geralmente em vales recônditos, as suas folhas são longas e finas, as suas pétalas pequenas e a sua fragrância duradoura, características que a tornam muito apreciada. Ao longo dos séculos, os literatos chineses nutriram grande admiração pela orquídea, considerando-a símbolo de virtude e modéstia, razão pela qual a designaram como “flor do homem virtuoso”, expressão que na tradição cultural chinesa se refere a um indivíduo com alta integridade moral. Era comum que os eruditos mantivessem orquídeas nos seus escritórios, não apenas para embelezar o espaço, mas também para, através da sua fragrância, serenarem o espírito e se inspirarem para a escrita. Atualmente os chineses continuam a gostar de cultivar orquídeas em casa.

  Muito apreciadas pelos chineses, a flor da ameixeira, a peónia, o crisântemo e a orquídea são belas, perfumadas e distintas entre si, constituindo ornamentos indispensáveis nas festividades tradicionais da China. As qualidades que representam – resiliência, prosperidade, nobreza e elegância – sempre foram estimadas pelos chineses, que têm retratado e enaltecido estas flores ao longo de milénios por meio da poesia, da pintura, da porcelana, do bordado e de outras formas artísticas e literárias. Hoje, destacam-se como importantes emblemas e símbolos da cultura chinesa.

  Para descobrir mais conteúdos fascinantes sobre a história e a cultura chinesas, siga a nossa página no Instagram e no Facebook em “Vislumbres da China”.

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Feto Seco na Palmeira

 Durante alguns dias de agosto frequentei o Parque de São Roque no Porto para lanchar e fazer tempo. Junto à casa, no tronco de uma palmeira, um feto totalmente seco encrostado na base cortada do que tinha sido outrora uma folha. 

Removi os cinco centímetros desse resto de folha e meti na mochila. Conseguiria eu devolvê-lo à vida de colocasse num vase e regasse bem? A resposta é: sim! Ele ali estava, seco, mas não morto, à espera da sua oportunidade, que agosto e o tórrido verão passasse e regressasse o tempo mais frio e a chuva. 



quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Jane Goodall 1934-2025

 Artigo sobre a morte de Jane Goodall publicado hoje no jornal britânico The Guardian:


O Instituto Jane Goodall anunciou que faleceu de causas naturais enquanto se encontrava na Califórnia, no âmbito de uma digressão de palestras nos EUA.


“As descobertas da Dra. Goodall como etóloga revolucionaram a ciência”, lê-se no comunicado. “Foi uma incansável defensora da proteção e restauração do nosso mundo natural.”

Goodall foi considerada a maior especialista mundial em chimpanzés, tendo a sua carreira durado mais de 60 anos. A sua investigação foi fundamental para provar as semelhanças entre o comportamento dos primatas e dos seres humanos.

Na semana passada esteve em palco em Nova Iorque, antes de participar num podcast do Wall Street Journal dois dias depois. Amanhã deveria estar presente num evento em Los Angeles dedicado à sua vida e carreira, e na próxima semana tinha outra participação agendada em Washington DC.

Homenagens de todo o mundo chegaram de organizações de conservação e defesa dos direitos dos animais. As Nações Unidas elogiaram a forma como “trabalhou incansavelmente pelo nosso planeta e por todos os seus habitantes, deixando um legado extraordinário para a humanidade e para a natureza”.

Nascida em Londres em 1934, Goodall disse que a sua paixão pelos animais começou com a oferta, pelo pai, de um brinquedo em forma de chimpanzé de peluche. O interesse cresceu à medida que se mergulhava em livros sobre Tarzan e o Dr. Dolittle.

Após terminar a escola, deixou os seus sonhos de lado por não ter meios para frequentar a universidade. Trabalhou como secretária e numa produtora de cinema até que um convite de uma amiga para visitar o Quénia lhe pôs a selva – e os seus habitantes – ao alcance.

Durante a sua visita ao Quénia, no final da década de 1950, começou a trabalhar com um arqueólogo, que a enviou para Londres a fim de estudar comportamento de primatas.

Em 1960, ainda na casa dos 20 anos, iniciou a investigação de chimpanzés em liberdade no Parque Nacional de Gombe Stream, na Tanzânia. As suas observações desafiaram a ideia de que apenas os humanos sabiam utilizar ferramentas e de que os chimpanzés eram vegetarianos. Em 2002 afirmou:

“Descobrimos que, afinal, não existe uma linha nítida que separe os humanos do resto do reino animal.”

Em 1977 fundou o Instituto Jane Goodall, que trabalha na proteção de primatas com o apoio das comunidades locais e promove projetos juvenis em benefício dos animais e do ambiente. Atualmente, conta com delegações em mais de 25 países.

Goodall, distinguida pela ONU como Mensageira da Paz em 2002, foi uma voz ativa em questões ambientais e uma crítica da utilização de animais na investigação médica e em jardins zoológicos.

Em 1991, o instituto lançou o projeto Roots & Shoots, para envolver jovens na conservação. O programa começou com um grupo de estudantes que trabalhava com Goodall e expandiu-se para quase 100 países.

Este ano, o projeto Hope Through Action do instituto sofreu cortes no financiamento por parte do governo dos EUA, durante a administração Trump. A USAID tinha prometido 29,5 milhões de dólares para cinco anos. A iniciativa visava proteger chimpanzés em perigo e os seus habitats na Tanzânia ocidental, através da reflorestação e de uma “metodologia liderada pelas comunidades” para conservar a biodiversidade e melhorar a subsistência local.

Mesmo já nos seus 80 anos, Goodall mostrava poucos sinais de abrandar, continuando a escrever e a falar sobre o seu trabalho. Durante a pandemia, lançou o podcast Hopecast, no qual entrevistava ambientalistas e ativistas.

Foi distinguida como Dame em 2004 e, este ano, recebeu a Medalha da Liberdade das mãos de Joe Biden. Em 2022, o seu legado foi celebrado de forma inusitada, com uma boneca Barbie Jane Goodall, criada no âmbito da série da marca dedicada a mulheres inspiradoras.

Em 2023, numa entrevista ao Guardian, sublinhou a importância de fazer a diferença, mesmo em pequena escala, em vez de tentar resolver todos os problemas do mundo:

“Temos uma janela de tempo para mudar o rumo deste planeta, mas está a fechar-se rapidamente. Se os governos cumprirem o que prometem, ainda temos uma hipótese.”

Recordando a infância, mencionou o seu espírito curioso, como o dia em que passou horas escondida num galinheiro para descobrir de onde vinham os ovos. “Quando finalmente voltei, a mãe já tinha chamado a polícia”, contou. “Estive desaparecida durante horas. Em vez de me castigar, ela ouviu atentamente as minhas descobertas.”

A mãe foi crucial para que perseguisse os seus sonhos, chegando a voluntariar-se para acompanhar a filha na primeira expedição, já que as mulheres não podiam viajar sozinhas.

Em 2021, Goodall publicou O Livro da Esperança: Um Guia de Sobrevivência para um Planeta em Perigo, no qual admitia que, por vezes, sentia estar a travar uma batalha perdida, mas explicava como encontrava forças para continuar:

“Ainda resta muitíssimo que salvar, e é por isso que temos de lutar. Isso dá-nos energia extra. Tenho dias em que não me apetece continuar, mas não dura muito. Acho que porque sou teimosa.

Não vou desistir. Morrerei a lutar, disso tenho a certeza.”

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Aparafusar na Terra

Foi há um ano que comprei um pequenino cato parafuso (Cereus forbesi spiralis). Um ano volvido e, como se pode ver, percebe-se que cresceu imenso. Está muito alto e bastante grosso. Estava num vaso de vinte litros e já precisava de ir para a terra ou de mudar de vaso. Então acabei mesmo por o meter na terra, em frente da casa, onde apanhará bastante sol. Um ano depois também já tem um pequeno filhote a nascer junto à terra.



A Natureza Detesta o Vazio (8)

 Saio do hospital a ficar a saber que tenho um dedo partido e, no caminho para o carro, deparo-me com um feto a nascer numa bomba de água. 


domingo, 21 de setembro de 2025

Mais uma Flor da Stapelia hirsuta

 Depois de ter florido no final de julho, voltou a florir no início de setembro e tem aberto de vez em quando mais flores.

sábado, 20 de setembro de 2025

Adeus Lilás, Olá Cereus

 Foi das últimas coisas sobre o jardim que comentei com a minha mãe. Iria arrancar o lilaseiro (Syringa vulgaris) e plantar lá outra coisa porque, como expliquei anteriormente, as heras tinham tomado conta dele e muitos ramos estavam apodrecidos, e porque estava sempre a rebentar em volta no solo, e o melhor talvez fosse mesmo arrancar e plantar outra coisa. Ainda por cima porque na frente da casa  que plantei outro lilás na frente da casa e não perderia a espécie. 

Então, a primeira tarefa foi cavar à volta e cortar todas as raízes. E depois, com a ajuda de uma alavanca de ferro, começando a levantar aquela enorme cepa, e cortando o resto de raízes, acabou por sair facilmente. 



E o que plantar ali naquele sítio? Naquela zona, do lado do vizinho tenho o feto arboreo, uma cyca e vários catos. E cheguei mesmo a pensar plantar ali uma segunda cyca, e desloquei-me a Guimarães para comprar uma grandinha a bom preço, mas depois de várias peripécias em que a pessoas que estavam a vender não tiveram muito respeito por mim, e depois de ter perdido quase duas horas na viagem acabei mesmo por desisitr da comprar, e resolvi plantar ali um cato, um cereu bem bonito que já me quiseram comprar mas que não acedi. 

O Cereus era este que já cá tinha mostrado anteriormente:


E então, toca a plantá-lo no enorme buraco de onde saiu o lilás e ficou assim:



A Natureza Detesta o Vazio (7)

 Sei que nem sempre a sementeira de salsa corre como esperado. No entanto as sementes nascem onde encontram condições favoráveis, mesmo que à partida nos pareçam o mais inóspitas possível, como uma mera fenda no cimento. 



domingo, 7 de setembro de 2025

Fui só Comprar Pão ao Lidl

 Foi no final de Maio que passei no Lidl com ideia de comprar umas pequenas coisas para casa e acabei por comprar, por impulso, este pequeno vaso com estes cinco pequenos catos do género Mammillaria, porque já tive um gigante, com muitos anos, mas que mudei para a terra, num sítio onde não se deu, e, infelizmente acabou por morrer, e, lembrar, também, que foi com este género que descobri, com o mesmo cato que morreu, aquando o ter comprado, que lhes espetavam flores!

É um cato de crescimento muito lento, mas veremos como vai evoluir. 


Entretanto, três meses depois, já se nota que cresceram um pouco



segunda-feira, 11 de agosto de 2025

O Homem Abandona A Natureza Toma Conta (33)

 Ontem, em Santa Maria da Feira, numa curta visita à Viagem Medieval:



A Pintura do Muro Um Ano Depois

Depois de me ter decidido a deixar crescer a unha de gato a crescer sobre o muro branco na frente da casa, um ano depois, está assim:







 

sábado, 9 de agosto de 2025

O Abraço Mortal da Hera

 Já por aqui tinha escrito no blog que a hera, planta trepadeira da qual, por exemplo, eu fiz uma sebe e alguns projetos de bonsai, ela usa as suas raízes aéreas unicamente para se fixar, não sendo propriamente uma planta parasita, e usa as plantas ou árvores como suporte. Contudo, a verdade é que, a longo prazo, pode de facto matá-las. 


Pude aliás comprová-lo no meu lilás (Syringa vulgaris), em que as heras, com o passar dos anos começar a trepar por ele acima. e agora, que decidi cortá-lo, (também porque entretanto plantei outro na frente da casa) porque muitos ramos estão secos, e quero plantar naquela zona talvez outro cato (ainda não sei bem) e também porque das raízes do lilás crescem novas brotações e acabam por infestar tudo, pude então constatar que, o abraço apertado das heras, acaba mesmo apodrecendo os ramos das plantas e, certamente das árvores, por onde a heras trepem,

A hera trepa, forma uma densa copa, como se ela mesma fosse um arbusto ou uma árvore, e a planta, acaba sendo engolida, não por uma boca como quando a cobra estrangula a presa e a come, mas tirando a vida à planta e deixando só o corpo morto onde a hera se sustenta. 





terça-feira, 29 de julho de 2025

Quatro Flores nos Seus 74 Anos

 A minha mãe faria hoje 74 anos, e o seu último objetivo era chegar viva ao seu aniversário, o que acabou por não acontecer porque partiu um bocadinho antes. 

Eu decidi trazer o seu cato preferido para minha casa (bem como outras das suas plantas preferida)s. 

Esta  stapelia hirsuta deu uma flor em setembro e outubro dos anos anteriores. Não deixa de ser extremamente curioso que, hoje, dia 29 de Julho, dia do seu aniversário, tinha quatro enormes flores abertas às 7h da manhã.






Cato São Pedro em Flor

 Primeira vez que o cato São Pedro (Trichocereus Pachanoi) dá flor cá em casa. Primeiro começaram a crescer uma espécie de cabelos, até que, cerca de vinte dias depois, abre em todo o seu esplendor. A flor abre de noite e, infelizmente, só dura um dia. Mas vale a pena. E as suas flores, que cheiram muito bem, atraem imensos insetos.








quinta-feira, 24 de julho de 2025

Cyca Três Anos Depois

Puxando o filme atrás. Como contei na altura, comprei uma enorme cyca revoluta no verão de 2022 por 45€, sem acalentar grandes esperanças que pegasse, mas, rapidamente, constatei que pegou muito bem, tal como me tinha garantido a senhora que ma vendeu.

Entretanto já produziu sementes e fiquei a saber que se tratar de uma fêmea, ainda que, sem um macho por perto - existe um nas redondezas mas a cerca de 200 metros - as sementes permanecerão estéreis. Contudo, dado o porte da planta, esta já tem pequenas novas novas plantas junto ao tronco. 

É, nesta fase, uma das plantas que mais gosto de ver no jardim.