quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Um Dia Haverá - à Conversa Com Bagão Félix

 Por mais que as várias de centenas de milhares de pessoas reunidas num pequeno espaço procurassem desfigurar aquela terra em que se apinhavam; por mais que cobrissem a terra de pedras para que nada crescesse, por mais que arrancassem cada ervinha que nascia; por mais que a defumassem com carvão de pedra e com petróleo; por mais que cortassem as árvores e enxotassem todos os animais

 e todos os pássaros a Primavera continuava a ser Primavera mesmo na cidade. O sol aquecia, a erva revivescendo crescia e verdejava por todo o lado, não apenas nos relvados das avenidas mas também nas lajes de pedra. As bétulas, os choupos, a cerejeira-brava deitava os seus gomos e folhas aromáticas. As tílias inchavam os seus botões que eclodiam. As gralhas, os pardais e os pombos trabalhavam já com alegria primaveril os seus ninhos e as moscas zumbiam junto aos muros aquecidos pelo sol. 

Alegravam-se as plantas e os pássaros e os insetos e as crianças, mas as pessoas, as pessoa crescidas, os adultos não paravam de se enganar e atormentavam-se a si próprios e uns aos outros. As pessoas achavam que o sagrado e o importante não eras aquela manhã primaveril, não era aquela beleza do mundo de Deus, dada para bem de todos os seres, essa beleza que predispunha para a paz, para a concórdia e para o amor, mas que, o sagrado e o importante era aquilo que eles inventavam para se dominarem uns aos outros... 

Foi com este pequeno excerto do início do livro "Ressurreição" de Tolstoi que Bagão Félix terminou a conversa que teve com João Gobern e Margarida Pinto Correia no programa "Encontros Imediatos" da Antena 1 a propósito do lançamento do seu último livro "Um dia Haverá". 



Bagão Félix, que muitos reconhecerão por ter desempenhado funções como ministro (a convite do CDS) figura mais conservadora e católica,  tal como muitos reconhecerão pelo fervor benfiquista, mas o livro bem como esta entrevista nada teve que ver com política ou futebol, mas sim, com o seu conhecido amor à botânica, às árvores e às plantas. Achei uma conversa extremamente rica e interessante, que aconselho a ouvirem, e já agora, como estamos em época que muitos trocam prendam, se calhar está aqui uma boa sugestão de leitura. O programa pode ser ouvido no link abaixo:

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