"Se na antiguidade o Homem tinha que lida com as pragas nas plantas na contemporaneidade o Homem tem que lidar com a praga das plantas. Quando um casal nos dias de hoje toma a decisão de viver em coabitação, ambos os elementos têm primeiro que perceber se são compatíveis em termos botânicos. O que se passa é que neste momento toda a minha casa apresenta um elevado nível de florestação. O meu T2 é capaz de concorrer com a Amazónia em termos de produção de oxigénio para a Terra. Na minha habitação estão representados todos os tipos de biomas que podemos encontrar no planeta Terra. A minha sala é a floresta tropical, o meu quarto uma pradaria, o escritório enquadra-se na categoria da savana, a cozinha tem características de taiga, a dispensa é claramente tundra e a casa-de-banho é um zero porque de momento só tem catos mas acredito que não dure muito não tardará a eu ter a possibilidade de substituir as folhas de papel higiénico por folhas de Ficus benjamina. A densidade da selva é tão grande que eu desconfio que já lá vivem dois ou três povos indígenas e um grupo de guerrilheirosmarxistas sul-americanos a preparar um golpe contra um governo neo-liberal ou fascizante.
É possível que a minha cônjuge estava a cultivar drogas ilegais que eu não vou notar. Aquilo que se passou em minha casa foi muito drástico do ponto de vista da densidade florestal. Há uns anos era só uma suculenta aqui, umas rosas nos dias de namorados, uns cravos no 25 de Abril, de repente tenho o pinhal de Leiria em casa. A minha namorada é o Dom Dinis em 2020. Conhece mais nomes em latim que o pioneiro da taxonomia Karl Lineu. O sonho dela é deixar-me por um gajo de apelido Silva e ter uma filha com ele chamada Laura para poder ter uma filha chamadas Laurissilva como a floresta da ilha da Madeira. E depois a terra. Há imensa terra lá em casa. A quantidade de terra que eu tenho lá em casa. Quando há malta que diz "as relações amorosas de hoje não têm substrato", mentira! Só lá em casa tenho dois ou três sacos de dez quilos com adubo, e depois espalha-se por todos os lados, porque depois há sempre aquela altura de mudar uma planta de vaso, não é? Uma operação mais delicada do que uma cirurgia ao coração. Chama-se mesmo transplantar uma planta. É um procedimento sensível que a pode matar e eu não quero ser processado por negligência por parte do PAN. Muita terra tenho eu, tenho mais terra do que se fosse viver para a terra. E depois as pessoas que têm mais plantas em casa são também as que obrigam os coabitantes a deixar os sapatos à porta de casa. Portanto uma grande incoerência de quem diz "descalça os ténis, não tragas terra para casa para depois vir dizer "comprei uma planta nova" trás mais terra para casa. E depois eu tenho um cão. Plantas e cão não dá.
"Praga das Plantas" - Pão Para Malucos (20 Novembro 2020) / Antena 1
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