sexta-feira, 9 de junho de 2023

Os Relvados São um Assunto Muito Sério nos USA

Texto de opinião publicado hoje no jornal The Washington Post, que achei extremamente interessante de analisar por vermos como a cultura estado-unidense, que era tão diferente da nossa, vai, quer-me parecer que, aos poucos e graças à globalização, vai ficando cada vez mais parecida com a nossa. Os Estados Unidos é país por excelência da individualidade e da competição, da solidão também (o país até decretou pandemia de solidão, grave problema de saúde pública)  e as pessoas não se falam, não se conhecem, não conhecem o vizinho do lado mas é interessante ver como, por um lado a feroz competição por ter um relvado bonito, sinal de status, por outro, como o simples ato de cortar a relva permite que as pessoas socializem um pouco, mesmo que não saibam o nome do vizinho. Relembrar também que por lá não se usam muros daí que seja possível ver o vizinho a cortar a relva e dê inclusive para ver o relvado da rua e meter conversa com o vizinho de quem nem se sabe sequer o nome. 


COMO COMECEI A ADORAR CORTAR A RELVA

"Recentemente um vizinho deu-me talvez o maior elogio que se pode encontrar no vocabulário do homem suburbano americano: “Uau, cara” – balançando a cabeça com as sobrancelhas levantadas e os olhos arregalados – “O teu relvado está espetacular. Está mesmo verde..." Interrompi-o com um sorriso. “Claramente mais verde do que um campo de golfe.”

Não há lugar para modéstia aqui. Eu e o meu vizinho Tom - ou será que se chama Bill? - somos os melhores amigos, por isso não controlamos o ego quando se trata de cuidar do relvado. É aquela época do ano em que os dias são preenchidos com o zumbido dos cortadores de relva e o cheiro da relva acabada de cortar. Aprendi a amar essa combinação de verão quando adolescente, esticado atrás de um corta relva que cuspia aparas para fora ao passar. O que começou como uma tarefa árdua tornou-se a porta para a liberdade: se eu acordasse cedo, cortasse a relva e a juntasse sem que ninguém pedisse, sabia que poderia sair com meus amigos naquela noite e talvez usar o carro.

Ao longo do tempo, descobri o orgulho de o fazer. As minhas linhas de corte tinham que ser perfeitamente retas, deixando para trás um padrão listrado no relvado que causava inveja na vizinhança. Mesmo agora, com quase 50 anos, ainda gosto de cortar a relva. Num mundo de teclados, videoconferência e luz artificial, cortar a relva é onde consigo comunicar-me com a natureza e sujar as mãos, suar, fazer algum trabalho “real”. Às vezes é difícil ver a diferença que fazemos no mundo, mas o cuidar do relvado dá-nos um retorno imediato, como costuma acontecer em trabalhos que exigem que tomemos banho depois do trabalho, e não antes.

E o “estar ao ar livre” tem uma importância social: anuncia a nossa presença, marca o nosso lugar. Não é exagero dizer que cerca de 98% do que sei sobre meus vizinhos soube-o enquanto cortava a relva. Por exemplo, eu conheço o meu bom amigo Bill - não, espera, o nome dele é Tom. John? - teve umas férias espetaculares no oeste há alguns anos atrás. Recebo informações sobre os seus filhos adultos e conheço as suas equipas de futebol universitário favoritas. Trocamos histórias sobre como crescemos. A verdade é que eu não saberia nada dele se não cortasse a relva.

Outro vizinho que mora atrás de nós parou o carro para falar com ele enquanto eu atravessava o jardim outro dia. Vi-o apenas um punhado de vezes. Ele passa uma vez por ano depois que a temporada de corte do relvado está bem avançada. Na primeira vez, trocamos gentilezas e então ele apontou para o meu jardim com uma mão, como fazem os sulistas mais velhos, e disse: “Eu vi-o aqui indo e voltando, indo e voltando. Se quiser, eu conheço um sujeito...” E então ele interrompeu-se, olhou a matrícula HBCU do meu carro e a moldura da fraternidade à volta, e disse na língua materna: “Olhe, o meu filho poderia cuidar disto tudo.” Eu disse-lhe que o relvado é o meu pequeno santuário e ele entendeu. Antes de retornarmos ao mundo dos subúrbios americanos, ele olhou-me nos olhos e disse: “Tudo bem. Só queria que soubesse que estamos aqui". Eu entendi.

O almirante reformado William H. Mcraven fez um discurso de formatura que foi tão popular que o transformou num livro best-seller. Mudar o mundo, argumentou ele, começa com um simples ato. “Se fizeres a tua cama todas as manhãs”, disse ele, “terás realizado a primeira tarefa do dia. Isso dar-te-à um pequeno sentimento de orgulho e o encorajará a fazer outra tarefa e outra e outra.” Cortar a relva é como fazer a cama em público. Há orgulho na tarefa, sabendo que é a primeira coisa que as pessoas verão. É uma afirmação pública da capacidade de administrar e cuidar de uma casa - propriedade que é o maior investimento individual da maioria das pessoas e, portanto, o Santo Graal do Sonho Americano. “Um homem”, como diria meu avô, “precisa de um pouco de terra para andar.” E, assim como as camas são inspecionadas nas forças armadas, o estado do relvado é avaliado por quem passa. Um relvado totalmente coberto de ervas daninhas e severamente negligenciado faz as pessoas interrogarem-se: “Quem é esta gente? O que aconteceu ali? Um jardim ostensivo e obsessivamente bem cuidado produz uma reação sutilmente diferente: “O que está a acontecer ali? Quem é que eles pensam que são?"

A escritora Caitlin Flanagan observou: “Em Minnesota, um passeio limpo é uma necessidade no inverno e um sinal inconfundível para a comunidade: estamos bem nesta casa”.

O meu pai cresceu em Jim Crow, Carolina do Sul, e para ele (como tal, para mim), um belo relvado é uma marca de sucesso, tal como uma afirmação implícita num bairro predominantemente branco: Estamos bem nesta casa. . . e tu estás seguro na tua. Nos subúrbios americanos, cuidar do relvado é tanto um símbolo quanto uma performance.

Ouvi em algum lugar que as pessoas da classe média pagam por coisas que costumavam fazer pessoalmente e pessoalmente fazem coisas pelas quais costumavam pagar. Por exemplo, acho que as pessoas costumavam pagar agentes de viagens para reservar viagens e cortar a relva. Agora pagam alguém para cortar a relva e agendar viagens. Contratar pessoas para fazer coisas em sua casa que você não quer fazer é um luxo. E “conhecer um sujeito” é seu próprio marcador social, um atributo da classe trabalhadora que é uma versão mais pessoal e confiável do Linkedin. Ainda assim, quanto mais a nossa sociedade monetiza todos os aspectos da vida, incluindo os assentos vazios nos nossos carros e as camas vazias das nossas casas, mais necessário é empreender o trabalho pelo prazer e dignidade do próprio trabalho. A nossa única relação com o trabalho não pode ser a engrenagem de uma máquina financeira. O trabalho pode fornecer propósito, pequeno ou grande, separado do dólar.

À medida que envelheço, as alergias aos pólens da relva podem tornar o rescaldo de uma tarde em comunhão com o relvado um pouco difícil. Mas vai demorar mais do que isso para me perseguir dentro de casa. Eu sentiria falta do meu melhor amigo Tom. Espera, acho que é Will!

Ginkgo biloba um Mês Depois

 Plantei a Ginkgo biloba no jardim no dia da coroação do rei Carlos III. Não escolhi o dia, calhou assim. É a menina dos meus olhos! Poderia (e se calhar até deveria) tê-la estacado. Em contrapartida decidi estacionar de volta dela o semeador. Era uma forma, principalmente, de impedir que nada, por distração, fosse contra a árvore, ou ser pisada por mim sem querer. O semeador acabou também por servir de termo de comparação da evolução do crescimento da árvore que, relembre-se, é uma árvore de crescimento relativamente lento. 

Um mês depois creio que está a evoluir muito bem.


O Castanheiro que Arranquei e Plantei no Monte

 Já não sei precisar ao certo quando foi, mas estou em crer que terá sido ali por março, altura nada recomendável, em que arranquei um castanheiro do meu terreno e que já estaria com cerca de um metro de altura. Por ali nasceu porque, provavelmente, algum pássaro, ou enterrou ali a semente (porque não há castanheiros perto) ou a deixou cair em voo. 

Como referi arranquei-o já numa altura nada propícia a plantações por raiz nua. O ideal teria sido no final de novembro ou dezembro. Mas, para não atirar a árvore para o lixo resolvi plantá-la no terreno baldio ao lado de casa. Não fiz uma cova muito generosa, foi até um pouco improvisado e, com a primavera quente que tivemos, a árvore foi perdendo as folhas e suspeitei que pudesse mesmo secar.

Mas afinal, não! Começou entretanto a puxar nova brotação e estabeleceu-se muito bem. 


quarta-feira, 7 de junho de 2023

O Norte Shopping Não Gosta de Árvores

 


Tive que ir à zona industrial do Porto e, enquanto deixei o carro numa loja a prestar um serviço, tinha quase duas horas para ocupar o tempo. Fui em direção à rotunda, antigamente chamada de "Produtos Estrela", passei num Lidl que ali se deve ter implementado recentemente, comprei o lanche e fui caminhando até perto do centro comercial. Já no regresso, deparo-me com a tristeza revoltante de observar dezenas de árvores cortadas. 

Não sei se as árvores estavam a incomodar a SONAE ou se o Norte Shopping não gosta que as árvores lhe tapem a vista. Mas a verdade é que, infelizmente, e como tenho vindo a denunciar aqui no blogue ao longo dos anos, as árvores são um empecilho nas cidades. Abatem-se dezenas de árvores como quem muda as paragens de autocarro ou faz uns passeios novos. 

Depois voltar-se-à a falar de árvores e defender o ambiente e que não há planeta B, mas só quando se aproximar as eleições. 



domingo, 4 de junho de 2023

Vaca Loura na Empresa II

 Seis anos depois, numa nova empresa mas no mesmo concelho de Gaia, encontrou-se de novo uma vaca-loura . Desta feita foi na rua e a pobre coitada (macho) terá sido ou pisada por uma pessoa ou mais provavelmente por algum carro e, apesar de ainda mexer as patinhas, creio que iria acabar por morrer. Ainda assim, decidi colocá-la escondida numa grande área de terra que existe ao lado do prédio.  



Ali em frente da empresa onde trabalho há uma grande mancha de carvalhos, o que faz sentido, pois as larvas de vaca-loura alimentam-se de árvores de folha caduda de madeira em decomposição. 

Lembrar também que estamos a falar de um inseto ameaçado e protegido por lei.