domingo, 14 de julho de 2024

Mais 2 Catos para a Coleção

Mantendo a tradição, no fim-de-semana passado desloquei-me a Ponte de Lima para a visita a mais um festival de jardins. Depois do almoço, e após uma pequena caminhada, dei uma vista de olhos pelas plantas que uma senhora por ali vende há muitos anos e acabei por gastar 45€ em dois catos. 

Comprei um cato parafuso (Cereus forbesi spiralis) e um rabo de macaco (que não trazia identificação da espécie). 

domingo, 30 de junho de 2024

As Salamandras no Solstício de Fogo

Fiquei fascinado com este texto de Jacinto Antón, publicando ontem no El País e, assim sendo, não resisti a partilhá-lo também aqui. O artigo fala sobre as larvas de salamandra que o autor apanhou e decidiu libertar, já depois da metamorfose, por alturas do São João, ou melhor, do Solstício de Verão. 

Pelo meio menciona o livro "O ramo de ouro" ("The golden bough" no original) que leu na adolescência e que é livro de cabeceira, e que eu fiquei extremamente curioso para ler! O PDF encontra-se facilmente e de forma gratuita na net mas eu quererei certamente encontrar o livro, e narra depois, no fim do texto, a viagem novamente ao mesmo lago onde tinha recolhido as larvas, para agora as libertar... 


"Como tinha que libertar as salamandras, pensei que não haveria melhor ocasião do que pelo São João, no solstício de verão, dada a lendária relação desses anfíbios com o fogo. Plínio afirmava que a salamandra é tão intensamente fria que apaga as chamas como o gelo, pelo que é provável que o sábio nunca tenha tocado numa salamandra em toda a sua vida romana. Enfim, dizia que tinha que libertar as minhas salamandras, o que merece uma explicação. Eu tinha-as recolhido numa lagoa em Viladrau no seu estado larvar, que é aquático, e ficaram em casa até fazerem a metamorfose e se transformarem em réplicas em miniatura da salamandra adulta que todos conhecem, preta e amarela. O pacto — comigo mesmo — é que as retiro da lagoa, que costuma secar, o que condena as larvas, e as devolvo ao mesmo local após lhes proporcionar um lar temporário de acolhimento.

Tenho uma taxa de sobrevivência altíssima que, neste último episódio de criação, chegou aos 100%. De facto, as sete larvas que extraí da lagoa, com meios tão rústicos como uma lata de bolachas Krit de Cuétara e um coador, sobreviveram todas para a sua reintrodução. O seu cuidado exigiu praticamente inutilizar um dos lavatórios de casa, convertido em berçário de salamandras.

As minhas salamandras pertencem à subespécie franco-catalã Salamandra salamandra terrestris, que é a que existe no Montseny, embora a designação que adoro seja a que recebe a genérica salamandra comum em inglês: fire salamander, salamandra de fogo, que parece da antiga salamandrologia e até da alquimia. O que nos remete para o São João.

A festa do solstício de verão sempre foi a minha favorita desde adolescente
, pelo romantismo das verbenas, e estimulou-me a ler precocemente "O Ramo Dourada", de James George Frazer, um dos meus livros de cabeceira. No São João, 24 de junho e na véspera, celebra-se oficialmente o nascimento de São João Baptista, mas na realidade, conta Frazer, a festividade superpôs um verniz cristão a toda uma série de celebrações solsticiais pagãs na Europa, que se celebravam com fogueiras. A ideia do fogo e dos festivais ígneos, claro, é devolver a força ao sol nesse momento crítico. Algumas fogueiras acendiam-se para afugentar dragões, criaturas relacionadas com o fogo como as salamandras, e que se acreditava que por São João estavam mais ativos.

Assim, no passado São João, saímos para uma excursão à tarde, eu, a minha filha Rita, o seu companheiro Ramón o bebé de ambos, Mateo, de um mês, as salamandras e eu rumo à lagoa de Can Batllic, onde a Rita, então grávida, e eu as tínhamos recolhido a 30 de março. O Mateo, numa mochila, parecia não se aperceber de muito, mas seguramente mais do que na sua visita anterior à lagoa. Gostava da ideia de que viesse porque era como fechar o círculo: as larvas tinham-se metamorfoseado e ele tinha nascido. Chegados à lagoa, tirei as pequenas salamandras do seu mini-terrário de viagem, procedendo a deixá-las entre a vegetação ao redor da água. Não poderia dizer se reconheceram o seu local de nascimento, mas desapareceram rapidamente no terreno, dissolvendo o seu pequeno esplendor na erva.

Fiquei profundamente triste, afinal tínhamos convivido durante três meses, alguns amores de verbena duraram menos. O que seria delas? Das salamandras, digo. Além dessa melancolia, o ato não tinha nenhum componente dramático, por muito Frazer que lhe acrescentasse. Então vi que a minha filha tinha reservado a última salamandra para a soltar ela própria e colocava-a na palma da mão diante dos olhos escuros e muito abertos do seu filho. Anfíbio e bebé pareceram olhar-se como se partilhassem algo que a nós outros escapava. O sol, já muito baixo, saiu então de entre as nuvens e um brilho avermelhado pareceu incendiar as duas criaturas. Foi um momento mágico. Não sei o que isso vai significar na vida do Mateo, mas não são todas as crianças que têm uma salamandra como madrinha, nem o destino lhes oferece pelo São João um batismo de fogo.

 As salamandras no solstício de fogo | Jacinto Antón | El País, 29 de junho de 2024 

O Homem Abandona - A Natureza Toma Conta (29) - Azevinho 4 Anos Depois

Já vem com algum atraso. Em abril de 2020 partilhei aqui um azevinho que nasceu numa frincha do passeio de uma casa abandonada. Quatro anos volvidos já está com três metros de altura. 

Abril de 2020:


Março de 2024

A rosa Narcea Cheira como as Rosas de Antigamente

Uma amiga que conheci precisamente neste blog, e que sabia muito de roseiras (tenho inclusive uma que me deu) chamou-me na altura a atenção para este tema: as roseiras modernas, ao contrário das roseiras antigas, não têm cheiro. 

Na edição de ontem, o jornal El País trouxe um artigo sobre a rosa Narcea descoberta, por mero acaso, por Carmem Martinz (no fim do artigo deixo um vídeo com a investigadora)

"Da mesma forma que se tem a sensação de que os tomates já não sabem a tomate, com as roseiras passa-se algo semelhante. Cada vez mais aficionados da jardinagem vão aos viveiros à procura do “cheiro perdido” das rosas. “No último século, tentou-se recuperar o aroma das rosas, como fez o horticultor britânico David Austin nos anos sessenta, procurando hibridar variedades antigas com as modernas para obter o melhor de ambos os mundos”, explica Marina Barcenilla, perfumista e investigadora científica da Universidade de Westminster. “Assim, se queremos plantar roseiras perfumadas, temos de procurar nos viveiros as rosas de David Austin, rosas inglesas e rosas antigas de jardim, que são as mais fragrantes”, acrescenta.

A maioria das rosas que se cultivam hoje pertence à família das rosas modernas, obtidas a partir de 1867 mediante cruzamentos artificiais e programas de melhoramento com fins ornamentais. Hoje, apenas duas variedades de rosa natural se cultivam e destinam à indústria da perfumaria: a rosa Damascena, com um cheiro mais clássico, rico e denso de matizes especiadas, e a rosa Centifolia, de aroma mais herbal e leve, com notas doces. A estas duas rosas naturais selecionadas poderá juntar-se nos próximos anos uma insólita variedade de origem asturiana: a rosa Narcea, descoberta em 2017 por Carmen Martínez, investigadora da Missão Biológica da Galiza do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC).

“A descoberta da rosa Narcea foi uma casualidade e uma junção de pontos. Estava a passear pelas ruas de Sófia, na Bulgária, em maio, que é a época de floração da rosa Damascena, e aproximei-me para cheirar uma das roseiras da rua. De repente, surgiu-me uma memória olfativa muito intensa, com imagens e cheiros muito concretos que me recordavam a minha infância nas Astúrias, na primavera. Não era exatamente o mesmo cheiro que eu recordava, mas continha uma intensidade aromática que não tinha voltado a sentir na minha vida”, descreve a investigadora.

Quando voltou a Espanha, Martínez viajou até Carballo, no concelho asturiano de Cangas do Narcea, de onde a sua família é originária e onde tinham a tradição de plantar, em honra às crianças, por ocasião do seu décimo segundo aniversário, uma árvore ou arbusto que perdurasse ao longo da sua vida. Ao seu pai plantaram uma roseira. Junto ao muro de entrada da antiga casa permanecia este exemplar quase esquecido, junto a outro proveniente do primeiro, de tronco sarmentoso e flores de cor rosa-fúcsia. Durante gerações tinham sido famosos na aldeia pelo perfume que exalavam em maio.

“A minha experiência de mais de 35 anos na recuperação e reintrodução no mercado de antigas variedades de videiras esquecidas fez-me pensar na possibilidade de trabalhar com esta rosa como um recurso agrícola de interesse e utilidade”, afirma Martínez, que entrou em contacto com especialistas em botânica e enviou para Itália amostras do ADN da rosa asturiana para comparar com o banco mundial de dados de ADN de rosas antigas. “Assim, comprovámos que é uma rosa única no mundo, um híbrido local natural, entre a antiga rosa Gallica, quase desaparecida, e a rosa Centifolia, que se utiliza na indústria do perfume”, explica a investigadora, que em 2020 publicou os resultados da sua descoberta na revista Horticulture Research.

El País, 29 Jun 2024, BEATRIZ PORTINARI

sábado, 29 de junho de 2024

Quando a luz, a Música e o Ruído Matam a Fauna Selvagem



Chegamos ao verão, e é tempo de festas, foguetes, fogo de artifício, balões de São João, e eu continuo a perguntar-me: porque é que tudo isso ainda não foi proibido, se não tão poucas vezes como isso, resultam em incêncios - lembrar, por exemplo, que o Museu Nacional do Rio de Janeiro ardeu, graças a um balão de São João. 

E os foguetes servem para quê afinal, além de fazer barulho e assustar os animais?

Sobre este triste assunto, que parece que ninguém se importa muito com isso, foi publicado ontem, no jornal espanhol La Vanguardia, um artigo muito interessante que aqui deixo numa tradução quase automática:

"A Estação Experimental La Hoya do CSIC, centro de criação em cativeiro de fauna selvagem em perigo, denunciou a morte de quatro gazelas e uma cabra devido ao “stress e agitação” provocados pelos concertos de um festival de música organizado entre 19 e 22 de junho pela Câmara Municipal de Almería perto deste local, que alberga espécies em perigo de extinção.

A morte destes animais provocou um confronto entre responsáveis do CSIC e a Câmara Municipal de Almería, e colocou em discussão os riscos para a fauna que certas celebrações com ruídos estridentes em espaços ao ar livre podem acarretar. Os especialistas consultados consideram que não se pode falar de um problema geral de convivência entre os concertos ao ar livre e a fauna selvagem em Espanha. Contudo, a proliferação destes eventos no verão (festivais ao ar livre, fogo de artifício...) pode causar danos na fauna, alterações no meio natural e gerar diversos incómodos se os possíveis efeitos não forem avaliados previamente, alertam.

Anna Mulà, especialista em direito dos animais, afirma que a lei de Bem-Estar Animal de 2023 faculta a proibição de actos que ponham em risco os animais selvagens em cativeiro.

Em Espanha, diversas celebrações, como o espectáculo pirotécnico realizado a 18 de fevereiro no espaço naturalizado de Madrid Río (com assistência de 20.000 pessoas), geraram polémica sobre o impacto que podem ter sobre as aves os quilos de pólvora que explodem (300 em Madrid). Outros concertos realizados na Catalunha há algum tempo motivaram queixas dos vizinhos. Mas o caso de Almería é diferente. A veterinária da Estação Experimental do CSIC, Sonia Domínguez, denunciou que as mortes dos cinco animais foram causadas por “um aborto”, “desatenção materna de uma das crias” e “lesões traumáticas” devido ao stress e à agitação provocados pelo festival.

Três dos exemplares mortos eram gazelas mohor (entre elas, uma cria de poucos dias e outra prestes a parir), animais catalogados como em perigo crítico de extinção, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). A quinta, a cabra montesa, é uma espécie de ungulado norte-africano em perigo de extinção, que, além da gazela mohor, acolhe exemplares de gazela de Cuvier, gazela dorca sahariana e cabra sahariana com os quais se devem efectuar reintroduções no norte de África.

Teresa Abáigar, directora da Estação Experimental de Zonas Áridas (EEZA-CSIC), explica a este jornal que está demonstrada a relação entre o ruído do concerto e a morte das gazelas e da cabra montesa. “Há muitos anos que trabalhamos com estes animais. Conhecemo-los bem porque os cuidamos há mais de meio século. Temos estudos que corroboram estes impactos”, comenta. As gazelas são muito sensíveis a qualquer perturbação e mostram grande incapacidade de se adaptar a mudanças bruscas, que desencadeiam alterações fisiológicas e hormonais. O ruído (ondas que se transmitem ao ouvido interior e causam dano) não é o único elemento que altera a tranquilidade destes animais. O início de um concerto e o seu desenvolvimento estão associados a outros efeitos (explosão inicial da celebração, luzes, gritaria, aplausos...), algo a que os animais não estão habituados. “Como herbívoros, são espécies presa, pelo que os seus ouvidos estão muito apurados”, acrescenta Abáigar. As gazelas caíram numa armadilha evolutiva; animais hipersensíveis, o seu sentido de alerta está permanentemente activado, pelo que o estrondo de um concerto musical é uma “catarata de acontecimentos”, dizem os biólogos do CSIC.

O Município de Almería replica que os concertos não excederam os 65 decibéis; que foram tomadas medidas para garantir um “baixo impacto sonoro” e que foi utilizado um limitador calibrado para impedir que se ultrapassassem os 92 decibéis, o equivalente ao som do tráfego na cidade ou numa auto-estrada, e que este “nem sequer se activou”. “Em nenhum momento se atingiu qualquer tipo de limiar autorizado pela gerência de Urbanismo no parque da Hoya”, afirma Diego Cruz, vereador da Cultura (PP). O concerto realizou-se atrás da colina da Alcazaba de Almería, a poucos metros das instalações para estes animais.

Anna Mulà recorda a responsabilidade que as administrações podem incorrer se não forem cuidadosas ao autorizar festejos que resultem prejudiciais para a fauna, uma vez que “isto choca frontalmente com o dever que têm essas mesmas administrações de proteger a fauna selvagem, velar pela sua conservação e evitar o seu sofrimento”. “A solução em muitos casos pode ser o cancelamento ou mudança de local do festival”, salienta Mulà, porta-voz do Intercids, que agrupa os operadores jurídicos a favor dos animais.

Em 2020, a Câmara Municipal de Almería também promoveu um festival de música. Mas então, após as queixas do CSIC, o concerto foi relocado. Este ano pediu-se também uma relocação do festival, embora não tenha havido a mesma resposta favorável.

A presidente da Câmara de Almería, María del Mar Vázquez, defendeu há dias que a realização dos concertos, incluindo o festival flamenco de meados de julho, era “compatível” com o centro de resgate. “Não pedimos que se suspendesse o festival, mas simplesmente que se mudasse de local, pois em Almería há muitos espaços e explanadas bonitas para o fazer”, ressalva Abáigar.

“Este sucedido deve servir-nos de lição perante um risco iminente, que pode afectar aves e mamíferos, sobretudo. Aqui não falamos de flautas, violinos e pianos, mas de ruídos estridentes e colunas potentes”, diz Carmen Méndez, presidente da Associação dos Direitos dos Animais (ADDA). Santiago Martín Barajas, dos Ecologistas em Ação, salienta que o risco dos impactos que estes festivais podem causar “é crescente”. A opinião generalizada é que, antes de autorizar esses mega concertos, devem ser avaliados todos os possíveis impactos para prevenir danos. 

 Autor: António Cerrillo Barcelona /  La Vanguardia

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Jardins Abertos - Pela Primeira Vez no Porto

Pode ler-se no site Jardins Abertos:

"Pela primeira vez no Porto!

A história da cidade do Porto é também a história dos seus jardins, das ligações românticas ao rio Douro, aos desenhos contemporâneos dos novos espaços verdes e parques da cidade. Esta edição pioneira contará com cerca de seis jardins privados e institucionais muito especiais na zona central da cidade do Porto, abertos durante o dia 29 e 30 de junho para visitas livres, oficinas e visitas guiadas.

Venha descobrir os jardins do Porto"!


Quem estiver pelo Porto neste próximo fim-de-semana, aproveite.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Ar Condicionado no Ninho de Vespas

 

Não aprendo e repito o mesmo erro. Poderia até dizer que "em casa de jardineiro, picadas de vespa"! Não tapei as pegas do velho carrinho de mão, e as vespas voltaram a fazer lá ninho e, a esta hora, já tem um ninho em cada pega. 

Lá se foram multiplicando e, num destes dias de calor, apanhei duas vespas, sempre com as asas a bater para, no meu entender, refrescarem o ninho. 

Entretanto terei mesmo que as tirar dali mas, como não as queria matar, lá terei de ver qual a melhor forma, para que também não acabe picado. 

As Madeixas Loiras do Metrosidero

 


Uma ida à feira de Espinho e almoço ali à frente da praia. Junto aos Paços do Concelho alguns metrosideros, já de bom tamanho que proporcionava uma boa fotografia. E as enormes raízes aéras a fazer lembrar umas madeixas loiras nos enormes cabelos que já quase chegam ao chão: