domingo, 31 de maio de 2020

Jardim Vencedor do Festival de Jardins de Ponte de Lima 2019

Deveria ser este fim-de-semana que o Festival International de Jardins de Ponte de Lima abriria portas com o tema "Religiões no Jardim", mas por causa da pandemia, infelizmente, a edição deste ano transitará para o próximo.

Visto que este ano não teremos festival, deixo-vos com o jardim vencedor do ano passado. 
Em 2019 o tema foi "Jardins do Fim do Mundo" e o jardim vencedor foi o jardim português "Jardim Vertigem (Ir)reversivel. Já agora, não interessa para nada, mas o meu voto foi para o jardim chinês, que, apesar de não ter sido o mais votado, foi certamente o mais fotografado. Aqui ficam então algumas imagens para relembrar o jardim vencedor do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima 2019:

Num ímpeto laicizador do juízo final, apresenta-se o Jardim • Vertigem (ir)reversível.

De simetrias curvilíneas e proporções áureas, o Jardim de biomas em transmutação (de)gradativa baliza-se entre a pureza do alfa (α) argênteo e a decadência do ómega (Ω) ferrugento, entreligadas pelo passeio pecaminoso plúmbeo e pela contracorrente purificante alva. O declive e as linhas suaves convergem para o ponto focal e elevado do Jardim, conferindo ao purgatório vertiginoso a sensação de precipício. Ascendendo-o, é-nos revelado, através da porta abissal com chaves do céu, a dicotomia premente quando restam 2 minutos para a meia-noite...

As balizas gregas aludem ao Mundo como o principiamos a conhecer e como o findamos a corromper. No percurso sinuoso, deambula-se sobre os 7 pecados do capital que compendiam as causas que aproximam perigosamente a catástrofe global, advinda das alterações climáticas e da sexta extinção em massa. Encontram-se subtérreos sendo alumiados lívida e tremulamente, como metáfora da hipocrisia em ignorar o que nos encandeia reiteradamente. No riacho serpenteante, lava-se os pecados explícitos com virtudes implícitas, especialmente daqueles que os encaram e não os recalcam.

As transmutações nos biomas ajardinados são apanágios da inépcia (α→Ω) e da esperança (α←Ω) humanas. Os biomas assemelham-se a embriões (umbilicados à dupla hélice vital), para relembrar que se está a privar de futuro o futuro de nós. Com as alterações climáticas, o Mundo e a Vida não perecerão mas desfigurar-se-ão! O que hoje é tropical irisado, amanhã poderá ser mediterrâneo perfumado; e o que é este último, poderá ser desértico sequioso. O contralateral é a crença da reversão climática, onde o hoje, quiçá depois de amanhã, voltará a hoje.

Envolto por uma atmosfera transcendental, o purgatório acolhe os incautos. Os 3 degraus elevam à porta a apontar ao céu, cujas fechaduras aludem à dicotomia angustiante abaixo: paraíso vs. inferno. Lá, no abismo, o relógio Dalíano sobre a balança da justiça pende o destino para o negrume desvitalizado. Marca 23h:58min, em acerto com o Relógio do Apocalipse, onde a meia-noite eufemiza a catástrofe global antropogénica. Mas o prato da direita está vago! Com máxima urgência onere-se-o com economia verde, circular e sustentável, ética e educação, que certamente a balança equilibrar-se-á.

A Vertigem é, afinal, Reversível!






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