terça-feira, 29 de julho de 2025

Quatro Flores nos Seus 74 Anos

 A minha mãe faria hoje 74 anos, e o seu último objetivo era chegar viva ao seu aniversário, o que acabou por não acontecer porque partiu um bocadinho antes. 

Eu decidi trazer o seu cato preferido para minha casa (bem como outras das suas plantas preferida)s. 

Esta  stapelia hirsuta deu uma flor em setembro e outubro dos anos anteriores. Não deixa de ser extremamente curioso que, hoje, dia 29 de Julho, dia do seu aniversário, tinha quatro enormes flores abertas às 7h da manhã.






Cato São Pedro em Flor

 Primeira vez que o cato São Pedro (Trichocereus Pachanoi) dá flor cá em casa. Primeiro começaram a crescer uma espécie de cabelos, até que, cerca de vinte dias depois, abre em todo o seu esplendor. A flor abre de noite e, infelizmente, só dura um dia. Mas vale a pena. E as suas flores, que cheiram muito bem, atraem imensos insetos.








quinta-feira, 24 de julho de 2025

Cyca Três Anos Depois

Puxando o filme atrás. Como contei na altura, comprei uma enorme cyca revoluta no verão de 2022 por 45€, sem acalentar grandes esperanças que pegasse, mas, rapidamente, constatei que pegou muito bem, tal como me tinha garantido a senhora que ma vendeu.

Entretanto já produziu sementes e fiquei a saber que se tratar de uma fêmea, ainda que, sem um macho por perto - existe um nas redondezas mas a cerca de 200 metros - as sementes permanecerão estéreis. Contudo, dado o porte da planta, esta já tem pequenas novas novas plantas junto ao tronco. 

É, nesta fase, uma das plantas que mais gosto de ver no jardim. 













O Homem Abandona - A Natureza Toma Conta (32) - A Casa da Hera

Quatro anos depois a hera avançou tanto que cobre já, quase totalmente, as quatro janelas.


Cada Pensamento que Tens Só É Possível Graças às Plantas

Entrevista bastante interessante de Uma Sanchis a Zoë Schlanger para o jornal espanhol La Vanguardia.



“Cada pensamento que tens é possível graças às plantas”

34 anos. Vivo em Nova Iorque. Daqui a um mês vou casar-me com a minha esposa. Trabalho na revista The Atlantic. Escrevo sobre ambiente e ciências biológicas. A Terra é o requisito fundamental para todas as nossas vidas, e isso está acima de qualquer disputa política. A minha crença é científica: a interconexão.

Tudo começou com as plantas?
Sim, as plantas surgiram da água há cerca de 500 milhões de anos, arrastaram-se até à terra firme e trouxeram consigo a capacidade de transformar uma atmosfera irrespirável. Encheram-na de oxigénio.

Sem isso não teríamos começado a evoluir.
As plantas são a base de toda a nossa herança evolutiva. E produzem até à última partícula de açúcar que consumimos.

Elas moldam-nos?
Todos os nossos músculos, ossos e órgãos são formados por essas moléculas que as plantas sintetizam a partir do ar, da água e da luz solar. Portanto, devemos toda a nossa existência às plantas.

Sem elas desapareceríamos?
Muito rapidamente. O nosso cérebro funciona principalmente com o açúcar proveniente das plantas. Portanto, cada pensamento que tens é possível graças às plantas.

As plantas são inteligentes?
A inteligência, no seu sentido mais básico, é a capacidade de tomar decisões, planear o futuro e perceber o que se passa à tua volta para poderes prosperar.

E as plantas fazem tudo isso?
Sim. Têm estruturas familiares, conservam memórias que utilizam para tomar decisões. Algumas conseguem contar, e parecem até ser capazes de ouvir à sua maneira.

Como é a sua memória?
Uma flor dos Andes da família das Loasaceae é capaz de levantar os seus estames cheios de pólen exatamente no momento em que espera a chegada de um polinizador. E reavalia constantemente quantos polinizadores há na zona e com que frequência a visitam.

Também pedem ajuda.
As plantas costumam recorrer a outros seres vivos para fazer algo que não conseguem fazer sozinhas. Usam insectos para se livrarem de pragas. As plantas de tomate, por exemplo, conseguem atrair vespas parasitóides que eliminam as lagartas que as devoram.

Como chamam as vespas?
Graças à sua capacidade de sintetizar compostos químicos complexos consoante o que se passa à sua volta, que segregam através dos poros das folhas.

Com esses compostos influenciam o comportamento de outros seres?
Sim, e também utilizam esses gases para avisar outras plantas de um ataque iminente. As plantas produzem milhares desses semioquímicos nos seus corpos.

Pensamos que as plantas são passivas.
Porque estão fixas num só lugar. Mas aquilo que lhes falta em mobilidade, compensam recorrendo a outros animais. Têm estas relações mútuas que elas próprias desenham.

As plantas sentem, sofrem?
Não há nada que sugira que as plantas tenham recetores de dor, mas reagem com uma capacidade defensiva incrível quando são danificadas.

A senhora beliscou uma planta.
Sim. Fui ao laboratório de Simon Gilroy em Wisconsin e belisquei plantas mutantes concebidas para brilhar quando eram atacadas. Gilroy estava a estudar a forma como o sinal desse ataque se propaga pela planta.

E então?
Como é possível que algo sem cérebro nem sistema nervoso consiga responder com todo o corpo a um ataque localizado? Pesquisas como esta estão a levar neurobiólogos a questionar se não será altura de alargar o conceito de sistema nervoso.

Criaturas sem cérebro.
Isso levanta questões muito interessantes sobre a ideia de inteligência em rede. A sua capacidade de perceber o mundo está distribuída por todas as partes do seu corpo.

Sem comunicação, uma floresta é uma floresta?
As árvores comunicam entre si a longas distâncias. A comunicação é fundamental na vida das plantas, para trocarem nutrientes e interagirem com o ambiente. Sem isso, uma floresta é uma casca vazia.

As plantas ouvem?
Percebem vibrações acústicas. A onagra, por exemplo, consegue adoçar o seu néctar três vezes mais em resposta à simples reprodução do som do voo das abelhas.

Há quem afirme que as plantas têm consciência.
Sabemos que as raízes das plantas distinguem entre o próprio e o alheio e que conseguem coordenar-se com outras plantas sem perderem o sentido de individualidade.

É o grande debate da botânica.
Mas aquilo que ninguém discute é se as plantas são ou não seres incríveis — muito mais activos, espontâneos e vibrantes do que alguma vez lhes reconhecemos.

Isso mudaria tudo.
Se tomássemos consciência de que as plantas são sensíveis, activas e capazes de tomar decisões, mostraríamos muito mais humildade perante esta forma de vida que torna possível todo o nosso mundo.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Será que o Feto Arboreo se Propagou?


 Comprei o meu primeiro feto arboreo (Cyathea cooperi) há quatro anos. E depois de ter estado algum tempo em vasos, no início ano passado, acabei mesmo por o plantar na terra e a verdade é que se tem desenvolvido muito bem. A vizinha até já mo cobiçou e disse que tenho ali um feto muito bonito. 

Durante os anos em que foi estado em vaso tive-o nas traseiras, mais à sombra e, claro, sempre bem humedecido. 

Nas traseiras  da casa, e porque para lá do muro é monte, por vezes aparecem-me alguns fetos espontâneos, conhecidos por feto ordinário. E encostado ao muro do passeio, numa zona ao mesmo tempo bem sombreada mas também iluminada, vi que por ali estava a nascer um feto. E ao início supus que fosse um feto comum que  ali tivesse nascido se bem que, conforme foi crescendo começou a parecer-me que seria outra espécie de feto, e acabei por não o arrancar. 

Mas esta semana, enquanto regava, a verdade é que, pelo desenrolar das folhas, como que começou-me a parecer que poderia ter sido um feto arboreo que ali nasceu. Quem sabes dos esporos caídos do feto arboreo de quanto esteve nas traseiras, a poucos metros deste local. 

Então resolvi arrancá-lo com cuidado e colocá-lo num vaso. Daqui por mais algum tempo as dúvidas  dissipar-se-ão se, de facto, o feto arbeo se propagou espontaneamente, ou não. 

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Memórias no Jardim

O arado que tenho no jardim, e cedo o mencionei cá no blogue, foi montado com partes de um arado dos avós paternos e parte de outro arado dos avós maternos. Ficou agora com a companhia da grande panela de ferro fundido, herança da minha mãe, e que era de uma tia que viveu cá na terra. 

Viemos ao mundo sem nada e dele sairemos sem nada. Não somos donos de absolutamente nada. Somos, quanto muito, fieis depositários do que recebemos e compete-nos guardar e preservar, para que depois, quando já cá não estivermos, alguém o possa fazer por nós. 

Preservar estas velharias é preservar a memória dos meus pais e dos meus ancestrais e tê-los comigo no jardim. 



domingo, 20 de julho de 2025

Uma Cobra depois de Almoço

Saio porta fora e "olha uma cobrazinha lá em baixo a aquecer-se ao sol"! E ao que parece, tal como acontece com qualquer humano, parece que o almoço a deixou meia sonolenta! Não sou entendido em espécies de cobras, mas talvez seja qualquer uma rateira. Esta parece-me ainda um juvenil, porque ali no mesmo sítio já me tinha cruzado com uma bem maior. 




# Surpresa ao Chegar a Casa

domingo, 13 de julho de 2025

O Pequeno Terrorista Emplumado e a Beleza de Não saber

"De todas as caixas-ninho no nosso quintal, os chapins escolhem sempre a caixa suspensa no caramanchão das roseiras. Todos os anos, a fêmea constrói o seu belo ninho de musgo e põe o seu conjunto de ovos salpicados. Quantos ovos? Nunca sei. No caso dos chapins, podem ser até uma dúzia, ou apenas três.

Mas se ouço aquele glorioso e borbulhante rio de canto que anuncia a chegada de uma, sei que os chapins não têm hipótese. Uma carriça é um pequeno terrorista emplumado. Retira os ninhos das caixas ocupadas e enche as desocupadas com paus, para impedir que outras aves façam ali os seus ninhos. Esconde-se entre os arbustos, só surgindo para furar os ovos e matar as crias em ninhos desprotegidos. Se depender da carriça, todos os ninhos aqui estão condenados.

Este ano, uma carriça chegou a 9 de abril. Menos de uma semana depois, o ninho dos chapins estava em farrapos, enredado nas canas das roseiras. Prendia a respiração sempre que espreitava a caixa dos melros-azuis, mas eles conseguiram manter-se firmes perante o intruso. Os quatro filhotes cresceram e voaram em segurança para as árvores.

Os melros-azuis costumam começar uma nova ninhada pouco depois de os filhotes deixarem o ninho - enquanto o macho cuida dos juvenis, a fêmea constrói um novo ninho -, por isso limpei a caixa, tratei-a com terra de diatomáceas alimentar para afastar as formigas, reinstalei a grelha de arame que serve para prevenir parasitas e esperei pela segunda ronda.

Mas este ano, quando os melros-azuis deixaram a caixa, também deixaram o quintal - e não voltaram. Teriam levado as crias o mais longe possível da carriça?

Entretanto, a carriça continuava a fazer as suas rondas, passando de caixa em caixa, reivindicando todas para si. Se alguma fêmea de carriça aparecer, terá quatro caixas vazias por onde escolher. Aparecerá alguma? E escolherá este macho? Não sei. Passei 30 anos a aprender os hábitos deste quintal selvagem, e ainda assim há tantos mistérios.

Descontando os chapins em luto e a carriça macho solitária, foi uma boa primavera para as ninhadas. Vi os tentilhões jovens a seguir o pai pelo quintal, a eriçar as penas e a pedir sementes. Vi um melro juvenil a observar uma lagartixa-de-cauda-azul e a decidir que aquilo não era comida. Vi estorninhos-bebés a aprender a beber do bebedouro e um pica-pau jovem a seguir a mãe até ao comedouro de sebo. Quando se cansava de tentar perceber o mecanismo à prova de esquilos, inclinava-se de lado para que a mãe o alimentasse. E ela alimentava sempre.

Mas o verão trouxe outros mistérios, rápidos e espessos. Porque parou a carriça de cantar? Porque deixaram os cardeais juvenis o ninho demasiado cedo, ainda meio carecas e sem saber voar? Porque pôs um melro-azul um ovo sobre a grelha de arame, sem ninho?

Eu olho, e volto a olhar, mas nunca saberei.

O que mais me intrigou foi esse único ovo. Enviei uma mensagem à naturalista de Nashville, Joanna Brichetto, autora de “This Is How a Robin Drinks”, a perguntar porque razão uma ave poria um ovo numa caixa-ninho sem antes construir um ninho. Ela também não sabia, mas enviou a minha fotografia a Laura Cook, coordenadora de investigação ornitológica dos Warner Parks, que mantêm uma das mais antigas rotas de melros-azuis dos EUA.

A Sra. Cook sugeriu que eu tentasse construir um ninho. “Coloca o ovo lá e vê o que acontece”, escreveu. “Já fizemos isso quando um ninho com crias estava infestado com ácaros ou formigas - e resultou.” Resultaria também com um único ovo? Ela não sabia.

Se queres ser humilhado, tenta construir um ninho de passeriforme. Mesmo com polegares oponíveis, tive de pôr o ninho numa caixa para o conseguir manter unido. Coloquei o ovo órfão na minha fraca imitação da maravilha que é um ninho de melro-azul e fiquei a olhar. A esperança não me encheu o coração.

Mas, na manhã seguinte, já um melro-azul macho fazia guarda no topo da caixa enquanto a fêmea investigava o novo ninho. Seria dela o ovo? Estaria a questionar-se por que motivo o seu ovo estava subitamente num ninho que não construíra? Iria tentar incubá-lo?

Não sabia, mas a presença daquele ninho artificial pareceu intensificar o drama. O pica-pau-de-ventre-vermelho juvenil veio ver e os melros-azuis reagiram com fúria. A mãe pica-pau veio defender a cria. Depois, todos os filhotes da primeira ninhada dos melros-azuis desceram dos ramos para se juntarem à confusão. Durante uns 10 segundos, foi uma verdadeira zaragata de aves canoras.

Os melros-azuis defenderam aquele ovo órfão durante três dias, mas a fêmea nunca se instalou para incubar, nem acrescentou mais ovos ao ninho impostor. Sempre que eu espreitava a caixa, lá estava o ovo, exatamente onde o deixei. Estávamos todos em suspenso: eu, com as minhas perguntas sem resposta; os melros-azuis, a guardar um ninho que não construíram; até os pica-paus, que seguramente teriam apreciado uma refeição com ovo.

E então, subitamente, a carriça voltou a cantar - e o ovo na caixa dos melros-azuis tinha um buraco de perfuração. Limpei novamente a caixa e coloquei o ovo perfurado numa pedra, junto ao prato raso que mantenho sempre com água fresca. Suponho que um guaxinim ou uma cobra o comeu, mas claro que não sei.

Não sou uma criatura feita para a incerteza. Esperar pelo resultado de uma biópsia, por uma proposta de emprego, por palavras de amor de alguém que talvez não me ame de volta - não importa se as consequências são grandes ou pequenas, quero saber. Assim que sei com o que estou a lidar, consigo encontrar uma forma de reagir. Não saber é como uma paralisia.

Mas sou mais velha agora, e hoje em dia o não saber muitas vezes parece um presente. O país é governado por pessoas cruéis, gananciosas e míopes. A Terra está a aquecer até níveis insuportáveis. Aves, insetos e anfíbios estão a morrer. Uma lista completa desses horrores duraria dias. A única coisa que sei sobre tudo isto é que não sei o que vai acontecer.

Essa é a beleza de não saber: o que parece terrível pode não acontecer. Ainda há tempo para que as pessoas se unam e mudem a narrativa numa direção inesperada. Irão fazê-lo? Não sei. Tenho esperança, mas não sei. E sou grata pela forma como o não saber permite espaço para um futuro diferente daquele que receio.

Entretanto, o melro-azul macho voltou a instalar-se no topo da caixa da frente da casa. Outra vez, a fêmea entra e sai, a inspeccionar este local onde já criou não sei quantas ninhadas. De vez em quando, o companheiro traz-lhe uma traça ou uma lagarta. Está a lembrar-lhe que é um bom provedor. Ela acreditará nele outra vez? Escolherá esta caixa de novo? Estarão os seus ovos seguros se o fizer?

Não sei. Nesta estação de vida e perda, os momentos mais estranhos surgem sem resposta". 

O artigo pode ser lido no original aqui:

Opinion | The Questions Started With the Wren - The New York Times