Enquanto milhares de fogos avançam pela floresta Amazónica, o Brasil enfrenta uma tragédia mais silenciosa nas quintas agrícolas do país: o silêncio das colmeias vazias. No inicio do ano os apicultores relataram ter perdido mais de 500 Milhões de abelhas em apenas três meses. A velocidade e a escala das mortes lembram o colapso das colmeias devido a uma doença que começou a dizimar as abelhas na América do Norte e na Europa em 2006.
Fotografia Boston Globe/Boston |
Mas os sintomas são notoriamente diferentes. Enquanto que o colapso das colmeias fez com que as as abelhas operárias abandonassem as suas colmeias e desaparecessem, no Brasil as abelhas estão a cair mortas no local. Mas no caso Brasil os especialistas apontam para uma causa abrangente: os pesticidas
Há um paralelo no Brasil entre a crise da Amazónia e a morte das abelhas. O afrouxamento na exigência do cumprimento das regras florestais levou a mais incêndios, assim como o afrouxamento das restrições sobre os pesticidas expôs as abelhas a mais dose letais. Cerca de trezentos novos produtos foram rapidamente aprovados mesmo que fossem estritamente proibidos e regulamentados noutros países. E assim como a queima de uma floresta tropical afeta muito mais do que as árvores, o mesmo se passa com a perda de abelhas que ultrapassa as paredes da colmeia.
Dependendo de como analisamos os números, as culturas que são polinizadas por abelhas, são responsáveis por até cerca de um terço dos alimentos da dieta humana.
Além da agricultura, os cientistas só conseguem adivinhar a escala do problema, mas a situação gera uma pergunta preocupante. Se as colónias nutridas e cuidadas por apicultores profissionais estãoa morrer, qual será então o destino das abelhas na natureza?
Quando pensamos em abelhas, ou mentes voltam-se imediatamente para a espécie que conhecemos melhor - a abelha doméstica. Mas as nossas paisagens também são abundantes em abelhas selvagens e as estimativas colocam o número total de espécies de abelhas acima de 20.000, mais do que todas as aves e mamíferos do mundo juntos. Muitos deles também são polinizadores essenciais, tanto de culturas quanto de plantas nativas no coração dos ecossistemas, desde florestas tropicais até prados de montanha. E embora a maioria das abelhas selvagens nunca tenha sido estudada em detalhes, sabemos que elas são vulneráveis às mesmas ameaças químicas que as abelhas. Então, sabemos que quando abelha doméstica começa a morrer o mesmo se passará na natureza.
Os desafios enfrentados pelas abelhas do Brasil, assim como as suas florestas, resumem -se em parte a más políticas. Mas isso não deixa ninguém louco, porque numa democracia a política do governo equivale a uma expressão de vontade coletiva. E o Brasil dificilmente é o único país democrático em que a proteção ambiental está desprotegida. Movimentos recentes nos Estados Unidos reduziram as áreas selvagens e enfraqueceram a Lei de Espécies Ameaçadas, sem mencionar a promoção do uso de pesticidas nas Reservas Nacionais de Vida Selvagem e a reaprovação do sulfoxaflor, um produto proibido em 2015 especificamente devido à sua toxicidade para as abelhas.
Sim, devemos exigir mais dos nossos líderes políticos, mas também devemos exigir melhor de nós mesmos - nas urnas e para além disso. Há um aumento exponencial na procura por alimentos orgânicos, refletindo uma tendência global que deverá dobrar as vendas e a produção em menos de cinco anos. É um lembrete de que a forma como compramos alimentos afeta diretamente a maneira como os cultivamos e os métodos orgânicos - mesmo que entremeados por campos de cultivo convencionais - suportam uma diversidade muito maior de polinizadores. Mas, para ajudar as abelhas mais diretamente (ou quando os produtos orgânicos não são acessíveis), é possível dar passos ainda mais próximos de casa através do simples ato de plantar flores. Fontes de alimento (néctar e pólen) livres de pesticidas podem aumentar a abundância de abelhas em qualquer habitat, desde janelas urbanas a parques da cidade, jardins de quintal e até nas margens de estradas.
"A Silent Spring", de Rachel Carson, deu ao movimento ambientalista a sua metáfora mais duradoura, um mundo sem canto de pássaros. Mas ela também alertou sobre as flores sem o zumbido das abelhas, e há paisagens em que essa visão já se está a aproximar demais da verdade. A boa notícia é que o declínio das abelhas, tal como o desmatamento, são tragédias evitáveis. O primeiro passo é perceber. Agora é hora de agir.
Tradução livre do artigo Why have 500m bees died in Brazil in the past three months? de Thor Hanson no The Guardian.
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