terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Crassulas ovata em flor em Zona Sombreada

 Tinha mostrado aqui uma das minhas Crassula ovata (ou Jade) em flor e comentei que, para florirem, é deixá-las à sua sorte, com muito sol e poucas regas. 

Curiosamente, reparei hoje, véspera de Natal, que no jardim dos prédios das traseiras da loja onde trabalho, que as Crassula ovata estão, todas em flor, e a verdade é que nem apanham muito sol direto.



domingo, 22 de dezembro de 2024

Querida: Mudei o Rabo do Macaco

 Como tinha contado, em Julho comprei um cato conhecido por rabo de macaco (que me custou 35€), que dá umas belas florezinhas vermelhas. Acabei por pendurá-lo em frente da garagem, mas, já há algum tempo que pensava que tinha de o mudar e aconteceu agora. 



E em boa altura o fiz, porque o plástico do vaso estava a começar a apodrecer, bem como aquelas hastes plásticas que seguram o vaso e têm o encaixe para pendurar. Se não o fizesse com alguma brevidade o mais certo seria que acabaria por se desprender, estatelando-se no chão.

Resolvi transplantá-lo para uma taça de barro, que coloquei num suporte de ferro e que estava pousado em cima deste tronco de madeira, onde estava uma outra suculenta. Para já, e porque aqueles ramos do cato já tinham ganhado a forma do vaso mais pequeno, ficaram agora um pouco desengonçados, mas, conforme for crescendo, acredito que resultará bem. É esperar para ver. 

Crassulas em Flor

 Dezembro é tempo das Crassulas florirem, quer a Crassula ovata (Jade)  bem como com a Crassula ovata gollum (orelha de Shrek). 

Para estas suculentas darem flor, o melhor mesmo é estarem a sol pleno, com poucos cuidados e poucas regas. À sombra ficarão mais verdinhas mas mais dificilmente darão flor. No fundo proporcionar-lhes o habitat de onde são originárias. 


sábado, 21 de dezembro de 2024

A Natureza Detesta o Vazio (5)

 Pequenina planta Polygonum capitatum (conhecida por tapete inglês) nasce numa fenda do pavimento. Precisamente um dos seus habitat preferidos, muros e pequenas fendas, por onde se espalha e forma tapetes. 

Plantei um pezinho no canteiro das suculentas e já se começou a espalhar bem, aliás, já há relatos de começar a invadir algumas zonas do país. 

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Um Ano na Vida de uma Folha

Uma excelente descrição do papel e da importância das folhas, bem como do seu ciclo anual ao longo das diferentes estações. Artigo muito interessante de Kasha Patel e Emily Wright publicado ontem no jornal Washington Post




"Seria difícil encontrar uma parte da natureza que faça tanto quanto uma folha.

As folhas de uma árvore são a razão pela qual conseguimos respirar e descansar à sombra num dia de sol. O papel das folhas é essencial nas nossas vidas, mas vale também a pena admirar as ações subtis do dia a dia que lhes permitem prosperar no nosso planeta.

"O ciclo de vida de uma folha é bastante mágico," disse Andy Finton, ecologista florestal na The Nature Conservancy em Massachusetts. Esse ciclo permitiu às árvores “sobreviver e prosperar tanto nos verões quentes como nos invernos frios,” explicou.

As árvores fazem adaptações conforme a sua localização e o clima. As árvores perenes, como os pinheiros, abetos e píceas, são comuns em regiões frescas e do norte; elas mantêm as folhas e permanecem verdes durante todo o ano.

As árvores decíduas — que em latim significa "cair" — perdem todas as folhas numa parte do ano. Estas árvores de folha larga encontram-se geralmente em zonas temperadas, como o leste dos Estados Unidos e algumas regiões do oeste da Europa.

Desde o botão à floração, muitas folhas das árvores decíduas vivem todo o seu ciclo de vida num único ano. A mudança de forma, cor e tamanho é visível para quem observa. Internamente, as folhas passam por transformações químicas.

Segue-se uma descrição das mudanças anuais, visíveis e invisíveis, nas árvores decíduas.

PRIMAVERA

A primavera é a estação dos novos começos. As folhas jovens já se encontram dentro dos botões, que se formaram meses antes. Com o aumento das horas de luz e das temperaturas, as escamas impermeáveis que protegem os botões caem. As pequenas folhas e flores começam a inchar e a desabrochar.

À medida que as folhas frágeis crescem, produzem um pigmento vermelho chamado antocianina, que ajuda a protegê-las de radiação solar excessiva, evitando danos, segundo Finton.

Cada folha transforma-se também numa “cozinha” para a árvore. As folhas produzem um composto chamado clorofila, que lhes dá a cor verde e ajuda a absorver energia para que a planta possa fabricar alimento. Esse processo, chamado fotossíntese, transforma a luz solar e o dióxido de carbono no oxigénio que respiramos. Produz também açúcar, que nutre a planta e permite que ela se torne fonte de alimento para todos — incluindo nós, em alguns casos.

As folhas atingem o seu tamanho máximo por volta da metade da primavera, embora um inverno mais ameno possa fazer com que apareçam mais cedo. No verão, é o momento em que realmente prosperam.

VERÃO
As folhas atingem o seu pico de verde, e muitas outras crescem para absorver mais sol e produzir mais alimento.

Algumas folhas podem parecer mais escuras devido à acumulação de taninos — o químico que faz o chá parecer castanho — para afastar os insetos. O gosto amargo dos taninos, diz Finton, impede que os insetos as devorem.

As árvores que estão ao sol começam também a preparar-se para o inverno. À medida que os dias se encurtam após o solstício de verão, as árvores reduzem a fotossíntese e absorvem o nitrogénio das folhas. O nitrogénio ajuda a árvore a produzir compostos que protegem as células de congelarem. Mais de metade do nitrogénio nas folhas é transferido para os tecidos lenhosos até ao final de setembro, segundo o Serviço Nacional de Parques. Os botões para o ano seguinte começam também a formar-se no verão e nos meses seguintes.

Com verões mais quentes devido às alterações climáticas, o tempo de crescimento das árvores está a mudar. A investigação mostrou que temperaturas anormalmente quentes antes do solstício de verão podem acelerar o crescimento, mas as árvores também deixam de fornecer nutrientes às folhas mais cedo nas florestas do norte. Secas e eventos de calor extremo podem fazer com que algumas folhas murchem e morram antes de mostrarem as belas cores do outono. No Arizona, os investigadores registaram como um pinheiro ponderoso pareceu parar de crescer a meio da estação no ano passado, após um calor recorde.



OUTONO

As árvores não precisam de um calendário para saber que é tempo de perder as folhas. Embora a temperatura e a chuva sejam importantes, o principal gatilho das cores vibrantes do outono é a redução da luz solar.

Com a diminuição das horas de luz, as folhas recebem menos sol para produzir alimento. Tal como um urso que se prepara para hibernar, a árvore continua a acumular recursos para sobreviver à estação fria. Isso inclui quebrar compostos, como a clorofila, e enviar os nutrientes de volta para o tronco e raízes para serem usados na primavera seguinte.

"No outono, as árvores evoluíram uma estratégia de adaptação para manter os nutrientes e evitar danos," disse Finton.

Quando as folhas perdem a clorofila verde, revelam as suas cores verdadeiras: os laranjas e amarelos naturais (produzidos por pigmentos chamados carotenoides). A cor de uma folha depende do tipo de pigmento que contém.

Com a luz solar em declínio, as folhas produzem açúcares durante o dia que ficam presos por noites mais longas e frescas. Esses açúcares levam à produção de pigmentos, como as antocianinas, que acrescentam um toque de vermelho vibrante às folhas amarelas e laranja que agora se revelam. Carvalhos, áceres e corniso são conhecidos pelas suas folhas vermelhas.

Enquanto perdem a cor verde, a árvore está também a isolar-se dos elementos agressivos do exterior. Novas células, chamadas camada de abscisão, formam-se na base da folha e cortam a sua ligação à árvore. Isso interrompe o fluxo de água para a folha e o transporte de hidratos de carbono de volta para a árvore. As folhas acabam por se desprender completamente e morrem.

Nas últimas décadas, cientistas observaram que as folhas em algumas partes do nordeste dos Estados Unidos estão a atrasar a mudança de cor em cerca de uma semana devido às alterações climáticas. O calor prolongado no outono, especialmente à noite, afeta a produção de pigmentos vermelhos de antocianina. Outonos quentes podem também degradar os pigmentos e suavizar as cores das folhas.

INVERNO

As árvores perenes, como os pinheiros, abetos e cedros, conseguem suportar as duras condições de inverno. O revestimento ceroso das suas folhas em forma de agulha permite-lhes conservar a água. Além disso, o fluido dentro das células resiste ao congelamento. Estas árvores tendem a manter as folhas durante muito tempo, acabando por perdê-las apenas com o passar dos anos.

Para uma árvore caducifólia, o inverno é um tempo de descanso. As folhas caíram e os nutrientes estão armazenados em segurança no interior da árvore. Se as folhas permanecessem na árvore durante o inverno, ficariam quebradiças e perderiam todos os nutrientes. "É uma técnica de economia de água e nutrientes enviar esses nutrientes de volta ao tronco e raízes," afirmou Finton.

À medida que se decompõem no solo, as folhas devolvem nutrientes à terra. Oferecem também um habitat para a fauna, como lagartos, tartarugas, rãs e insetos, que procuram abrigo durante o inverno. Os botões que começaram a crescer na árvore também se abrigam. Tal como as pessoas precisam de um cobertor, os botões são envoltos numa capa resistente e impermeável para proteger os seus elementos preciosos do clima rigoroso. Essa capa cai com a subida das temperaturas na primavera, e os botões abrem-se e crescem. O ciclo recomeça.

domingo, 20 de outubro de 2024

Sentido Obrigatório Giratório

 Caminho por umas quelhas de Gaia e dou de caras com esta sebe de heras, que, entretanto, resolveu trepar o sinal em sentido de rotunda...



... ainda que, afinal, o sinal fosse de limitação de velocidade a trinta centímetros de crescimento por mês!

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Stapelia: Este Ano Deu Flor um Mês Depois

No ano passado floriu no início de setembro e depois em novembro. Este ano deu flor a meio de outubro, mas parece estar com muitas florizinhas pequeninas que, se acontecer o mesmo padrão do ano passado, abrirão lá para novembro ou dezembro. 




quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Matar Austrálias e Mimosas sem Dores nas Costas


As mimosas e austrálias que tinha descacado para secarem, procedi como tinha visto fazer, que era descascar mais ou menos um metro e retirar bem a casca até às raízes.

Mas por estes dias vi estas quatro descascadas só ali aquele bocado, talvez uns 80cm, e, como se pode ver, já estão bem secas, portanto resulta na mesma.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Ruas Cobertas por Árvores

Há muito que venho reclamando do desprezo com que as autarquias tratam as suas árvores que, quando encontro uma rua totalmente coberta pelos ramos das árvores, é quase uma surpresa. Não foi agora que conheci Vila Verde, mas foi desta vez parei e tirei esta fotografia.  

Gosto muito destes autênticos tuneis de árvores que tornam as ruas frescas no verão e que, sendo árvores caducas, permitem que o calor do sol se espalhe no inverno. 




quarta-feira, 25 de setembro de 2024

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Desenvolvimento da Unha-de-Gato em Três Meses

 No fim de Maio tinha comentado aqui que iria pintar o muro de verde. É verdade que vai demorar, mas em noventa dias dias já tem uns salpicos de de verde:




domingo, 25 de agosto de 2024

E a Floresta Laurissilva Não Arde Assim....


 Nunca visitei as ilhas. Gostaria muito, principalmente de visitar os Açores, mas dado o meu desconforto quando penso em aviões, nunca aconteceu. Daí que não conheça ao vivo com é a paisagem das ilhas. 

Nem todos os anos são anos de muitos incêndios, quer pelas condições climatéricas, mas principalmente pela simples razão que, onde ardeu, é preciso que o mato e arvoredo volte a crescer, e são precisos alguns anos, para que de novo volte a arder com violência, seja por incúrias, seja por intencionalidade. 

E este ano o grande incêndio que ainda está a lavrar, e há mais de dez dias, é na Madeira. 

E Madeira faz-me lembrar da Floresta Laurissilva, património mundial da UNESCO:

"A Floresta Laurissilva é o nome por que é conhecida a floresta indígena da Madeira, constituída predominantemente por árvores e arbustos de folhagem persistente, com folhas verde-escuras e planas. Já existia aquando da chegada dos navegadores portugueses e é considerada uma relíquia do Terciário. Ocupa uma área, de cerca de 15000 hectares, o equivalente a 20% do território da ilha e localiza-se, essencialmente, na costa Norte, dos 300 aos 1300 metros de altitude, e na costa Sul persiste nalguns locais de difícil acesso, dos 700 aos 1200 metros."  (IFCN)

E ingenuamente perguntei-me: "uma floresta nativa não pode arder assim com esta violência, tal como não arderia, por exemplo, uma floresta de carvalho, sobreiro, medronheiro e azevinho, as espécies típicas do continente - será que há eucaliptos na Madeira"?

A primeira resposta que a internet me deu veio do blog Botânica das Ilhas e a resposta não poderia ser mais esclarecedora:

"Na ilha da Madeira, esta espécie foi introduzida à cerca de 200 anos, tornando-se muito frequente entre os 400 e 1200 mts de altitude, sendo amplamente cultivada para combustível, todavia, hoje tornou-se numa planta invasora."

E após uma breve pesquisa, eis que encontro no site do Jornal da Madeira:

"A CDU realizou nesta manhã de quinta-feira, uma iniciativa política sobre a falta de investimento das entidades governativas para evitar a propagação descontrolada de espécies infestantes nas zonas altas do Funchal, como as acácias e eucaliptos

Nesta iniciativa a deputada municipal, Herlanda Amado, denunciou que, “passados 8 anos dos incêndios de 2016, pouco ou nada foi feito no combate às espécies invasoras como os eucaliptos. Neste mesmo local, no Caminho dos Três Paus à Viana, este problema não só se mantém, como até agravou!”, pode ler-se no comunicado enviado.

O partido acrescenta, dizendo que, “este foi um dos grandes focos dos incêndios em 2016, mas como nada foi feito nas zonas ardidas, por cada eucalipto queimado nasceram novos 7 a 10, como é visível neste local

Infelizmente não estava a ser ingénuo. Invasoras como os eucaliptos e as mimosas são um problema sério e um dos grandes responsáveis pelos incêndios em Portugal (e também na Madeira), e governo após governo ninguém faz absolutamente nada. 

*imagem é da Notícias Magazine

sábado, 17 de agosto de 2024

Notícias de Árvores pelo Mundo (4) - Britânico Transforma Quinta em Reserva da Mata Atlântica

 Se eu fosse rico haveria de ser a isto que me dedicaria. Certamente não pensava em ir à Lua ou a Marte, ou ao fundo do mar, mas em transformar para melhor o sítio onde vivo, deixando quando morresse essa herança para o planeta.

Esta reportagem de Flávia Mantovani e Bruno Santos saiu ontem no jornal Folha de São Paulo:



Reserva de Guapiaçu, na cidade de Cachoeiras de Macacu; ONG de Nicholas Locke, 64, plantou 800 mil árvores para restaurar áreas degradadas

Florestas que viram pastos e que, décadas depois, voltam a ser florestas. Caçadores treinados como guardas florestais para proteger os animais que antes eram alvo de suas espingardas. Uma área natural alagada substituída por plantações e pastagens, que é recriada e volta a ser o habitat de jacarés, lontras e capivaras.

A trajetória da Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), no interior do Rio de Janeiro, é um exemplo do poder de transformação do ser humano sobre a natureza.

Localizada a 100 km da capital fluminense, no município de Cachoeiras de Macacu, a unidade de conservação ambiental foi fundada em uma propriedade de criação de gado, a Fazenda do Carmo, que pertencia a uma família anglo-brasileira desde 1907.

Na década de 1990, um dos herdeiros das terras tomou a decisão de conservar a mata que restava e recuperar paisagens naturais degradadas.

Nascido e criado no Reino Unido, Nicholas Locke, 64, veio para o Brasil aos 19 anos fazer um estágio nas terras do tio, formou-se como técnico agrícola e, aos 22, decidiu ficar de vez. Em 2001, ele e a esposa, a argentina Raquel Locke, 61, fundaram a ONG Associação Reserva Ecológica de Guapiaçu, voltada para a preservação da mata atlântica da bacia do rio de mesmo nome.

Meu pai herdou uma parte dessa propriedade e ele se preocupava muito com a permanência das florestas. Eu também sempre quis cuidar desse patrimônio verde e tinha uma condição financeira que me permitiu dedicar tempo a aprender como se gere uma unidade de conservação. Então eu fiz isso”, diz ele.

A Regua tem hoje 8.000 hectares, com mais de 700 espécies de árvores e 500 espécies de aves, que atraem observadores de pássaros do mundo todo. Mais da metade desse terreno ficava em propriedades vizinhas à fazenda, que foram adquiridas pela reserva para ampliar sua área de preservação.

O esforço de recuperação ambiental da Regua começou nos alagados, uma área inundada e de brejo típica da região, que havia sido descaracterizada pela retificação de rios e pela destinação para a agropecuária. Hoje, com a volta do espelho d’água e da floresta ao redor, a área se tornou um símbolo da reserva.

Foi uma transformação incrível, de um ecossistema que havia sido perdido nos anos 70 e que retornou, trazendo todas as formas de vida”, afirma Raquel, vice-presidente da Regua.

Nos últimos 20 anos, com o financiamento de parceiros brasileiros e internacionais, a reserva restaurou 520 hectares de mata (o equivalente a 520 campos de futebol), com o plantio de mais de 800 mil árvores nativas. As mudas vêm de um viveiro próprio, que produz 100 mil delas por ano, de mais de 200 espécies.

A recriação das florestas é possível graças a técnicas de restauração ecológica, que incluem o preparo do solo, a escolha de árvores nativas que cumprem diferentes funções, o plantio e a manutenção.

“É um trabalho minucioso, que requer muita ciência para que aquele ecossistema fique o mais próximo possível do original”, afirma a engenheira florestal Aline Damasceno de Azevedo.

A vegetação puxa um processo de sucessão ecológica, com a produção de flores e frutos e a chegada de insetos, roedores e grandes animais.

Segundo o biólogo Manoel Muanis, pesquisador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que faz pesquisa na Regua há três anos, pequenos mamíferos vêm respondendo bem à restauração.

Entre os animais maiores, um exemplo icônico é o das antas. Extintas no estado do Rio de Janeiro, elas foram reintroduzidas na reserva pelo projeto Refauna a partir de 2017 e já tiveram filhotes nascidos em liberdade.

A floresta não é simplesmente uma camada de tinta verde pintada em um fundo. Ela realmente é vida. São centenas de milhares de processos individuais que estão ocorrendo ao redor dela, dos quais a gente nem tem consciência”, diz Nicholas.

Imagens captadas por guarda-parques e por câmeras instaladas na mata já registraram pumas, muriquis e tamanduás circulando por ali.

Para inibir a caça, um problema antigo na região, o casal Locke lançou mão de uma estratégia inusitada: contratar ex-caçadores para atuarem como guardas.

“O caçador gosta de andar na mata. Ele é observador, conhece a floresta. Quando é capacitado para proteger, ele se sente extremamente responsável por aquele território”, conta Nicholas.

Um desses guarda-parques encontrou recentemente uma espécie inédita de árvore frutífera da mata atlântica. Registrada com o nome científico de Eugenia guapiassuana ,é uma árvore de grande porte, com grandes flores rosadas e frutos vermelhos que lhe renderam o nome popular de cereja-de-guapiaçu.

A descoberta foi descrita por pesquisadores brasileiros no Kew Bulletin, revista científica da área de botânica, em março deste ano.

A calmaria da floresta contrasta com a movimentação na sede da Regua. Pesquisadores, voluntários de ONGS internacionais, turistas e ônibus escolares cheios de crianças circulam por ali.

A construção de laços com a população local foi um processo que levou tempo. “Havia uma desconfiança sobre quem éramos e o que estávamos fazendo aqui”, conta Micaela Locke, 32, filha de Nicholas e Raquel e coordenadora de projetos da reserva.

“Hoje, entendemos melhor as necessidades das comunidades do entorno e tentamos atraí-las para o nosso ambiente e a nossa rotina, com eventos, cursos, passeios de bicicleta e ações de educação.”

Além de trilhas sinalizadas, o terreno tem auditório, refeitório, alojamento para visitantes e uma pousada para adeptos do turismo ecológico.

Isso aqui foi uma fazenda muito produtiva, e até hoje sou agricultor, tenho minha propriedade. Mas estamos em uma época histórica, em que temos que colocar mais valor na preservação”, afirma Nicholas.

Se a gente não tiver um mundo para viver, não adianta termos muitas riquezas. Cada município deveria ter sua própria reserva ecológica.”

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

As Plantas da Varanda

Neste momento a minha varanda está assim, agora com uma bela yucca que trouxe do lixo!, uma Espada-de-São-Jorge e várias suculentas cabeça-de-medusa:




quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Notícias de Árvores Pelo Mundo (3) - Os Clones da Stumpy

Stumpy, a mais conhecida Cerejeira-do-Japão de Washinton, que se tornou viral na internet e que floriu esta primavera pela última vez (porque foram removidas 150 destas cerejeiras devido à construção de um dique na Bacia do Tidal) mas, apesar de se ter muito pouco material, conseguiu-se agora cinco clones viáveis de estacas recolhidas (através de estaquia) para mais tarde as poder plantar. 

Para se ter ideia da importância que tinha, as estacas da cerejeira fazem 1a página, hoje, no Washington Post




Espada no Vaso que era da Euphorbia

 Desde que retirei a Euphorbia tigrona rubra do vaso e coloquei na terra que esse mesmo vaso de cimento ficou sem nada. Então, hoje, e por sugestão da minha mãe, revolvi pegar num vaso de espadas-de-são-jorge e transplantá-lo para ali. 

Como o vaso é muito alto e porque que me parece que as espadas-de-são-jorge nunca tomarão o vaso todo com as raízes, resolvi enfiar três garrafas de plástico de água lá para dentro, pois assim sempre poupei quatro litros e meio de composto. Meti composto lá para dentro e está feito. Agora só esperar que se desenvolvam bem. 


 # Euphorbia: do vaso para a terra

sábado, 10 de agosto de 2024

Notícias de Árvores pelo Mundo (2) - A Histórica Figueira-das-Bengalas que Sobreviveu aos Incêndios do Havai

"Engenheiros florestais têm trabalhado ao longo do último ano para salvar esta venerada figueira-das-bengalas (Ficus benghalensis) com 150 anos, em Maui, e que ficou coberta de cinzas depois dos incêndios florestais que devastaram a cidade de Lahaina. 

Há um ano, incêndios devastaram a histórica cidade de Lahaina, em Maui, que já foi a capital real do Havai, deixando um dos seus símbolos mais emblemáticos - uma figueira-das-bengalas com mais de 150 anos - danificada, mas não destruída.

Fotografia via Google Maps de 2017 (antes do incêndio)

Agora, graças aos engenheiros florestais que têm trabalhado no último ano para salvar a árvore, partes dela estão lentamente a recuperar. Ramos longos com “centenas de folhas” estão a crescer novamente, disse Duane Sparkman, presidente do Comité de Engenheiros Florestais do Condado de Maui, à Associated Press, acrescentando que “é bastante surpreendente ver tanto da árvore voltar à vida”.

A árvore, com 18 metros de altura, um marco local amado, que os peritos em conservação acreditam ser a maior do seu tipo nos Estados Unidos, parecia queimada, sem vida e coberta de cinzas após os incêndios de agosto que mataram pelo menos 102 pessoas. Em fotografias recentes, partes da árvore estavam novamente cobertas de folhas verdes e densas — um sinal positivo de crescimento que provavelmente irá acrescentar esperança aos residentes locais na recuperação após o incêndio, cujos efeitos continuam a ser sentidos.

Depois dos incêndios, voluntários começaram a trabalhar para a recuperação da árvore, cuidando cuidadosamente do solo, monitorizando-a para sinais de crescimento e até mesmo fornecendo-lhe o que chamam de “sopa para árvores”, relatou a Hawaii Magazine no início deste mês.


A “sopa”, uma mistura de nutrientes criada pelo paisagista Chris Imonti, foi desenvolvida como parte da missão local de reabilitar a árvore. “Como muitos outros, tenho um apego pessoal à árvore,” disse Imonti à revista. “Estamos a fazer o possível para tentar trazer a árvore de volta, para dar alguma esperança a Lahaina.”

As folhas começaram a brotar na figueira-das-bengalas pouco tempo após o incêndio. Partilhando imagens do progresso em setembro passado, o Departamento de Terras e Recursos Naturais de Maui celebrou “sinais positivos de recuperação a longo prazo” e reconheceu o trabalho dos engenheiros florestais que se voluntariaram para salvar a árvore.

O engenheiro florestal do Condado de Maui, Timothy Griffin, disse à ABC News que os primeiros sinais de recuperação apareceram mais cedo do que o esperado, aumentando as esperanças de que a árvore sobrevivesse. No entanto, cerca de 40% da árvore morreu no incêndio, relatou a ABC.

Sparkman disse à AP que os voluntários removeram os ramos que morreram nos incêndios para conservar a energia da árvore e permitir que crescessem novos ramos. Eles monitorizaram o equivalente aos sinais vitais da árvore — os níveis de seiva nos seus ramos — usando sensores, disse Sparkman, comparando a tecnologia a um monitor cardíaco. “À medida que tratamos da árvore, o batimento cardíaco está a ficar cada vez mais forte,” disse ele à AP.

No futuro, os voluntários e engenheiros florestais planeiam instalar um sistema de irrigação para apoiar o crescimento das raízes e o terreno em torno da árvore, bem como a sua copa, disse Sparkman à AP. Eles também planeiam adicionar tubos verticais contendo composto à árvore, para fortalecer as suas raízes aéreas.

Os incêndios destruíram milhares de casas e danificaram a natureza em Lahaina. Mas, das cinzas dessa tragédia, alguns ativistas ambientais acreditam que há uma oportunidade para investir em esforços de conservação e restauração para preservar o ambiente natural da ilha.

Como reportado pelo The Washington Post, um grupo crescente de líderes nativos havaianos, defensores locais e oficiais eleitos estão a trabalhar para restaurar os pântanos que eram um marco da Lahaina pré-colonial, mas que foram reduzidos ou danificados por séculos de agricultura intensiva em água e construção". (artigo de Annabelle Timist publicado no The Washington Post a 9 de Agosto)

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

O Politicamente Correto dos Nomes Científicos na Botânica


"Em julho, cientistas botânicos no Congresso Internacional de Botânica, em Madrid, alteraram um nome científico partilhado por cerca de 200 espécies de plantas diferentes. Ao modificar “caffra” para “affra”, os cientistas disseram que estavam a corrigir um erro ortográfico. Mas quase todos os que votaram sabiam que “caffra” não era um erro de ortografia.

Durante séculos, a palavra “caffra” foi utilizada nos nomes científicos de muitas plantas para indicar que cresciam em África. Contudo, o termo é também uma versão latinizada de “Kaffir”, uma palavra que na África Austral é atualmente considerada um insulto racial extremamente ofensivo contra os africanos negros. Botânicos da região têm-se oposto ao uso do termo para se referir a plantas africanas. Na África do Sul, o uso da palavra pode resultar numa multa ou mesmo numa pena de prisão.

“Devemos a nós próprios a obrigação de fazer as devidas correções, reconhecendo os erros cometidos pelas gerações anteriores,” disse Nigel Barker, um botânico da Universidade de Pretória que cresceu na África do Sul durante o apartheid. Ele observou que os sul-africanos já abandonaram muitos nomes oficiais associados àquela era.

Debates sobre nomes tornaram-se cada vez mais frequentes na ciência. Entomologistas abandonaram os nomes comuns “traças-ciganas” e “formigas-ciganas” porque são depreciativos para as pessoas romani. Alguns investigadores têm argumentado que nomes que homenageiam racistas e colonizadores são ofensivos. Isso levou a que a Sociedade Ornitológica Americana decidisse, no ano passado, alterar os nomes comuns de espécies de aves nomeadas em honra de pessoas, e à recente mudança de nome da NYC Audubon para NYC Bird Alliance.

Mas a mudança para “affra” foi um momento diferente, uma vez que os nomes científicos oficiais de centenas de espécies serão alterados. Os cientistas geralmente são avessos a mudanças na nomenclatura científica porque a estabilidade dos nomes é importante para a comunicação inequívoca entre investigadores. Normalmente, só mudam um nome quando evidências genéticas provam que uma espécie foi identificada incorretamente.

Quando surgiram preocupações semelhantes no ano passado sobre espécies animais nomeadas em honra de Adolf Hitler (Rochlingia hitleri, um escaravelho) e Benito Mussolini (Hypopta mussolinii, uma traça), entre outros, a Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica recusou-se a alterar os nomes científicos.

A decisão de renomear todas as espécies com “caffra” é “a primeira vez que a comunidade botânica rejeitou um nome, não por razões científicas, mas por motivos políticos,” disse Dirk Albach, editor-chefe da revista científica Taxon.

A proposta para mudar “caffra” foi aprovada com 351 votos a favor e 205 contra. Mas os críticos da votação dizem que isso pode criar um precedente desestabilizador. Sergei Mosyakin, presidente da Sociedade Botânica Ucraniana, afirmou que milhares de nomes de espécies vegetais contêm palavras que foram ou podem ser consideradas ofensivas para alguns grupos de pessoas. Ele apontou exemplos como “niger” (que significa negro em latim) e nomes derivados de “Hotentote” (um termo ofensivo para o povo Khoekhoe da África do Sul).

“Já existem apelos para eliminar qualquer nome com Hotentote, e isto é apenas o começo,” disse o Dr. Mosyakin.

Fred Barrie, um botânico do Field Museum em Chicago e membro do comité editorial do Código Internacional de Nomenclatura para algas, fungos e plantas, concordou que a estabilidade é importante na nomenclatura botânica e alertou que mudar os nomes de milhares de espécies se tornaria “um pesadelo ingovernável”. No entanto, ele afirmou que o caso de “caffra” foi provavelmente um evento isolado e que os botânicos não se apressarão a mudar outros nomes em breve.

Mas Timothy Hammer, um botânico da Universidade de Adelaide, na Austrália, que foi coautor de uma proposta que procurava rejeitar todos os nomes de plantas ofensivos, planeia continuar a lutar pela causa no próximo congresso de botânica, daqui a seis anos. Após o resultado deste ano, ele está confiante de que outros nomes de espécies que alguns cientistas consideram ofensivos serão alterados no futuro.

Um exemplo é Hibbertia, um género de plantas com flores nomeado em honra de George Hibbert, um comerciante inglês que escravizava pessoas. O Dr. Hammer afirmou que continuar a homenagear pessoas como Hibbert é insensível. “Por que é que é aceitável manter estes nomes históricos depreciativos?” perguntou ele.

A Label Deeply Embedded but Widely Deplored | Clarissa Brincat | New York Times | 7 Agosto 2024

Espada-de-São-Jorge em Flor

Foi em 2018, há seis anos portanto, que trouxe do horto um pequeno vaso com dois pequenos filhotes de espada-de-são-jorge. Ano após ano foram-se multiplicando, e até já levei para o escritório da empresa onde trabalho e também lá se propagaram e estão agora dois bonitos vasos. 

O que ainda não tinha acontecido era ver a espada-de-são-jorge dar flor. 

Mas aconteceu agora:



terça-feira, 6 de agosto de 2024

Festival de Jardins de Ponte de Lima 2024 - O Imaginário na Arte dos Jardins


Foi no início de Julho que regressei a Ponte de Lima para a visita anual do seu concurso internacional de jardins. E aqui ficam, mais uma vez, pelos meus olhos os jardins a concurso:


Constelação da Imaginação - Polónia

O nosso projeto tem um significado literal e metafórico. Criámos construções da imaginação humana na paisagem, envolvente de vegetação, de proximidade com a natureza e de arte no jardim. Quem é que não associa a imaginação às estrelas?

Ao entrar no nosso jardim, pode ver sete constelações, representadas em placas e que, na nossa perspetiva, são as mais interessantes.


Aqui verá a constelação de Oríon, considerada a mais bela do céu, Capricórnio ou a constelação de Touro. Cada “furo” no quadro simboliza uma estrela, que pode ser vista no céu depois de escurecer (não é assim tão óbvio, é preciso olhar mais de perto, com a devida atenção, e dar asas à imaginação). Ao olhar para o nosso projeto, de uma perspetiva aérea, ou para a sua projeção, verá a constelação da Ursa Maior, disposta a partir das paredes.

Para além das placas colocadas no jardim, também nos concentrámos em assegurar que a natureza circundante se enquadra perfeitamente no ambiente e no tema principal. Seguindo o curso da imaginação, notámos que a ideia do que criámos não deve ser desperdiçada de forma alguma, somos contra o desperdício do que o mundo nos deu! Qualquer planta que tenha sido selecionada para o projeto pode ter uma segunda vida, pode comer-se o seu fruto, utilizar as suas flores para processamento ou como especiaria.



Olhando através das “estrelas”, podemos ver como a natureza é bela e como afeta fortemente a nossa imaginação. O principal objetivo da criação deste jardim foi permitir ao visitante passar algum tempo nele e sair com a mente aberta.

Talvez, por vezes, tenhamos de olhar para as estrelas para nos trazer à Terra?



O Mar de Areia - França

Tudo começou com o desejo de viajar. Tal como numa busca, uma epopeia, uma odisseia, ‘O Imaginário na Arte dos Jardins’ tem atravessado diversos mitos e referências. Pensamos na Odisseia de Ulisses, que levou a sua personagem a navegar pelos mares e a descobrir novos territórios, antes de chegar a Ítaca. Há também a busca pessoal, aquela que o leva a mergulhar em si mesmo.

Em cada jornada estará um passo mais próximo de realizar sonhos. Este jardim representa uma odisseia num Mar de Areia, uma viagem rumo à imaginação, através da contemplação.


O percurso de visita ao jardim inicia-se com um passadiço de madeira, que convida o visitante a viajar pela superfície da terra entre o Oriente e o Ocidente. “O Mar de Areia” é inspirado nos jardins secos do Japão, Karesensui, revistos em locais portugueses. O passadiço divide-se em dois níveis, com profundidades diferentes, para criar uma varanda com vista, ao longo de toda a visita ao jardim.


Esta jornada será repleta de etapas. Os objetos que vão sendo encontrados, na areia, são fragmentos de história, símbolos figurativos ou abstratos que podemos encontrar, durante a travessia. Oferecem mil e uma interpretações possíveis: um arquipélago num mar tranquilo, os tesouros flutuantes de um navio naufragado, entre muitas outras interpretações. Cada visitante poderá ver aquilo a que a sua imaginação o levar.


As rochas poderão ser interpretadas como uma montanha, um recife ou as falésias do Algarve, em maré alta. Os arbustos podem sugerir ilhas verdes com bosques floridos, como São Miguel, nos Açores.


A metáfora da areia do mar surge como um elo que liga todos estes acontecimentos. Sugere a impermanência do mundo, pela sua fluidez. A areia representa o flutuante: o jardim surge, assim, como um espaço onde o imutável e o efémero se confrontam e se fundem. Esta superfície mantém um elemento de mistério, cuja sua interpretação fica ao critério de cada visitante.


Contando não uma, mas várias histórias, ‘O Mar de Areia’ convida o visitante a atravessar, contemplar e entregar-se ao devaneio, deixando a imaginação correr livremente pela sua mente.



O Portal dos Sentido - França

O imaginário é um sonho, não é real. Atua como um portal entre o inconsciente e a realidade.

Com este projeto queremos que o visitante se questione, reflita e que coloque a sua imaginação em ação, imergindo nela.


Este é um jardim interativo que permite viver uma experiência sensorial, estimulando os cinco sentidos do ser humano, fundamentais à sua existência.

Permite ao visitante perceber que a aparente simplicidade destes sentidos é muito mais profunda do que possa acreditar, podendo até fazer esta ligação entre um mundo real e o imaginário.


Cada “caixa-negra”, a que chamamos cápsula, explora um dos sentidos, disponibilizando uma atividade com ele relacionada. A metáfora da “caixa-negra” está ligada à caixa craniana, que serve de base à imaginação.

Existem duas cápsulas que se destacam das restantes: uma representa “o nada”, enquanto que a outra representa “o tudo”.


Todas gravitam à volta do centro, “o nada”, em forma de um Triskle - junção de três espirais no sentido anti-horário. Este símbolo celta está conotado com o sagrado e com o simbolismo da origem da vida.



Quisemos também revisitar, formal e conceptualmente, o abrigo de jardim através de uma visão mais moderna e futurista: a cápsula, um lugar onde é possível meditar.

Todas foram desenhadas com linhas simples e formas geométricas puras, com o objetivo de retornar aos sentidos mais primitivos. Um pictograma na entrada de cada cápsula indica qual é o sentido que será estimulado na experiência que o visitante está prestes a vivenciar.



Jardim ao Ar Livre - Hungria


Demos o nome de “Plein Air Garden” à nossa proposta de jardim. O ponto de partida do nosso projeto foi inspirado no movimento artístico do século XIX, o Impressionismo. Os impressionistas pintavam frequentemente ao ar livre, “en plein air”, normalmente em jardins ou parques, para captar os efeitos momentâneos e transitórios da luz solar. Um dos seus temas favoritos eram as paisagens e a natureza. A descrição de uma pintura impressionista é muito semelhante à descrição de um jardim naturalista: luz em constante mudança, movimento, elemento da perceção e experiência humana.


Tal como os artistas do século XIX encontravam a sua inspiração nos jardins, acreditamos que as pessoas de hoje também precisam de sair e encontrar a sua criatividade, através da sua ligação com a natureza e o ar livre. Este jardim não só oferece um lugar calmo e tranquilo para se refugiar, como também inspira ativamente as pessoas a criar, estimulando o seu imaginário.

Colocámos molduras vazias em diferentes locais do jardim, onde os visitantes se tornam artistas e podem compor a sua própria pintura ou fotografia, utilizando estas molduras rotativas. A estrutura ao ar livre, com a sua figura leve, estimula a imaginação, enquanto oferece uma sombra fresca nos dias quentes de verão, onde se pode relaxar e perder-se na beleza das flores. O teto de lona move-se ao sabor do vento e dá um toque lúdico a este canto do jardim.

O elemento principal são sempre as plantas. O jardim tem como objetivo celebrar este facto, realçar o papel das plantas! As espécies vegetais, escolhidas pelas suas características ambientais, enquadram-se na paisagem mais alargada. As imagens recortadas pelas molduras tornam-se protagonistas e constituem o ponto focal da criação de imagens. As flores e as folhas transformam-se em tinta nas telas dos visitantes.


O Jardim Dinamarquês - Dinamarca


Os pensamentos/ideias por detrás de “O Jardim Dinamarquês” assentam no conceito subjacente ao jardim e à sua disposição e conceção. Pretende--se oferecer ao visitante uma experiência forte e colorida de jardim e plantas, ao mesmo tempo que lhe proporciona a oportunidade de adquirir factos sobre a Dinamarca, através de objetos expostos, quadros e informações escritas. Por outras palavras, combinar uma experiência sensorial de jardim com informação, na medida em que o visitante escolhe em função do seu interesse e da utilização do seu tempo.


Com base nas cores da Dinamarca, há um grande e marcante canteiro, no meio do jardim, com um leito de flores vermelhas e brancas que, juntas, formam a bandeira nacional dinamarquesa, conhecida em dinamarquês como “Dannebrog”.


Num dos cantos do jardim há uma pérgula plantada com trepadeiras verdes, onde os visitantes têm a oportunidade de se sentar e descansar à volta de uma pequena mesa e desfrutar de paz, abrigo e sombra. No canto oposto, numa área vedada, há um stand com 10 contentores de lixo, em painéis com texto explicativo, que mostram e contam como os resíduos domésticos dos cidadãos na Dinamarca são separados em 11 grupos distintos. Num outro canto do jardim, existe um “pilar de comunicação” que, através de textos, painéis e imagens, informa os visitantes sobre a história, a geografia, a natureza e a paisagem da Dinamarca, a população, a atual “paisagem” política, o governo, o parlamento, o emprego, as empresas, as importações, os desportos, entre outros aspetos.


Ao longo dos dois lados do relvado, haverá também stands de exposição ao nível dos olhos, onde estarão expostos objetos e informações de/e sobre arte e produtos conhecidos de origem dinamarquesa. Haverá ainda um aquário com peixes, num ambiente aquático com plantas verdes e vasos com flores coloridas sobre relvado.


Leve o seu imaginário a este país tão bonito e fique a conhecer a sua dinâmica, através deste jardim com flores vistosas e de cores fortes e brilhantes.


OLHA INTERIOR - ALEMANHA / SUIÇA



Este projeto visa estimular o imaginário do visitante, através do despertar de um olhar interior. Ao oferecer elementos exploratórios, contemplativos e lúdicos, o projeto dirige-se tanto a quem procura uma experiência lúdica, como a quem procura calma e relaxamento.


A peça central do jardim é um espelho preso ao chão. O espelho é uma metáfora do olho interior, representando uma expansão da mente e uma viagem ao imaginário, ao mesmo tempo que oferece uma experiência espacial única. O jardim oferece espaços de exploração e oportunidades de contemplação. O objetivo é oferecer uma pausa nas impressões rápidas e constantes que são tão dominantes nos dias de hoje e salientar a importância da presença momentânea e da autorreflexão para o imaginário. Este jardim pretende ser esse escape, mesmo que seja apenas por um momento!


Para abrir o olho interior, o visitante é levado a fazer uma pequena viagem composta por quatro etapas, cada uma delas ligada a um elemento do jardim. Para iniciar o processo de abertura do olho interior, o visitante é primeiro convidado a fechar os olhos e a desligar-se do mundo exterior, num ato de apreensão, que acontecerá ao entrar no jardim com as suas ervas altas. Depois disso, tem de procurar dentro de si próprio, o seu caminho interior, o que poderá fazer, percorrendo os diferentes caminhos e espaços do jardim.



Após a busca, é encorajado a olhar para dentro de si mesmo e, assim, encontrar o seu olho interior, o que deve fazer olhando para o espelho situado no centro do jardim.




Por fim, o visitante é incentivado a refletir sobre a sua experiência, permanecendo no imaginário durante mais algum tempo, sentando-se num dos recantos de contemplação, antes de regressar ao seu mundo real.

JARDÍN DEL LETEO - ESPANHA

Se, hoje em dia, quem visita Ponte de Lima pode percorrer livremente a vila, na antiguidade, os romanos que chegaram a esta região não se atreveram a atravessar o rio Lima. Consideravam que estavam perante Lethes, o rio que os gregos narravam nas suas lendas como um dos cinco rios do submundo, que era necessário atravessar para chegar aos Campos Elíseos, o paraíso onde chegavam as almas bondosas. Quem cruzasse este rio esquecia toda a sua vida anterior, o que permitia recomeçar uma nova vida, liberta do passado. No ano 138 a.C. o general romano Décimo Júnio Bruto atravessou o Lima e chamou os seus soldados, pelo nome, para refutar a lenda do rio Lethes.



A lenda do rio Lethes e dos Campos Elíseos é narrada desde a antiguidade, podendo ser encontrada em referências de autores clássicos, como a “Eneida” de Virgílio, ou na “Divina Comédia” de Dante Alighieri. Todos concordavam que a paisagem do rio Lethes estava repleta de plantas soníferas, flores vermelhas e amarelas, e que ali se encontrava a caverna rochosa de Hypnos, deus do sono. Os Campos Elíseos eram uma terra fértil onde abundavam plantas comestíveis, árvores de fruto e prados esmaltados com flores.


Ao entrar neste jardim, o visitante ficará imerso nestas histórias. No início, poderá encontrar um curso de água que simboliza o rio Lethes, podendo experienciar a travessia para os Campos Elíseos através de uma pequena ponte, localizada no centro do jardim. De um dos lados encontra-se a caverna rochosa de Hypnos, rodeada de flora sonífera: papoilas, passifloras, valerianas e camomilas. Do outro lado, estão representados os terrenos férteis, com laranjeiras, girassóis, alhos selvagens e lírios.


O Jardín del Leteo simboliza as origens de Ponte de Lima. Uma história carregada de grande significado, para que a narrativa se torne numa verdadeira experiência. O imaginário torna-se, assim, real, na arte deste jardim.

O SONHO IMAGINÁRIO DE UMA INFÂNCIA ASIÁTICA - AUSTRIA - CHINA

No coração da imaginação, existe um jardim, um santuário que transcende a idade e convida todos a redescobrir o encanto da sua infância. Este reino fantástico é uma tapeçaria tecida de memórias, onde as cores vibrantes da juventude pintam a paisagem.


No centro deste refúgio mágico, ergue-se uma majestosa cerejeira, símbolo da eterna primavera que reside no jardim imaginário. Os seus ramos estendem-se para o céu, adornados com flores que dançam ao sabor da brisa.


Estas flores de cerejeira esvoaçantes dão vida aos sonhos de infância, ressuscitando a alegria pura e a maravilha que outrora encheram os corações dos jovens.


Uma superfície de água serena, representada por flores, reflete as profundezas da alma, oferecendo um vislumbre da criança que existe dentro de nós.


O “reflexo na água” sussurra histórias de inocência e de imaginação indomável, convidando os visitantes a mergulharem no reservatório de memórias que os definem. A flora do jardim, meticulosamente arranjada e cultivada, encarna a essência da cultura japonesa. Cada flor, cada folha conta uma história de tradição e beleza, capturando o espírito de um jardim asiático harmonioso, tal como existe no reino fantástico da mente de uma criança.


A fusão de colinas relvadas, caminhos, pedras robustas e flora exuberante harmonizam-se para criar uma paisagem pitoresca, diretamente dos sonhos da juventude.






Neste refúgio, o tempo para e os ecos de risos e dias despreocupados permanecem no ar. É um santuário onde as barreiras entre a realidade e a imaginação se esbatem, permitindo que todos os que entram sejam transportados de volta à simplicidade e alegria da infância. O jardim imaginário, com a sua cerejeira simbólica e “águas” refletoras, torna-se num recipiente para as memórias coletivas da juventude, um refúgio intemporal onde o espírito de um jardim asiático harmonioso prospera nos sonhos das crianças. Todas as pessoas, independentemente da idade, são calorosamente acolhidas para regressarem ao encanto dos seus sonhos de infância, neste jardim asiático imaginário.

IMAGE(S) IN AIR - PORTUGAL - BÉLGICA

A imaginação esteve sempre na base da conceção dos jardins. Cada elemento do jardim, a estrutura, o desenho, as plantações, tornou-se uma expressão da visão que as pessoas tinham da natureza e do que as rodeava.

Contudo, vivemos numa época em que tudo se quer imediato, a relação do tempo e espaço mudaram bruscamente, o Ser Humano quer tudo rápido e ocupa cada vez mais espaço, em detrimento da natureza.


Atualmente, mais do que nunca, somos confrontados com um número infinito de imagens tanto positivas como negativas. Mostram o quotidiano ou o extraordinário. Falam da natureza, dos humanos, das nossas relações, das nossas vidas. Estas imagens estão “no ar”, ocupam o nosso espírito e o nosso tempo, toldam-nos a imaginação.


É neste preciso momento que a arte dos jardins tem grande importância e abre a porta ao imaginário. Possibilita a criação de espaços que permitam tranquilizar a mente, encontrar tempo, onde nos possamos desligar das imagens que somos bombardeados diariamente e onde a nossa imaginação possa florescer e as nossas ideias voar.




O resultado é um jardim santuário, tranquilo e acolhedor, um planeta para cuidar! Um jardim onde a natureza e os homens encontrem equilíbrio.






Queremos levar os visitantes nessa viagem, de um futuro com novas perspetivas, de se desligarem das imagens e da excessiva informação, a que somos expostos diariamente e a “levantar voo” deixando-se contagiar pela imaginação e pela tranquilidade deste jardim.

JARDIM DA MOURA - INGLATERRA

O Jardim da Moura é um jardim de experiências que conta a história de “A Mal Degolada”, um conto antigo de Ponte de Lima, sobre um amor trágico e proibido entre uma mulher moura e um homem cristão. Conta-se que os dois escondiam o seu amor por diferenças religiosas, uma vez que os pais não o aprovavam.



Um dia, o homem ouve um rumor sobre a infidelidade da sua companheira, que se encontrava todas as noites com um homem junto à fonte, e decide ver com os seus próprios olhos. Quando a noite chega, esconde-se perto da fonte e, ao ver que era verdade, num acesso de raiva, ataca a amante com uma faca. O homem ao lado da mulher, agora morta, grita que ela tinha acabado de ser batizada. Era um frade cristão que todas as noites se encontrava com ela e lhe ensinava a religião junto à fonte, para não levantar suspeitas à sua família.



Quisemos recontar esta história pelo seu final dramático e abrupto, e pela sua ligação a Ponte de Lima.



O jardim está dividido em 6 fases: encontro, paixão, dúvida, raiva, arrependimento e reflexão. Estas emoções sentidas ao longo da história são representadas por uma série de pormenores no design: na fase de paixão, o coreto representa o amor escondido e encarna os seus encontros secretos; a falta de vegetação na fase da dúvida mostra o sentimento de incerteza, com uma janela com vista para a fonte que representa a distância entre os dois amantes; o jardim de pedras na zona da raiva ilustra o estado de caos nessa noite miserável; os degraus no palco do arrependimento estão um pouco fora de alcance para fazer com que as pessoas parem e olhem para onde estão a pisar.


No final do curto passeio, o jardim de reflexão serve para os visitantes processarem a história que viveram, sentando-se numa zona serena, olhando para uma fonte que representa a mulher leal.


O Jardim vencedor vencedor em 2023 foi o jardim "Vila la Vida" que, como sempre acontece, também pode ser visto este ano. E como sempre, o festival pode ainda ser visitado até ao final de outubro. E a entrada mantém-se com o preço simbólico de 1€.