domingo, 28 de julho de 2013

Guardador de Azevinhos

Já não sei ao certo qual foi a primeira árvore que plantei, nem a idade que teria, e claro que aquelas árvores que as crianças plantam com a ajuda dos professores no dia mundial da árvore também não contam como é lógico. Mas lembro-me bem de, ainda na adolescência, teria uns quatorze ou quinze anos, ter recolhido duas pequenas plantas, e de as ter trazido para plantar em casa.

Eu vivo num pequeno meio rural recortado pelo rio Douro, e em criança era muito comum encontrarem-se muitos azevinhos por aqui, e lembro-me particularmente de uma zona onde o meu avô construiu a sua casa, reaproveitando uma velha casa centenária em pedra de laje a poucos metros do rio. Esse sítio era longe do centro da povoação, não tinha estrada, era basicamente um caminho de cabras, sem sequer iluminação. A estrada, os postes de eletricidade e a água canalizada chegariam depois dos meus avós terem ido para lá morar.

Naquele local, a cem metros da casa, tinha por lá imensos azevinhos, e eu achei que deveria trazer um bocadinho daquela planta mágica para casa. Ainda me lembro bem que na altura trouxe uns pequenos filhotes e tive a preocupação de escolher uns que fossem rebentos de árvores que tinham bagas. Ainda não teria a explicação na altura, mas já sabia que uns davam bagas e outros não, e assim teria a certeza que os meus azevinhos iriam dar bolinhas vermelhas no futuro. Esses dois pequenos azevinhos, plantados por mim, têm hoje mais de vinte anos, e talvez uns cinco metros de altura.

Azevinho - Ilex Aquifolium

E em boa altura os trouxe. A ganância por um lado e a estupidez por outro, ou os dois juntos! fez com que aos poucos esta árvore fosse completamente dizimada. Uns cortados para enfeites de natal e outros cortados para serem vendidos - e eu ainda me lembro bem de ver pessoas a vender montes de ramos de azevinho nas beiras das estradas - acabaram, em pouquíssimo tempo, por quase por extinguir a espécie que crescia aqui espontaneamente. A ganância era tanta que chegaram inclusive a ir cortar metade de um azevinho num terreno privado com uma pequena casa que só era habitada ao fim de semana - dá para acreditar? E o fenómeno não aconteceu por aqui mas um pouco por todo o país onde eles existiam, em especial no norte, onde a espécie se dá melhor, por preferir solos mais ácidos. 

Entretanto o azevinho passou a ser espécie protegida em Portugal em 1989, mas só depois do mal feito é que se colocou trancas na porta, e a verdade é que a espécie está quase extinta. Quando antes se encontravam espontâneamente, debaixo dos carvalhais onde gostam de crescer, hoje quase só mesmo em parques ou nos jardins das nossas casas. Fez-se a lei, mas nestes mais de vinte anos foi feita alguma coisa para reverter a situação? Claro que não, se os governos não se interessam com as vidas das pessoas vão agora estar preocupados com uma árvore, ainda por cima que não dá nenhum dinheiro a ganhar, estão preocupados sim mas é em eucaliptar o país que dá muito ganhar aos senhores amigos da pasta do papel. 

Aqui perto de casa existe um azevinho no monte, já com uns três ou quatros metros de altura e intacto, certamente porque não dá bolas, se desse, estou em crer que não seria a lei que o impediria de ser mutilado, por outro lado também é verdade que está num sítio muito pouco visível e pouca gente passará lá. 

Azevinho silvestre

Do lado direito desta estrada em terra batida que serve unicamente de acesso à proteção civil e aos  montes da encosta eucaliptada encontra-se o azevinho à sombra de sobreiros e carvalhos. 
Não tem um só tronco mas sim vários pequenos troncos


Azevinho com múltiplos troncos
e mais interessante, não vi qualquer sinal de nenhuma praga. O azevinho, e falo pelo exemplo dos meus, é muito propenso à conchonilha e aos pulgões que atacam os rebentos novos, e muitas vezes em parque ou jardins, muitas vezes vejo azevinhos com fumagina, com as folhas completamente pretas. Pois este azevinho silvestre em plena natureza, está viçoso e com as folhas bem verdes e brilhantes.  



Mas o problema foi esse, dizimaram os azevinhos que dão as bolas vermelhas, que são os frutos que contêm as sementes que irão originar novas plantas. Ora matando as fêmeas - a explicação para uns darem bolas e outros não, é simples, na natureza a planta pode ser macho ou fêmea e só as fêmeas dão os frutos - e matando as fêmeas ou cortando todos os ramos com as bolinhas vermelhas, acaba-se com a propagação. Seria o mesmo que se cortar os testículos a todos os bebés que nasçam! quando o último homem morresse a espécie estaria extinta passados uns anos quando a última mulher morresse também.

Ainda por cima estamos a falar de uma semente que pode demorar vários anos a germinar. Cada baga contém três ou quatro sementes. Desde o momento em que a baga cai ao chão e a semente germina muito tempo se passará. Daí que se forem recolhidas sementes ainda verdes e colocadas a germinar nada acontecerá. Na imagem abaixo temos as famosas bolinhas vermelhas, e as sementes propriamente ditas, mas pelo menos já um ano depois de terem caído ao chão e estão então agora preparadas para germinar. 


Bagas e sementes de azevinho

Entretanto de há uns quatro ou cinco anos para cá, aos poucos começaram a nascer azevinhos um pouco por todo o meu terreno. São muitas as sementes que caem ao chão, muitas bagas comidas pelos pássaros e não é de estranhar que a maior quantidade de plantas nasça debaixo da copa das árvores, por um lado porque é onde as sementes encontram um solo mais solto e fértil, mas por outro, porque é local de refúgio da passarada que de inverno se alimenta das bagas. 

Com alguma paciência transplanto umas largas dezenas das pequenas plantinhas para vasos ou outros recipientes, afinal estamos a falar de azevinhos espontâneos provenientes de uma espécie autóctone cá da terra. Até no terreno baldio vizinho já nasceem azevinhos, não sei se sementes levadas pelo ventos ou pássaros, ou de sementes que eu mesmo atirei para lá.



E se a semente demora anos a germinar, a verdade é que depois de termos uma pequena planta com cinco centímetros, ela cresce razoavelmente bem. Basta ver a diferença como, em ano e meio, estes azevinhos trigémeos cresceram rápido.

Azevinho com ano e meio de diferença

Aproveitei e experimentei também pegar num azevinho - escolhi o que tinha as raízes mais interessantes - e tentei fazer dele um bonsai. Acho que fui demasiado ansioso, a árvore deveria ter estado mais tempo a engrossar e adquiri mais alguma forma antes de a transplantar para um vaso de bonsai, mas pronto, agora às poucos irei tentando reduzir-lhe o tamanho das folhas, e dar-lhe um formato mais interessante com melhores proporções. Não é fácil, ainda estou muito verde neste arte, afinal esta foi a primeira verdadeira experiência feita por mim, mas aos poucos pode ser que lhe apanhe o jeito.  


Evolução de azevinho transformado em bonsai

# Azevinho - Ilex aquifolium "Myrtifolia"

18 comentários:

  1. Adoro azevinho e o meu sonho era ter um no quintal.A minha filha ofereceu-me um, pequenino,envasado ,com bolinhas vermelhas
    Coloquei-o na terra já lá vão uns dez anos mas não passa daquele tamanho,um nadinha maior. Trato-o com todo o carinho e agora pensei mudá-lo da terra para um vaso Será que faço bem?

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  2. Olá Manuela,

    É um pouco estranho para mim que em dez anos ele não tenha crescido vigorosamente. A explicação que encontro é que ele talvez não goste da terra onde está porque de resto tanto se dão à sombra/meia sombra como em sol pleno. Sei que os azevinhos preferem os solos ácidos e por isso aparecem na natureza no norte do país e talvez não se dêem tão bem a sul.
    Pode experimentar mudá-lo para um vaso, desde que seja de bom tamanho para as raízes terem espaço, e depois pode ir podando na forma que quer e assim também lhe limita o crescimento. Mas se pensar nisso, espere por meados do outono para o fazer porque agora não é boa altura. E depois abra uma boa cova à volta e tente tirá-lo com bastante torrão que estou em crer que não terá problemas.

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  3. Olá,
    tem azevinhos para cede? Obrigado

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    1. Olá boa noite,
      Sim, tenho bastantes, pequenos e maiores.

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    2. Bom dia, só agora vi a sua mensagem. Pode enviar-me um e-mail para telmo.miranda@gmail.com para poder-mos falar.
      Obrigado

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  4. Ola amigo,cai em bom site 😃 sou um apreciador de azevinho e tambem constatei que quase nao se ve.ora eu estou em frança onde ainda abunda azevinho.deram me sementes que vou deixar ter o tempo necesario para semear e poder contribuir para à recuperaçao da especie.e espero tambem conseguir fazer um bonsaï.

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    1. Olá boa noite,
      As sementes de azevinho ainda demoram bastante para germinarem, mas experimente. Boa sorte!

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  5. Bom dia, meu nome é Katia tenho 48 anos, moro em Recife!
    Desde criança, sonho em ter um pé de Azevin, sempre procurei mas nunca encontrei, fui ate motivo de risos de muitos, pois diziam que eu queria uma planta que só existe em livros de historia para crianças. Bem seria positivável vc me conseguir uma muda, ou um casal de mudas. afinal não gostaria de separa o que Deus uniu. Vc iria me fazer muito feliz, ao realizar esse sonho tão antigo! Meu E-mail é kfelixmatos@hotmail.com. PS : Se for possível serei eternamente grata, obrigada.

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  6. Gostaria de saber se vc tem sementes de azevinho, estou precisando de pelo menos umas 21 sementes

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  7. Se tiver, quanto me cobraria para enviar. rjmsoft2@bol.com.br. obrigado.

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    1. Olá boa tarde,
      Não sei se terei alguma coisa guardada, mas se não tiver acho que devo encontrar sementes debaixo dos azevinhos dos anos anteriores. Mas se o Ricardo for brasileiro (como indicia o seu e-mail) é preciso cuidado, pois eu creio que o Brasil tem legislação específica sobre a importação de espécies não nativas. Convém primeiro saber ao certo se é permitido ou não.

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    2. ola agora tenho sementes de azevinho.

      cumprimentos

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    3. ola agora tenho sementes de azevinho.

      cumprimentos

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  8. Por acaso tem sementes para venda meu email paulo_godinho79@hotmail.com

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  9. Boa tarde,sou um apreciador de plantas autóctones,por isso consegui bagas de azevinho,gilbardeira e pilriteiro.
    Gostava,pela sua experiência que pudesse dar me algumas dicas para o sucesso destas plantas,para mais tarde poder libertar na natureza.
    Obrigado.

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