domingo, 30 de maio de 2021

Nos Trilhos dos Moinhos de Jancido


 Se não estou em erro, a primeira vez que andei a caminhar e a visitar os moinhos de Jancido terá sido em Janeiro de 2018 com o grupo de caminhadas habitual. Ficamos a saber que era um grupo de pessoas, voluntários, que andava, aos sábados, a limpar os caminhos e a restaurar os moinhos. Fizemos um percurso mais ou menos circular, partindo do pavilhão desportivo, passando pelo centro de saúde, e caminhando pela estrada, passando pela antiga Central de Captação de Água da Foz do Sousa, que foi outrora quem abasteceu de água Porto durante cerca de cem anos, seguimos pelo Parque de Lazer de Travaços, e depois embrenhamo-nos num trilho pelo meio do monte em direção aos moinhos. 

Nessa altura tudo ainda estava muito no início e Jancido ainda não estava no mapa das caminhadas. O mais estranho é que, apesar de ser aqui muito perto, desde então nunca mais lá tinha ido ver. Limitei-me a ir acompanhado as várias reportagens que o jornal do município "Vivacidade" fez (imagem abaixo) e, aos poucos e poucos, observando a enorme publicidade, merecida, que os media em geral lhes foram fazendo. 

Jornal Vivacidade

Até que, findo o Estado de Emergência, comentei com um amigo que já não via há um ano, se não queria ir até lá, caminhar um pouco e conhecer os moinhos, ainda por cima porque o trilho PR1 GDM – Linha de Midões e os Moinhos de Jancido” tinha sido inaugurado dias antes enquanto púnhamos a conversa em dia. E assim foi. Num sábado de manhã, cedo, deixámos os carros abrigados pelas árvores no Parque de Merendas de Santo Amaro (em frente da farmácia e centro de saúde) e tentamos fazer o trilho principal, como está sinalizado, mas a verdade é que, logo no início, a sinalização induz um pouco em erro, alias, é nesse ponto que no mapa está marcado como o início do trilho, mas depois na estrada encaminham as pessoas para um parque automóvel junto ao pavilhão desportivo. 


Mas rapidamente lá fomos dar à escultura em forma de carril, evocando a memória da linha de comboio de Midões que operou até 1927. E a partir daqui lá seguimos o estradão em terra batida em direção aos moinhos. 


Mapa do Trilho PR1 GDM Linha de Midões - Moinhos de Jancido



Já depois de lá ter ido mostrar o trilho e os moinhos ao meu amigo, regressei lá mais duas vezes, inclusive uma de bicicleta em que voltei a fazer a caminho que tinha feito em 2018, indo pela Central de Captação de Águas, Parque de Lazer de Merendas de Travassos e depois rumar pelo monte, mas acabei por ficar meio perdido pelo meio do monte e fui ter a Gens (tendo passado por debaixo da autoestrada) mas voltei para trás pelo mesmo trilho e lá consegui encontrar o desvio certo, muito escondido e manhoso, numa descida acentuada e de bicicleta à mão, chegando à Ponte de Longras que permite atravessar para a margem onde estão, uns duzentos mais à frente os moinhos. E as fotografias que aqui vos deixo são o resultado destes dois passeios, porque quando fui com o meu amigo quase nem fiz registos fotográficos.

Nesta fotografia podemos ver o Parque de Merendas de Travassos na margem oposta ao trilho que passa nos moinhos, mas o caminho também lá vai dar, encontrando o tal desvio certo e atravessando a Ponte de Longras. Mas para quem não conhece, o melhor mesmo é fazer o trilho como está assinalado no mapa, mas se estiverem com tempo e com GPS também facilmente podem explorar estes pontos envolventes.

Parque de Merendas de Travassos - Foz-do-Sousa


Depois de atravessar esta ponte - a Ponte de Longras - é só virar à esquerda e rapidamente encontram o ponto mais emblemático, a Cascata do Caiáguas - e os respetivos moinhos.

Ponte de Longras



Carvalho

Dedaleiras (Digitalis purpurea)















Papoilas (Papaver rhoeas)


Licranço

Em jeito de conclusão, posso dizer que fiquei muito agradavelmente surpreendido com o que fui encontrar cerca de três anos depois da primeira visita, ainda em estado "selvagem". Acho que Gondomar e a freguesia da Foz-do-Sousa pode-se orgulhar deste grupo de homens que, não estando à espera que a edilidade do concelho fizesse alguma coisa, meteram eles mesmos mão-à-obra no sentido de revitalizar uma beleza natural, que é o curso de água que desagua no rio Sousa, bem como restauraram também os moinhos e limparam os trilhos. Muito importante também, as plantações de árvores (são já mais de mil) e o combate às exóticas. Uma coisa leva à outra, e foi agora inaugurado o trilho para se caminhar ou andar de bicicleta (faz-se muito bem de BTT) ainda que eu ache que, se calhar não faz muito sentido inaugurar um trilho, e duas semanas depois, andarem os madeireiros a deitar eucaliptos abaixo, dando cabo do trilho com os tratores... Se calhar, digo eu, faria mais sentido fazer todos os trabalhos que fossem necessários primeiro e depois sim inaugurar o trilho, mas estamos em ano de eleições autárquicas e já sabemos que o que importa mesmo é fazer inaugurações para o povo ver.

Acho que este é um sítio com enorme potencial, sendo, como está a ser, devidamente preservado e melhorado. E que possa servir de inspiração a outras pessoas, para que, nas suas terras copiem a iniciativa de meter mãos à obra e cuidar do que é de todos. É certamente um local a que regressarei mais vezes, até para fotografar com calma a fauna e flora, até porque, ainda por cima porque vivo a meia dúzia de quilómetros dali.

sábado, 22 de maio de 2021

A Obsessão por Suculentas Raras Está a Levá-las à Extinção

Ute Schmiedel/Handout


Numa reportagem do The Guardian ficamos a saber que, depois de quase uma década sem precipitação, 10 mm de chuva foi o suficiente para causar o florescimento de um deserto inteiro na África do Sul. Espécies raras no Parque Nacional Richtersveld despertaram e floresceram pela primeira vez em nove anos, para depois serem roubadas para o comércio ilegal de plantas. A caça furtiva de plantas não é nova, nem é exclusiva da África do Sul, mas as compras de plantas de interior, inspiradas pela pandemia exacerbaram o problema em todo o mundo.

De acordo com Pieter van Wyk, botânico do viveiro de Richtersveld, este é o deserto com a maior biodiversidade do mundo. Com sua geologia única, incluindo as montanhas mais antigas do mundo e localização criando um ecossistema perfeito para o desenvolvimento de muitas plantas, mais de 3.000 espécies de plantas existem em uma área relativamente pequena, incluindo 400 endémicas da região. Muitas dessas são suculentas muito apreciadas que alcançam preços elevadíssimos no mercado negro. Algumas espécies que são tão especializadas que existem apenas num vale ou no topo de uma montanha. Há até casos até em que uma espécie inteira vive numa área mais pequena do que um campo de futebol, então, "um caçador pode extinguir uma espécie só numa manhã".



"Em relação às raras, mais da metade das plantas da região não eram raras, mas agora estão-se a tornar raras" devido a fatores ambientais e humanos, disse van Wyk ao EcoWatch.

Van Wyk acrescenta que, como a procura é muito elevda e a oferta é baixa, especialmente para espécies carismáticas e ameaçadas de extinção, torna o mercado negro bastante lucrativo. Plantas sul-africanas como as de Richtersveld são vendidas para lugares distantes por organizações criminosas que revendem para moradores desesperados e até turistas.

"As pessoas aqui não têm trabalho ... estão estão desesperadas por dinheiro e comida, dispostas a ganhar dinheiro rápido". Devido ao aumento do interesse em plantas raras, "agora estas organizações criminosas pagam vários meses de salário aos moradores locais por plantas que, no final, irão ser vendidas para a Ásia e Europa, bem como para a América, por valores que poderiam sustentar uma família durante anos em Namaqualand."

Van Wyk observou que o apelo do mercado negro continua a crescer porque os viveiros éticos e legais podem levar entre cinco a quinze anos para ter stock suficiente para revenda, enquanto ter que lidar com toda a burocracia das regulamentações de exportação e obter licenças.

Ele contou ao The Guardian que a caça ilegal de plantas na África do Sul pode eclipsar a lucrativa indústria de cornos de rinoceronte. O botânico teme que muitas espécies icónicas possam extinguir-se dentro durante a sua vida, tendo já testemunhado perdas massivas nos últimos cinco anos. Isso deve-se principalmente à caça ilegal e à perda de habitat para agricultura, mineração e por causa da crise climática.

O botânico também alertou que o ciclo do crime global-local fez com que os moradores locais caçassem ainda mais do que lhes é pedido. "O esquema de ganhar dinheiro rápido tornou-se viral entre os moradores que agora apanham as plantas mesmo não tendo compradores, causando destruição em grande escala com muitas plantas acabando por ir para o lixo".

Ele alertou também que essa perda de biodiversidade terá um impacto maior na ecologia geral, na saúde do ecossistema e na regulação do clima. "Isso tem um impacto grave sobre os humanos também, já que esta área eventualmente se tornará inabitável, e provavelmente em breve".

A caça furtiva por si não é um crime novo nem se limita à África do Sul. O Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos da América define o ato como a remoção ilegal de plantas raras e ameaçadas de extinção de seu habitat natural. As plantas são roubadas sem levar em conta as leis e regulamentos criados para sua proteção, e o roubo pode ocorrer em terras do Estado ou propriedade privada.

Em 2020, num alerta de consciencialização o FWS pediu às pessoas que não comprassem plantas carnívoras e pediu aos colecionadores que ajudassem na caça furtiva do popular vaso de planta. É que as populações desta planta carnívora endémica da Carolina do Norte e do Sul estão em sério declínio por causa da perda de habitat e foi declarado crime em 2014.

Num outro artigo do The Guardian destacou como a recente moda global da jardinagem, incentivada pela quarentena da pandemia também está a estimular a caça ilegal de plantas nas Filipinas. Plantas carnívoras e usadas para em bonsai tornaram-se especialmente populares, e essas e outras espécies ameaçadas de extinção estão a ser desenterradas de florestas e montanhas como nunca se viu.

Os emblemáticos catos Saguaro são outra planta selvagem agora ameaçada de extinção devido às mudanças climáticas e à caça ilegal. Segundo a Natural Curiosity, os Saguaros crescem muito lentamente, levando cerca de 50 anos para atingir um metro de altura. Os catos normalmente não começam a desenvolver seus famosos braços antes de terem pelo menos 70 anos de idade, e podem viver cerca de 150 anos. Cobiçados pelos colecionadores, os cacos são vendidos por 80€ o pé. Mas a caça furtiva do Saguaro chegou ao ponto em que plantas silvestres são agora microchipadas para serem rastreadas e impedir a caça furtiva.

Segundo a Natural Curiosity, embora não seja tão amplamente noticiado como a caça furtiva de animais, a remoção de plantas da natureza tem um "efeito igualmente um impacto importante no equilíbrio vital necessário para manter os ecossistemas saudáveis". O artigo também abordou um problema enfrentado por pequenas suculentas em forma de roseta na Califórnia. Essas suculentas evitam a erosão em rochas e penhascos onde poucas outras plantas conseguem sobreviver, e removê-las desestabiliza toda a base do ecossistema. E é exatamente isso que está acontecer devido à demanda consumista por plantas durante a pandemia.

À medida que plantas como monsteras, hoyas e suculentas ganharam popularidade nas redes sociais, caçadores furtivos foram recrutados para obtê-las independentemente das consequências que isso provoque.

Foram sugeridas algumas dicas para colecionadores de plantas raras para perceberem como podem estar a comprar plantas roubadas e evitar fazê-lo:

- Examinar todo o tabuleiro. As plantas propagadas em viveiro têm uma dimensão uniforme. As plantas recolhidas na natureza ilegalmente têm maior probabilidade de variar em tamanho.

- Examinar o solo. O solo do viveiro é uniforme, geralmente com turfa estéril. Cascalho e areia misturados no solo são uma sinal.

- Procure outras espécies no mesmo vaso. Vasos com ervas daninhas são outra indicação de que as plantas foram retiradas da natureza.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

O Regresso dos Festivais de Jardins de Portugal e Espanha

 Depois de um ano de ausência por causa da pandemia, regressam os festivais de jardins. Abriu este fim-de-semana o Festival de Jardins de Allariz em Ourense (Espanha), e daqui por duas semanas, a 28 de Maio, abre o Festival de Jardins de Ponte de Lima. Todos os anos os festivais têm um tema a concurso. E se em Espanha é "Jardins da Poesia" em Portugal é "As religiões nos jardins". 


Veremos se lá regresso brevemente para depois mostrar aqui, como é habitual, uma pequena visita guiada.

sábado, 8 de maio de 2021

Tempo de Apanhar Flor de Sabugueiro

 Desde que há uns anos curei uma tosse alérgica à minha mãe (ainda antes mesmo de ela ir à consulta) com flor de sabugueiro, que tenho por tradição, todos os anos, entre o final de Abril e o início de Maio, ir fazer uma ronda aqui pelos sabugueiros da aldeia para recolher uma boa quantidade de flor, para secar e depois ter para fazer infusões, se necessário, ao longo do ano inteiro. 

Convém que quando a recolhermos a flor esteja seca e como tal é de evitar tempo de chuva.



Curiosamente, logo este ano (no outono passado) em fiz algumas estacas de sabugueiro para enraizar é que por estes dias descobri vários sabugueiros a nascer espontaneamente no meu terreno. Contudo, a verdade é que um sabugueiro é um arbusto/árvore, que além de bastante ramificado, para dar bastante flor é preciso deixá-lo crescer bastante e eu já não terei espaço em casa para plantar um. Mas posso sempre plantar no terreno algo que está ao abandono!

# Sabugueiros em Flor

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Coroa-de-Cristo dá Sinal de Vida

Neste inverno que passou, extremamente rigoroso, provocou-me algumas baixas entre as plantas. Uma delas foi a Euphorbia milii, conhecida vulgarmente por Coroa-de-Cristo. Apodreceu completamente e reparei também, depois de a tirar da terra, que em volta das raízes tinha uma espécie de pano, que me deixou a pensar se aquilo lhe faria muito bem, e creio que não. Contudo o que matou a planta, extremamente popular no Brasil, não tenho dúvidas que foi o frio. 

Ainda assim, deixei a planta pousada numa floreira e qual não é o meu espanto quando um pedacinho da planta começa a brotar! Verdadeiramente incrível! 


# Coroa-de-Cristo (Euphorbia milii) - Um Ano Depois

# Coroa-de-cristo - Euphorbia milii