domingo, 25 de setembro de 2022

Palácio dos Marqueses de Fronteira


Nestas férias de 2022 regressei a Lisboa e a Sintra. Foi pouco tempo, uns míseros três dias, mas deu para revisitar algumas coisas e visitar outras pela primeira vez. Entre as coisas que queria visitar seria para colecionar mais alguns jardins que nunca visitei e Lisboa tem mesmo muitos. Um desses era o jardim do Palácio Marquês de Fronteira de 1675. 

De manhã tínhamos ido visitar a Torre de Belém, o polémico Padrão dos Descobrimentos e os Jerónimos que, por incrível que possa parecer, nunca tinha visitado. 

Estávamos no primeiro dia e verão, 21 de Junho, e o tempo estava fresco e cinzento. Demasiado até. Depois de subir de elevador ao topo do Padrão dos Descobrimentos, abre-se a porta e constato que tinha começado a chover uma chuvinha miudinha, bem desagradável. Uma das senhoras da bilheteira comenta que enquanto em Lisboa chove e está frio para a época, nos países da Europa central faz quase quarenta graus. 

Depois de calcorreados os corredores do Mosteiro dos Jerónimos acabamos a almoçar no Centro Comercial Colombo e no caminho para Sintra paramos então a meio da tarde no Palácio dos Marqueses de Fronteira. (Infelizmente os jardins do Palácio de Queluz ficou para outra oportunidade).


O GPS cumpriu a sua função e levou-nos ao parque de estacionamento, do outro lado da rua onde está situado o palácio. Dirigimo-nos à bilheteira, pagamos os 5€ da entrada e fomos então perder-nos no jardim formal de buxo com as suas estátuas e azulejos. 


Os jardins do Palácio Fronteira, apesar dos seus elementos italianizantes, revelam igualmente um conceito de espaço descontínuo e críptico. Do jardim Grande estabelece-se uma progressiva graduação de privacidade até ao Terraço da Capela antigo Passeio da Oratória.

O jardim de Vénus, a uma cota mais elevada que o jardim Grande, não tem qualquer relação direta com este, fazendo-se a sua ligação por uma passagem num dos torreões da Galeria dos Reis.
Sobreelevado ao jardim de Vénus, e colocado num ponto quase escondido do jardim Grande, o Passeio da Capela surge como uma jóia vedada. A ligação com o jardim de Vénus faz-se, também duma forma  descontínua, numas pequenas escadas integradas no pavilhão do topo do Terraço. A riqueza e preciosidade do decor, acentuam o carácter críptico e sagrado do lugar em relação a outros espaços. 

Estes conceitos estão ainda enraizados numa tradição mediterrãnica-islâmica, com um forte sentimento de oposição entre sagrado e profano, interior e exterior, que se diluirá, porém, progressivamente, com a aproximação de Portugal às culturas franco-germâmincas produtoras das grandes correntes estéticas dos séculos XVIII e XIX. 















Recortando-se como um cenário magestoso, a Casa do Lago imprime ao jardim de buxo um carácter ao mesmo tempo monumental e intimista. Esta contenção espacial característica dos jardins portugueses era evidenciada no século XVII por um muro alto que envolvia os jardins. 










Os Embrechados e a Arte indo-portuguesa

A grande inovação da época são porém os embrechados. Esta estética liga-se intimamente ao gosto orientalista expresso nos móveis indo-portugueses de marchetados de vários materiais e cores vivas, nos panos de armar e colchas que cobriam completamente os interiores das salas, na estatuária e ourivesaria religiosa, na temática dos azulejos dita "em tapete" e, em termos globais, na arquitetura de interiores. 
A propensão para o mágico, a recusa da valorização da estrutura cobrindo-a de uma película de brilhos e reflexos imateriais, a negação da forma a favor do valor invocatório do espaço, separa-se da tendência racionalista do renascimento e maneirismo europeu.   
Os embrechados são também o resultado da nossa passagem pela Índia. Interessante observar em Corsini ser este o aspeto mais peculiar dos jardins portugueses que visitou. Nas suas displicentes notas Corsini dá-se ao trabalho de referir os diferentes materiais: "grutas adornadas com madrepérola, pedaços de porcelana, vidros de várias cores, esquírolas de mármore de diversas espécies..." referindo-se aos jardins do Conde da Torre, mais tarde Marquês de Fronteira.  







A itálico excertos do livro "Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal - ou da originalidade e desaires desta arte de Helder Carita e Homem Cardoso da Círculo de Leitores (1990)".

sábado, 10 de setembro de 2022

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Em Cada Garrafa uma Árvore

 


Os meus colegas de trabalho entregam-me as garrafas de água. Eu junto, corto-lhes a parte de cima e planto um medronheiro. O que lhes farei? Não sei. Talvez plante no terreno vizinho ou ofereça à junta de freguesia (se os quiserem plantar) ou então venda ou troque por livros. Logo se vê.