Segunda caminhada, quinze dias depois da primeira, e desta feita por terras de Montalegre e com direito a palestra sobre cogumelos e tudo. Andou-se pela aldeia da Venda Nova e abasteceu-se depois energias na Albufeira de Salamonde em pleno Gerês.
Eu já por diversas vezes que estive no Gerês, mas nunca numa caminhada de vários quilómetros, Tinha sido sempre de carro, e nada como andar pelos trilhos para contactar com a natureza mais de perto. A paisagem é qualquer coisa, mas de perto, nem sempre é bonito de ver. Montes cheios de mimosas e outras invasoras, zonas queimadas pelos incêndios, e cabos e mais cabos de alta-tensão, com as obras feitas pelo homem a mutilar a beleza natural.
Destaque para uma autóctone que pude observar. Por aqui e por ali, iam aparecendo umas florzinhas de Açafrão-bravo (Crocus serotinus):
Na ponte da Misarela, conhecida por Ponte do Diabo, uma das pessoas da organização contou-nos a lenda da ponte. Visto que historicamente não sabe quem a fez ou a mandou construir e ainda por cima não é a direito, e como a criatura, o pobre diabo, tem as costas muito largas, a ele ficou logo associada.
Conta-se então que um criminoso ao fugir da justiça vê-se encurralado nos penhascos do rio Rabagão e em desespero, invocou ajuda, de deus ou do diabo, e de imediato o diabo - sempre solícito! -apareceu não perdendo oportunidade, e disse que o ajudava claro, mas se este lhe vendesse a sua alma! E o diabo fez então aparecer uma Ponte ligando as margens do rio, passando então o criminoso, mas de seguida fazendo-a desaparecer, travando assim as autoridades. Mais tarde o homem, arrependido, foi-se confessar a um padre e contou-lhe o sucedido. O padre decidiu então ir resgatar aquela alma ao diabo. Para isso arranjou uma caldeira com água-benta e ao chegar ao tal sítio fez tal e qual como o fugitivo, e, nesse mesmo instante, apareceu-lhe o diabo.O padre ao ver o diabo, aspergiu-lhe água benta com um ramo que cortou do arvoredo e nesse mesmo momento o diabo deu um estouro e desapareceu.
Como a ponte ficou benzida, o povo começou a acreditar que lá se poderiam operar milagres, e claro, rapidamente se começaram a fazer por ali rituais pagãos. E fiquei a saber que, ainda hoje se diz que se algo vai mal numa gravidez, deve a mulher pernoitar debaixo da ponte e a primeira pessoa que pela manhã passar pela ponte deverá ser o padrinho ou madrinha da criança. Esta deverá receber o nome de Gervásio ou Senhorinha consoante o sexo que tenha. E que por aquelas bandas ainda hoje se encontram muitos Gervásios e muitas Senhorinhas e que se faz uma festa e tudo!
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