segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Quinta das Lágrimas

Depois de uma curta passagem pelo Jardim Botânico de Coimbra, pelo Penedo da Saudade e do Parque Santa Cruz (Jardim da Sereia) dirigi-me para a Quinta das Lágrimas para revisitar um local que até é membro da Associação Portuguesa de Jardins Históricos e que por mera distração ainda não o tinha abordado aqui no blogue.

Apesar de ser domingo, estacionei na rua, mesmo em frente da bilheteira, aquela pequena tenda em cimento, pintada de vermelho que se vê na imagem abaixo, e por lá não havia mais carro nenhum estacionado, o que indica que a maioria dos turistas que lá dentro encontrei eram quase todos estrangeiros. E Coimbra tem essa vantagem, de as coisas serem todas umas ao pé das outras: Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Portugal dos Pequenitos e Quinta das Lágrimas. Tudo se faz facilmente a pé. 


Depois de entrarmos, e de mapa na mão que nos é entregue gratuitamente na bilheteira, a primeira coisa que encontramos, à esquerda, é a Academia de Golfe. A Quinta das Lágrimas pertence a um grupo hoteleiro nacional que como é óbvio explora o Hotel e potencia financeiramente o espaço como acha melhor. À entrada, os visitantes são convidados a experimentar esta modalidade mais elitista por 4€.

O mapa do folheto é o seguinte:


No Google Maps conseguimos ver melhor a zona envolvente que iremos percorrer:


No folheto ficamos a saber:

Nos jardins da Quinta das Lágrimas acumulam-se memórias desde o século XXVI, tanto nos elementos construídos como nas suas árvores, nas suas lendas populares e na sua verdadeira história. O documento mais antigo onde  Quinta é referida data de 1326, ano em que a Rainha Santa Isabel mandou fazer um canal para levar a água de duas nascentes para o Convento de Santa Clara. Ao sítio de onde saía a água chamou-se "Fonte dos Amores", por ter presenciado a paixão de D. Pedro, neto da Rainha Santa, por Inês de Castro. A outra fonte da Quinta foi baptizada por Camões de "Fonte das Lágrimas", por ter nascido das lágrimas que Inês chorou ao ser assassinada. O sangue de Inês terá ficado preso às rocha do leito, ainda vermelhas depois de 650 anos... "Lágrimas são a água e o nome amores", escreveu Camões nos "Lusíadas". 

Em 1650, a Quinta foi murada, fizeram-se caminhos e muros que suportam a terra e as árvores da mata e construiu-se o grande tanque que recebia a água da Fonte das Lágrimas e a encaminhava, através de um canal, para alimentar as mós do grande lagar onde e fazia muito e bom azeite.

Em 1813, o Duque de Wellington esteve na Quinta das Lágrimas a convite do seu ajudante de campo, António Maria Osório Cabral, dono da Quinta e antepassado dos atuais proprietários. Para festejar foram plantadas duas Wellingtonias (Sequoia gigantea) e ergueu-se um lápide com a célebre estrofe dos "Lusíadas" que situa a história de Pedro e Inês na Quinta. Miguel, filho de António, manda construir (por volta de 1850) um jardim romântico, com lagos serpenteados e árvores exóticas e raras, às quais o microclima da Quinta deu um porte impressionante passados dois séculos. 

Seu sobrinho, D. Duarte de Alarcão Velasquez Sarmento Osório, bisavô dos atuais proprietários, constrói junto à entrada da mina mandada fazer pela Rainha Santa uma porta em arco e uma janela neo-góticas, que dão acesso ao mundo misterioso da mata da Quinta. O século XIX testemuhou várias visitas reais, desde o imperador do Brasil ao Rei D. Miguel de Portugal. 

Em 1995, foi inaugurado o Hotel Quinta das Lágrimas, membro da famosa cadeia Small Luxury Hotels of the World e consierado um dos melhores de Portugal. 

Em 2006 a Arquiteta Paisagista Cristina Castel-Branco inicia o restauro dos jardins, doados à Fundação Inês de Castro. É recriado um jardim medieval, restaurados os muros da mata, os canais dos Amores e das Lágrimas, são plantadas cortinas de vegetação, uma alameda de sequóias e um jardim japonês dentro do Hotel e é construído o anfiteatro Colina de Camões. 



Deixando a Academia de Golfe para trás, entramos propriamente no percurso e, ou seguimos em frente diretamente para as Fontes ou podemos virar à direita e embrenharmo-nos na mata. 



Até que chegamos à tal porta e janela neo-góticos onde encontramos uma enorme figueira estranguladora, e avistamos as fontes, o anfiteatro, o tanque de água, o bambuzal e nos podemos perder por vários caminhos até à entrada do Hotel.



Fonte dos Amores (1326)



Figueira estranguladora (Ficus macrophylla)


Bambuzal
Vista para o Anfiteatro "Colina de Camões"


Tanque de água para o Lagar (séc. XVII)


Fonte das Lágrimas



Banco feito de tronco de árvore

E vamos agora entrar no Jardim Medieval, projetado por Cristina Castel-Branco e executado por Jaime Forte:










E seguidamente o Jardim Romântico:







Contornando as traseiras do Hotel...







Esta minha última visita à Quinta das Lágrimas foi um pouco apressada. Não percorri os caminhos da mata, e não me demorei como costumo fazer, porque já me estavam a pressionar para ir almoçar, isto apesar de eu ter sugerido que se almoçasse primeiro para ver a Quinta com tempo!

Há algumas coisas que ficaram por ver, mas também diga-se que o mapa fornecido (e é verdade que sendo gratuito também não se pode reclamar muito) mas é muito pequeno e torna-se complicado perceber o que podemos ver ou não, e não é de muito fácil orientação. E também só depois da visita percebi que, por exemplo, o Jardim Japonês está dentro do Hotel e só é visitável por marcação e tem um custo de 5€. 

De qualquer das formas, para quem gosta de sítios românticos e com história, quem passar por Coimbra torna-se obrigatório passar na Quinta das Lágrimas. 

O bilhete normal custa 2,50€; Menores de 15 anos e maiores de 65 só pagam 1€

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