domingo, 16 de junho de 2019

15º Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima


No fim-de-semana passado, desloquei-me a Ponte de Lima para mais uma edição do Festival de Jardins. Era domingo, depois de almoço, a menina da bilheteira, que simpaticamente me reconheceu de anos anteriores, advertiu-me logo que a afluência de pessoas seria maior. E, de facto, tive que fugindo das pessoas, ora entrando no jardim seguinte e depois voltando atrás, para tentar conseguir fotografias sem pessoas. Acho que o consegui menos no primeiro, que percebi que será o favorito da maioria das pessoas, principalmente porque dava para tirar muitas selfies e fotos de grupo para colocar nas redes sociais.

Sobre o festival propriamente dito, o tema deste ano era "Jardins do Fim do Mundo" e as pessoas a concurso interpretaram o tema de duas formas diferentes. Uns optaram por algo escondido, longe, protegido, que era necessário descobrir para lá chegar, outros optaram por uma interpretação apocalíptica. Se eu, e isto é a minha visão, eu optaria pela primeira interpretação, do que ir por cenários de destruição e poluição já tão vistos, e ainda por cima, porque isto é um festival de Jardins, e não de sensibilização ambiental. Mas como referi, isto é a minha opinião. 

Segue então uma visita guiada aos  onze jardins a concurso. O jardim nº2 é o vencedor da edição de 2018 e, como sempre, manteve-se para o ano seguinte, para que todos possam desfrutar do jardim escolhido no ano passado, e que diga-se, foi também a minha escolha. 


1 - JARDIM DA AMIZADE (CHINA)

O Jardim da Amizade reflete um jardim rico em elementos da cultura oriental com apontamentos da cultura portuguesa. Este jardim, tem o intuito de enaltecer as relações entre Portugal e China, reconhecendo o seu valor cultural e histórico.

Dá relevo também à coragem dos Portugueses em navegar por mares desconhecidos e conhecer outros povos e também à fusão com as tradições Chinesas. Cada elemento contemplado neste jardim tem um significado histórico e cultural para os macaenses, chineses e portugueses. 

Desde a força do Dragão à fragilidade do nenúfares, a robustez dos bambus e o romantismo do tradicional pavilhão, o entretenimento agressivo dos grilos à inteligência do xangqi, o Jardim da Amizade representa o cruzamento entre duas culturas tão distantes mas por si só, tão próximas.

Com este jardim pretendemos proporcionar aos nossos visitantes um harmonioso passeio pela cultura oriental e o desfrutar dos mais simbólicos elementos desta cultura.





3 - PARAÍSO ESQUECIDO (ÁUSTRIA) 

“Paraíso Esquecido” foi desenhado por três estudantes de mestrado. Oda Halseth e Reidun Ertzeid são da Noruega e estão a estudar Arquitetura Paisagística na Universidade Norueguesa de Ciência Viva. Edward Gunn, da Inglaterra, está a estudar Planeamento e Arquitetura Paisagística na Universidade de Recursos Naturais e Ciência Viva em Vienna. A consultoria foi proporcionada pelo cientista senior Roland Wück do departamento de Arquitetura Paisagística na Universidade de Recursos Naturais e Ciência Viva em Vienna. Bem-vindo ao nosso jardim, onde podes comprar qualquer coisa para te fazer feliz e fazer a tua vida valer a pena. Temos ofertas ótimas e pechinchas em abundância, entrem aqui para terem a derradeira terapia do retalho. Temos a certeza de que os vossos guarda-roupas precisam de novas peças e de que querem uma televisão maior! Aqui temos tudo aquilo de que PRECISAM, então entrem!






4 - ATRÁS DA REFLEXÃO (REPÚBLICA CHECA)

O mundo não existe mais. Tendo sido esgotados todos os recursos, a Terra é só um descampado. Cada pequeno pedaço da terra é coberto pela densa rede fibrosa criando uma reflexão da realidade, uma ilusão do espaço para aqueles quem que sobreviveram.

Porém, mesmo essa tecnologia avançada não é perfeita. Ainda há lugares onde podem ver o mundo real – o mundo ATRÁS DA REFLEXÃO.

Na nossa proposta gostaríamos de demonstrar um possível abuso da tecnologia numa tentativa de disfarçar os problemas do mundo real. Tentamos jogar com a mente dos visitantes e mostrar-lhes o contraste entre a ilusão e a realidade, a reflexão duma realidade aparente.

Gostaríamos de perguntar aos visitantes – Quanto temos de disfarçar a realidade para simplificar os problemas ou deixar desaparecê-los? Mas há também outra pergunta – a principal: É a reflexão da realidade o que resta no final de tudo?





5 - MIRABILIA (ITÁLIA)

O projeto “Mirabilia” analisa sensações e a sua relação com a natureza. O jardim teve como inspiração duas obras do pintor francês Robert Delaunay: “Alegria da vida” e “Ritmo sem fim”. Recriamos um jardim “abstrato” que não se limita a copiar a realidade, mas que expressa a sua essência através de cores, formas e composições. A forma predominante no nosso design é o círculo que nos remete para o carácter cíclico da vida. Os dois círculos principais formam dois quadrados que estão retratados de forma a representar união. O caminho no solo reproduz simbolicamente o infinito: a Lagerstroemia indica, conhecida como “árvore de Jupiter ”, posicionada na pequena montanha adjacente, torna-se num relógio de sol que marca a passagem do tempo e das estações.








6 - UTUPIA | METARMORFOSE | DISTOPIA | UTOPIA (ALEMANHA)


Os visitantes entram no jardim e são conduzidos através das três partes diferentes do jardim.

Ao entrar no jardim, eles entram em noutro mundo - a utopia. Vistas amplas são possíveis e por causa das cores brilhantes das flores e da claridade das paredes de madeira, associações de vitalidade e facilidade vêm à mente. Um foco é na cor verde forte da relva, que espelha a terra fértil e destaca simultaneamente a pureza do canteiro de flores (branco) brilhante. Os olhos do flâneur vagam e descobrem a passagem do texto de Alice no País das Maravilhas, que decora a parede de madeira. Este muro leva-os a outra parte do jardim - fende-se através dele e permite-lhes ter diferentes impressões do espaço.

Na metamorfose - a área de transformação - as cores e formas das flores e plantas mudam. A nova experiência espacial torna-se aparente. As nuances brilhantes da utopia dão lugar a cores terrosas como laranja, marrom castanho e amarelo. Além da superfície arenosa e terrosa, as plantas têm cores fortes e quentes, que exibem vividamente a energia da transformação. Na parede de madeira laranja, os visitantes que pretendem descobrir a próxima passagem de texto do livro do país das maravilhas, antes de sua curiosidade leva-os para o seguinte - a última - parte do jardim.

Aqui na distopia, o contraste entre as partes contrárias do jardim é retomado e jogado com: o arranjo luminoso e amplo da utopia dá lugar a uma impressão espacial estreita e isolada. As plantas são de cor mais escura e mais escura (azul) do que antes. A superfície é parecida com pedra, o que contrasta com a superfície gramada orgânica relvada e macia da utopia. Na parede de madeira azul escura, há outra passagem do texto da Alice no País das Maravilhas.





7 - ASTROLABIUM (BRASIL)

Baseando-se numa estrutura inspirada na geometria do astrolábio, mas descontinuada, interrompida e aberta, com seus “dentes” –medidas do tempo e distância e, ao mesmo tempo, encaixes que nunca se encontram –, propõe-se assim uma poética do descontínuo e do imprevisto.

O Lago, na forma elíptica, representa a projeção de uma sombra da esfera sobre um plano. E, também a dinâmica da nossa própria órbita entorno do astro central, através do reflexo no espelho d’agua, lembrando-nos do quanto somos pequenos diante dessas “circunstancias” que possibilitaram a nossa existência.

No solo arenoso e ondulado, e nas ervas e flores distribuídas pelo jardim como ressurgimentos espontâneos, busca-se a ideia de desertificação – um solo exaurido pelo excesso de exploração e mal-uso dos recursos –, ao mesmo tempo em que a natureza da vida e sua biodiversidade reaparece com vitalidade e esperança.

O solo de cascalho-areia representa o deserto gerado por nós ao longo do tempo, onde coexistem estruturas desnudas, em ruínas, destituídas de significado.

As flores aparecem espontâneas e plenas de vida surgidas das ruínas desertas como um mistério a fazer a diversidade.





8 - ANTIQUUM ET AETERNUM (ESPANHA)

Mais uma vez, um estalar de energia libertou-se do centro da Terra através da sua pele, isto provocou um colapso global de dimensões apocalípticas. Foi um ato de limpeza: o ser humano dominava totalmente a terra; a época na qual se quisera proteger o planeta tinha acontecido há vários séculos e a terra sofria, convertida numa cloaca sem a presença dessa vida natural e selvagem, que durante muito tempo se tentou preservar... Milhares de anos depois, numa pequena gruta debaixo da carapaça do fóssil de uma tartaruga, tal e qual acontecera noutras ocasiões, as plantas vasculares começaram a prosperar e produzir oxigênio. Assim se inicia um novo ciclo de vida. No equilíbrio do trapézio dos tempos, Balantium apresenta um jardim que exalta uma vegetação ancestral nas sombras. Um lugar onde experienciamos profundos sentimentos na companhia de samambaias que nos oferecem um oxigênio ancestral. Um lugar onde a miragem seria a realidade; uma realidade onde se distrital de uma noite familiar, de uma conversa com os amigos ou de solitários momentos de leitura. Um lugar onde o vento e o sol se perdem no filtro da sombra e a expressão humana se suaviza.





9 - JARDIM VERTIGEM (IR)REVERSÍVEL (PORTUGAL)

Num ímpeto laicizador do juízo final, apresenta-se o Jardim • Vertigem (ir)reversível.

De simetrias curvilíneas e proporções áureas, o Jardim de biomas em transmutação (de)gradativa baliza-se entre a pureza do alfa (α) argênteo e a decadência do ómega (Ω) ferrugento, entreligadas pelo passeio pecaminoso plúmbeo e pela contracorrente purificante alva. O declive e as linhas suaves convergem para o ponto focal e elevado do Jardim, conferindo ao purgatório vertiginoso a sensação de precipício. Ascendendo-o, é-nos revelado, através da porta abissal com chaves do céu, a dicotomia premente quando restam 2 minutos para a meia-noite...

As balizas gregas aludem ao Mundo como o principiamos a conhecer e como o findamos a corromper. No percurso sinuoso, deambula-se sobre os 7 pecados do capital que compendiam as causas que aproximam perigosamente a catástrofe global, advinda das alterações climáticas e da sexta extinção em massa. Encontram-se subtérreos sendo alumiados lívida e tremulamente, como metáfora da hipocrisia em ignorar o que nos encandeia reiteradamente. No riacho serpenteante, lava-se os pecados explícitos com virtudes implícitas, especialmente daqueles que os encaram e não os recalcam.

As transmutações nos biomas ajardinados são apanágios da inépcia (α→Ω) e da esperança (α←Ω) humanas. Os biomas assemelham-se a embriões (umbilicados à dupla hélice vital), para relembrar que se está a privar de futuro o futuro de nós. Com as alterações climáticas, o Mundo e a Vida não perecerão mas desfigurar-se-ão! O que hoje é tropical irisado, amanhã poderá ser mediterrâneo perfumado; e o que é este último, poderá ser desértico sequioso. O contralateral é a crença da reversão climática, onde o hoje, quiçá depois de amanhã, voltará a hoje.


Envolto por uma atmosfera transcendental, o purgatório acolhe os incautos. Os 3 degraus elevam à porta a apontar ao céu, cujas fechaduras aludem à dicotomia angustiante abaixo: paraíso vs. inferno. Lá, no abismo, o relógio Dalíano sobre a balança da justiça pende o destino para o negrume desvitalizado. Marca 23h:58min, em acerto com o Relógio do Apocalipse, onde a meia-noite eufemiza a catástrofe global antropogénica. Mas o prato da direita está vago! Com máxima urgência onere-se-o com economia verde, circular e sustentável, ética e educação, que certamente a balança equilibrar-se-á.

A Vertigem é, afinal, Reversível!




Parodia spp.

Plectranthus scutellarioides


10 - FIM DO MUNDO, PRINCÍPIO DE TUDO (ARGENTINA)

A proposta "Fim do Mundo, Princípio de Tudo" surge com a intenção de transportar o visitante para o fim do mundo.

É um projeto reflexivo, emocional e sensorial que tem como objetivo captar a atenção, gerar dúvidas como o começo de todo o conhecimento, colocando perguntas ao visitante e provocando sensações que o movem para as coordenadas do Fim do Mundo – o princípio de tudo.

Ao começar a viagem, o caminho leva-nos a um espaço circular bem delimitado: é o ponto de partida marcado pela Rosa dos Ventos, que nos situa e orienta através dos pontos cardeais. Estes são importantes na viagem de todos os exploradores. É a partir dos pontos cardeais, (ou “a partir da rosa dos ventos”) que se começará a descobrir os paradigmas do lugar.

A jornada é lenta, sem pressa, sinuosa, o que nos ajuda a desacelerar o ritmo, permite observar e convida a sentir.

E descobriremos, com assombro, caixas-pretas. Quem olhar para dentro delas poderá ver imagens fotográficas que retratam os lugares simbólicos da região: o trem comboio, a prisão, a geleira, o glaciar, a flora e a fauna.

Seguindo o caminho, deparamo-nos com uma tela ao fundo, o cenário proposto para captar o espírito do lugar numa fotografia onde o visitante faz parte deste cenário, deste “Fim do Mundo”.

Continuamos a caminhar, invadidos pela paisagem representada pela vegetação típica destas coordenadas, com suas cores, texturas e perfumes.

Mais uma vez a caminhada depara-se com um espaço de pausa, uma instância de descanso onde um banco construído com troncos convidam-nos a olhar para o céu. Ali somos surpreendidos por Júlio Verne que nos avisa: "Não há obstáculos impossíveis, há vontades mais fortes ou mais fracas, é tudo! "








11 -  JARDIM DE ILUSÕES (PORTUGAL)

Para que mundo devemos caminhar? Como? Trabalhar o Nosso Mundo de forma a torná-lo recuperável: Sustentável; Belo; Equilibrado; Solidário com a Natureza, condenando os comportamentos desregrados e suicidas da humanidade, apenas preocupada com as actuais condições materiais da sua existência. Por razões de exercício artístico e técnico que o tema nos impõe, partimos para uma abordagem do mesmo, admitindo que o Mundo vai acabar. A Humanidade tem vindo a tomar consciência das graves consequências, que a sua má relação com a natureza, poderá, um dia, não muito distante, causar danos irreparáveis ao meio ambiente, colocando em risco definitivo a sua própria existência. Essa consciencialização está na base da alteração de alguns comportamentos e por isso acreditamos que a Humanidade optará, no momento decisivo, sem hesitação, por procurar melhorar a qualidade do ambiente indispensável à existência da vida na Terra. “JARDIM DE ILUSÕES, é uma REPRESENTAÇÃO ARTIFICIAL de dois JARDINS VERTICAIS, (duas formas escultóricas em ferro) onde coexistem inúmeras formas de uma “NATUREZA FICCIONAL” que se ocultam ou se mostram parcial e/ou totalmente – exibindo as suas cores, texturas e matéria – conforme as dinâmicas dos seus movimentos espaciais – construída em diversos materiais, como chapas de ferro, acrílicos, tubos de PVC, plásticos, cordas, objectos vários, pedras, chapas espelhadas, que ajudam à multiplicação de efeitos visuais, troncos trabalhados e materiais reciclados –que poderão rodar e/ou balançar como mobiles pelo efeito do vento dando a ILUSÃO DE “VEGETAÇÃO” EM MOVIMENTO.







12 - JARDIM SEM FIM (ITÁLIA)

A fonte que fica no centro do jardim e é o elemento principal de todo o projeto. É feito de painéis circulares concêntricos. É um exemplo de uma estrutura “futurista” (Futurismo é um movimento cultural e artístico desenvolvido na Itália no início do século XX): os painéis são pintados e sustentados por pequenos. A base é uma estrutura circular em ferro, que serve como vaso para algumas plantas. Em cima está a fonte, no centro de duas estruturas estrutura de madeira revestidas lateralmente em ferro. Água que deveria fluir dentro é apenas virtual e substituída por plantas. Estes triângulos representam o significado profundo da estrutura, simbolizando os quatro elementos: terra, água, vento e fogo. Segundo a filosofia grega, estes elementos são a causa da origem e morte do nosso planeta, em um movimento circular sem fim (daí o título). Esses 4 elementos estão resumidos no seus símbolos, que foram transformados em canteiros para se reconectarem com a natureza.





2 - JARDIM VENCEDOR 2018: JARDIM DE MICROCLIMAS (HOLANDA)

Ao percorrer o caminho do jardim, os visitantes podem conhecer e desfrutar dos seguintes microclimas: lago, rio, pântano, montanha e deserto, o monte de lenha, um sistema de filtro helófito, uma floresta autóctone, um campo de flores silvestres, uma charneca e um banho de pés na sombra. Nos dias mais quentes do verão podemos desfrutar deste banho natural de pés na sombra. É inspirado por uma tradição japonesa em locais públicos – praças, estações de comboio e parques. No Japão, os banhos de pés são centros sociais onde jovens e idosos se encontram e relaxam.






2 comentários:

  1. Buenisima entrada, bien es cierto que lo hubiese dividido en partes. Voy a darle difusión en mi blog. Un abrazo

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    1. Olá Raúl!
      Vamos ver se este ano ainda vou também ao Festival de Jardins de Allariz ;)
      Abraço

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