Durante as últimas semanas, pude constatar mais da mesma revoltante pouca vergonha. Em Gaia, trabalhadores da SUMA, empresa privada que enriquece com o negócio do "ambiente", pulverizavam zonas verdes delimitadas por passeios ,por exemplo, à volta do Estádio Jorge Sampaio, e que rapidamente passaram a zonas castanhas e sem vida. E eu só me perguntava "porquê"? Afinal a quem interessa o uso dos herbicidas?
Já em setembro passado me revoltei contra pulverizações efetuadas aqui na minha aldeia, junto das habitações, das hortas e dos jardins das pessoas, e reportei a situação num e-mail bem esclarecedor, com fotografias e tudo à Junta de Freguesia. Infelizmente, só obtive o silêncio como resposta.
O que se passa é muito grave e só a ignorância ou desconhecimento das pessoas pode fazer com que este estado de coisas se mantenha. Certo dia apercebi-me que as ervas junto ao passeio da minha casa estavam secas, e de imediato estranhei o facto, e foi então em conversa com os meus pais, que fiquei a saber, que foi a empresa (mais uma vez privada), a Rede Ambiente, que andou a aplicar herbicida, junto das casas das pessoas por toda a freguesia, e certamente que só o fizeram com a devida autorização da Junta de Freguesia ou da Câmara Municipal. Contaram-me os meus pais, que tiveram mesmo de berrar com a pessoa que andava a aplicar o veneno mortal, pois apesar da berma da estrada estar limpa de ervas junto ao muro de suporte do terreno (até porque muitas vezes são mesmo os meus pais que limpam) o trabalhador estava empenhado em pulverizar na mesma, sem qualquer espírito crítico, e não vendo que iria matar a sebe de maracujás que os meus pais têm, mesmo junto à estrada.
Maracujá roxo |
Depois deste acontecimento, não pude deixar de estar atento e observar o que se passava um pouco por toda a aldeia. Tudo que era berma de estrada estava seco, castanho, morto. Incluindo espécies autóctones, e algumas protegidas por lei, como o sobreiro por exemplo. Afinal, parece que esta empresa privada, acha que está acima da lei, pois estes trabalhadores empenhados matam tudo o que encontram pela frente.
Sobreiro seco a mais de um metro da estrada |
Extensa faixa morta incluindo um castanheiro e vários sobreiros |
Aplica-se o herbicida, mata-se toda a vegetação, contamina-se os solos, e envenena-se o solo, mas afinal qual é o benefício? Será que é o gosto pelo castanho em detrimento do verde? Não encontro outra explicação.
Aplicou-se herbicida, mas os fetos continuam a estorvar a quem passa |
Aplicou-se o herbicida e ali ficaram os fetos, secos, que continuavam a estorvar a carros, ciclistas como eu, ou peões que passem. Mais tarde, e já depois da minha reclamação, os trabalhadores andaram então a cortar a vegetação seca. Mas então qual é a lógica disto tudo? Não poderiam ter cortado a vegetação, enquanto estava verde sem aplicar o veneno, e matar e contaminar tudo à volta? No fundo tiveram dois trabalhos, uma duplicação de tarefas que só mais prejuízo. E eu volto a insistir: a quem dá lucro o uso dos herbicidas? Mas esta obsessão pela morte e o ódio ao verde tem contornos absurdos. Na primavera do ano passado, escrevia aqui sobre a diabelha, planta com propriedades medicinais, que cresce naturalmente por entre o empedrado da estrada. Pois bem, até aquela erva, que não deve ter mais de um milímetro de altura, pois os carros e pessoas a pisarem não a matam, parece que incomoda esta empresa Rede Ambiente, e os seus trabalhadores, pois tiveram o cuidado de espalhar herbida na própria estrada, para matar todo o qualquer ponto verde. Basta ver o antes e o depois.
Diabelha no empedrado |
Nem a estrada escapa à aplicação do herbicida |
Mas pouco tempo depois foi ainda maior a minha revolta. No meu próprio relvado, imaculadamente verde e cuidado por mim, encontrei uma mancha de relva seca, com uns dez centímetros de diâmetro, prova mais do que evidente que da pulverização, saltou herbicida para o meu terreno, a uns cinco metros de distância.
Salpico de herbicida no meu relvado... |
...a cinco metros da estrada |
Quer dizer, assinei uma carta compromisso "Jardim ao Natural" da LIPOR, comprometendo-me a não aplicar pesticidas nem herbicidas no meu jardim, e vêm estes autarcas ignorantes, permitir que uma empresa privada contamine tudo aquilo que eu cuido com tanto cuidado. Mas afinal em que país é este em que vivemos? Eu volto a perguntar a quem me quiser responder: qual é a lógica da aplicação de herbicidas junto das populações, dos seus jardins e das hortas? Dêem-me uma e só uma vantagem para as pessoas da aplicação dos herbicidas. Só uma.
Cada vez mais são conhecidos os efeitos negativos do Glifosato, o herbicida mais vendido em Portugal e no mundo, tanto para o meio ambiente como para as pessoas, em especial a sua toxicidade crónica, efeitos hormonais e cancerígenos. As consequência do uso dos herbicidas estão à vista de todos, a contaminação ambiental, problemas para a saúde de animais de pessoas, e a criação de ervas infestantes resistentes aos próprios herbicidas, uma coisa mais ou menos semelhante à resistência que o nosso corpo ganha face ao uso excessivo de antibióticos.
A QUERCUS tem uma campanha contra o uso dos herbicidas nos espaços públicos. Até ao momento só quatro municípios e oito freguesias aderiram. Compete-nos a nós fazer força para que este estado de coisas se inverta. Eu já questionei a minha Junta de Freguesia. Certamente ficarei sem resposta, mas se muitos mais se revoltarem e insurgirem contra este envenenamento generalizado, talvez os senhores autarcas comecem a abrir os olhos.
Eu estou em crer que encontro o grande interesse da massificação do uso dos herbicidas. Desde logo no seu fabricante, a multinacional Monsanto, e certamente estas novas empresas privadas que aplicam a fatura às Câmaras Municipais. Nós pagamos com os nossos impostos, que vão direitinhos para o bolso destes privados do "ambiente" e pagamos também com a nossa saúde.
P.S. Quase duas semanas depois da publicação deste artigo, recebi resposta do presidente da junta de freguesia, que se mostra interessado nas minhas sugestões. Ainda bem.
P.S. Quase duas semanas depois da publicação deste artigo, recebi resposta do presidente da junta de freguesia, que se mostra interessado nas minhas sugestões. Ainda bem.
Muito bem posto! Nas viagens de comboio que tenho vindo a fazer todas as semanas é frequente ver-se lá o homenzinho a pulverizar e queimar tudo, felizmente, é só a partir de Famalicão.
ResponderEliminarMas devias ter acrescentado o anúncio da alternativa 'Herbicome' :D,
Eu fui evitando escrever sobre este assunto, pois é algo que me revolta imenso, mas teve de ser. Se uma só pessoa passar aqui pelo blogue e se questionar já terá valido a pena, se calhar, mais do que o e-mail que enviei por estes dias à Junta de Freguesia.
EliminarEu acho que fazes muito bem em escrever sobre ele...
EliminarE sobre o 'Herbicome', acho que lhe deviam dar outro nome, pois come tudo o que lhe meterem à frente, papel, roupa, cabelo humano ainda pegado à cabeça de pessoas....etc...