Depois de um ano sem festival de jardins, está de regresso o festival de Ponte de Lima com a sua 16 edição. Este fim-de-semana passei por lá, com máscara e limite de pessoas em cada jardim. Apesar de tudo o que não falatava por lá era gente, especialmente espanhóis.
O tema deste ano é "As religiões nos Jardins" e aqui ficam os onze jardins a concurso:
1 - OLHO DE DEUS / POLÓNIA
A união da natureza e da alma remove o véu da ignorância que cobre a nossa inteligência, disse uma vez um homem sábio. Ao entrar no abrigo no meio do jardim, todos podem ver o reflexo do ambiente: o céu, as pessoas que estão ao redor, mas também ele ou ela mesma. Ou talvez haja uma partícula divina escondida em cada um de nós? Sente-se e olhe para fora através dos buracos nas paredes e inspire-se. Pode respirar e libertar a sua mente.
Todos os elementos arquitetónicos são feitos de madeira – os visitantes entram no jardim através do caminho de boas vindas com um lancil de madeira. Podem encaminhar-se para o pavilhão com as paredes abertas e sentar-se no banco que tem uma inscrição gravada – o lema do jardim. O abrigo tem uma abertura no topo, através da qual o céu é visível.
2 - JARDIM DE OSÍRIS / PORTUGAL
Os jardins egípcios são dos mais antigos que conhecemos, datam do ano 2000 a.c. e estavam presentes em todas as casas. Estes jardins eram espaços protegidos entre muros, organizados em torno de uma ou mais piscinas que serviam de reservatório de água para a rega e muitas vezes viveiros de peixes. Por vezes tinham pequenas cascatas ou repuxos de água para refrescar as casas devido ao clima quente e árido.
Eram um símbolo de fertilidade, sintetizando as forças da natureza e eram a imagem de uma sistema racional e arquitetural baseado no monoteísmo. Este foi o modelo de jardim que exerceu maior influência nos jardins ocidentais.
Osíris era o mais importante Deus de todo o império antigo. No início do seu culto, era a deificação da força do solo, que faz a vegetação crescer. O crescimento da representação de Osíris na cultura religiosa do antigo Egipto foi monumental ao ponto de substituir o culto solar.
3 - CAIXA DE PANDORA / ITÁLIA
A caixa de Pandora pode ser comparada à árvore da qual Adão e Eva comeram o fruto proibido, renunciando para sempre ao Éden. Zeus havia confiado a caixa a Pandora, dizendo-lhe para deixá-la sempre fechada. Porém, motivada pela curiosidade, Pandora desobedeceu a Zeus e, abrindo a caixa, libertou todo o mal do mundo. Antes de a caixa ser aberta, assim como para Adão e Eva, a humanidade vivia livre do mal, do trabalho e da discriminação: os homens eram imortais como os deuses. Depois de abrir a caixa de Pandora, o mundo tornou-se um lugar desolado, escuro e inóspito.
Durante a Idade Média, também chamada de “Idade das Trevas”, os únicos a cuidar dos jardins eram os monges, que fechados dentro das paredes das suas abadias e mosteiros, criaram com o Hortus Conclusus o paraíso terrestre descrito na Escritura. O Hortus Conclusus, nas descrições literárias e na iconografia do tempo, é um jardim protegido por um muro alto, separado por ele do mundo exterior, santificado por uma fronteira inviolável: fora o mundo físico e tangível, dentro o divino, o sobre-humano.
O projeto visa recriar essa dicotomia: cinco paredes, símbolo das cinco religiões mais professadas no mundo (Cristianismo, Islamismo, Budismo, Hinduísmo, Religião Tradicional Chinesa) configuram-se como protetores e guardiães do que permaneceu no fundo da caixa de Pandora: ter esperança.
A esperança de um lugar melhor, além do mundo terreno, para recriar aquele jardim prometido a homens bons e sábios por muitas religiões.
4 - TERRAMOTO DO DIA DE TODOS OS SANTOS / ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
A 1 de novembro de 1755, enquanto muitos se encontravam nas igrejas, o terremoto do Dia de Todos os Santos sacudiu a capital de Portugal, Lisboa. A cidade foi destruída e as pessoas que sobreviveram ficaram com medo.
Enquanto alguns encontraram consolo na religião, outros começaram a questionar a visão bíblica do mundo e a procurar respostas distintas. O terremoto impulsionou a época tecnológica e intelectual, a Era da Razão.
Durante esse período, as ciências e as humanidades floresceram. Um exemplo disso é a “gaiola pombalina”, uma estrutura anti-sísmica de madeira usada na reconstrução dos edifícios destruídos de Lisboa. Este jardim “Terramoto do Dia de Todos os Santos” fala-nos sobre o antagonismo entre religião e razão. Baseadas na geometria cruzada, as estruturas com colunas inclinadas colocadas no seu interior simbolizam a religião, enquanto as estruturas baseadas na geometria da “gaiola pombalina” com colunas retas representam a razão. O debate entre religião e razão aparece-nos nas áreas de plantações separadas e nos blocos de pedra espalhados aleatoriamente, representando o movimento das placas tectônicas durante um terremoto e as ruínas que se formam posteriormente.
5 - SANTUÁRIO DA INVULNERABILIDADE
SANTUÁRIO da INVULNERABILIDADE é um esconderijo sagrado de ritual e proteção divina, um lugar salvaguardado para a alma, para estar consigo mesmo, seguro e imperturbado.
Cada vida é uma jornada. Estamos em constante busca de nós próprios, as escolhas certas, o caminho certo, a nossa conexão com um poder superior e o mais importante: SEGURANÇA. Desejamos, acima de tudo, o sentido de proteção na nossa vida.
Em todas as religiões existe um elemento comum: ÁGUA. Mais importante ainda, em cada religião tem um significado especial. Com este jardim procuramos apreender a sua essência e mostrá-la como a vemos: o elemento essencial da vida, um líquido purificador, uma superfície transparente onde se pode ver o seu reflexo, como num espelho.
Neste jardim, a água representa um desafio constante, como as lutas da vida, mas à medida que se percorre o caminho, encontra-se a promessa e a esperança em forma de pétalas, que nos lembram continuamente que vale a pena assumir a ESPIRAL DA VIDA.
Neste percurso, somos permanentemente atraídos para o centro, por uma espécie de gravidade enfatizada na forma espiral ,no sentido horário.
6 - A PROCURA
Nas nossas vidas, estamos sempre a caminho de algum lugar. Talvez à procura de algo. Mas o que é isso exatamente? Este é um mundo diverso, com muitas culturas, religiões e estilos de vida diferentes - mas todos temos algo em comum.
Procuramos o local / comunidade onde nos possamos sentir em casa. Portanto, seja o que for que estejamos à procura: religião, amor, futebol ou música, encontraremos assim uma comunidade.
Este jardim é uma homenagem a quem continua a procurar e a quem o encontra. Este jardim convida-o a entrar num labirinto - um labirinto que simboliza que às vezes pode demorar para encontrar o que deseja, o que não é necessariamente fácil.
Mas no meio da selva de caminhos a percorrer, é possível encontrar o que procura. E encontrará a sua comunidade ao percorrê-lo.
Bem-vindos, peregrinos. Viagem pelo jardim da vida. Cheio de múltiplas contradições. Escuro e claro. Crença e dúvida. Nascimento e morte. Através de um pequeno portal - uma porta emoldurada. Um começo. Um ventre. Depois uma fonte simbólica de pedra. Uma sensação de antecipação. Tu és atraído pela luz. Para o desconhecido.
Navegue pelo caminho sinuoso em busca de ti mesmo. Procura um espaço de contemplação e reflexão; verdade e iluminação. A própria vida liga das trevas à luz e às trevas de volta à luz. E por aí fora. Interligado. Translúcido. Trevas e luz. A tua caminhada é a busca por um momento sagrado de verdade pessoal. Uma conexão com o espírito do lugar.
Um espaço de contemplação é marcado por uma torre e um santuário - uma escultura de aço e uma estrutura de pedra - símbolos de pureza e simplicidade, forma e espaço. Expressões de certeza, integridade e interconexão. A torre alcança os céus e representa as tuas orações; as tuas esperanças e sonhos.
Uma estrutura simples de granito e metal - talvez um templo, uma casa ou o paraíso - oferece tranquilidade e descanso à sombra das trepadeiras. A luz dança na superfície de uma piscina radiosa, as sombras tremeluzem alegremente com os espíritos brilhantes e reluzentes. Um salpico de cor é um eco das antigas tradições de oração. Tu estás exaltado. Limpo. Iluminado.
Tu meditas. Tu até podes acreditar. Toda a vida aqui está interligada, neste pequeno santuário. Uma catedral do espírito humano. Para o teu e o meu. Para a natureza. Para a memória. Para a fé. Para a esperança e confiança. Para a humanidade. Para os elementos. Para a terra. Para os céus. E além...
8 - Jardim do Diálogo / Espanha e República Checa
O nosso jardim representa um símbolo de diálogo e respeito mútuo entre as diferentes religiões do mundo. Nos tempos atuais, devemos concentrar-nos mais nos valores que temos em comum do que nas diferenças. Temos muito mais semelhanças do que diferenças e, muitas vezes, concentramo-nos mais nas coisas que são diferentes hoje em dia. O propósito deste jardim é facilitar o encontro de semelhanças, pensar sobre elas e talvez iniciar um diálogo. Ao mesmo tempo, pretende estimular a tolerância. Não são as nossas diferenças que nos dividem, é a nossa incapacidade de reconhecer, aceitar e abraçar essas diferenças.
O jardim é dividido em 7 espaços separados que representam as 7 religiões mais amplamente difundidas em todo o mundo. Pode visitar o jardim islâmico, o jardim cristão, o jardim judeu, o jardim do taoismo, o jardim hindu, o jardim budista e o jardim étnico. Os jardins individuais são simplificações destinadas a cada projeto de jardim específico. Na realidade, cada estilo é muito mais complexo, no entanto, usamos apenas os símbolos principais, elementos básicos e vegetação única para demonstrar os diferentes estilos.
Existem paredes feitas de estacas de madeira que separam cada jardim. A característica importante é que essas paredes estão incompletas, de modo que os jardins não ficam estritamente separados. Isto pretende simbolizar as idéias e valores comuns compartilhados entre as diferentes religiões.
A parte central de todo o desenho deste jardim mostra um elemento que todas as religiões tinham ou têm em comum. A árvore sagrada. Podemos encontrar árvores sagradas em todo o mundo. Existem árvores que representam o símbolo da vida e também o símbolo da conexão entre Deus (Natureza) e um ser humano. Essas árvores foram elogiadas por seus aspectos espirituais, místicos e bioenergéticos. E também, havia a Árvore do Éden. Existem diferentes espécies de árvores sagradas, mas para o nosso jardim, escolhemos uma oliveira como símbolo de paz.
Outro elemento compartilhado por diferentes religiões é o local de contemplação sobre Deus. Cada jardim é composto por um local para sentar e pensar (orar) ou apenas relaxar com vista para a oliveira (paz). Cada estilo de jardim tem uma forma diferente de sentar que reflete os costumes culturais específicos. O uso de plantas não é aleatório. Algumas plantas e árvores têm significados simbólicos muito fortes. As diferentes condições climáticas para cada estilo de jardim também afetam a seleção das plantas.
Para colocar mais ênfase em todos esses pensamentos, ideias e símbolos, a combinação de duas cores foi escolhida. O azul como símbolo de profundidade e lealdade e o branco como símbolo de espiritualidade e compreensão. Ambas as cores também têm outros significados, a primeira representa o céu, enquanto a última representa a fé.
A Religião é um sistema sócio-cultural de determinados comportamentos e práticas, moralidades, visões do mundo, textos, profecias e éticas que relacionam a humanidade com elementos sobrenaturais, transcendentes ou espirituais, ou somente Deus nos livros sagrados ou na Grécia Antiga as lendas dos Deuses.
A Religião é também a crença e a adoração de um poder de controlo sobre-humano, o Deus ou Deuses, já que hoje em dia ninguém pode provar a verdade de qualquer religião porque não estamos na era dos milagres. Pode-se praticar a religião em muitos lugares, numa mesquita, numa igreja, num templo ou num jardim. Pode simplesmente sentar-se num jardim e olhar ao redor e de certa forma meditar e questionar o mundo e o universo no sentido do relacionamento com a própria religião.
O Jardim da Vida é a representação do início da vida. As primeiras pessoas e o primeiro pecado. A ideia do Jardim da Vida é mostrar a vida do ser humano na perspectiva das boas e más decisões. Como base temos a história de Adão e Eva do Éden. A macieira representa a árvore da vida e ao mesmo tempo um pecado. Dois caminhos simbolizam o “mau” e “bom”. O “mau caminho” passa pela árvore e termina com um espelho para ver o seu reflexo e pensar no que fez.
Já o “bom caminho” tem uma forma circular para que se possa dar a volta à cúpula e, assim, ver a beleza da árvore, sentar-se nos bancos, olhar para o céu, aproveitar o sol e até passar pelo “caminho do mal”, mas pretende-se que se saia do jardim realizado e satisfeito com a jornada.
A Cúpula representa duas coisas: o paraíso, que é a área dentro dela; a Terra que é a forma exterior, onde encontramos sete entradas simbolizando os Portões de Jerusalém ou no Islamismo “Os sete níveis do céu que levam ao paraíso”.
11 - LA CHAPELLE / ESPANHA
Dizem que num lugar inóspito o solo foi fraturado. Do seu interior proveio a cinza, subindo em direção ao céu quando um rugido quente foi ouvido. Na sua subida, as cinzas dançando ao ritmo do vento, formaram um belo jardim colorido por uma luz cintilante. Ao mesmo tempo que o rugido se transformava em cálidas harmonias, moldavam-se as formas e cores emergentes.
Desde então, esse lugar é sagrado.
Como ideia de concepção de jardim, procurou-se uma imagem que fosse profunda e flexível o suficiente para que qualquer observador pudesse compreender o seu significado e enriquecê-lo com a sua própria experiência. Assim, neste breve texto estão implícitos alguns dos conceitos sobre os quais o ser humano tem refletido através da religião desde a sua origem, no momento em que toma consciência de sua própria existência.
A paisagem sempre fez parte da religião, tanto na sua dimensão espacial externa tanto como parte de um ambiente floral efêmero dentro de um templo. A Sua beleza, em muitas ocasiões, ultrapassa-nos e, assim, faz-nos passar do meramente contemplativo ao transcendente. Nesta proposta, o jardim é dividido em duas áreas separadas por duas cercas semicirculares, com postes de madeira de pinho cravados no solo, as quais estão ligadas por um caminho envolvente.
Gera-se assim um espaço interior côncavo e protegido, origem de La Chapelle e outro exterior, que serve de átrio de chegada ou de espera. De uma paisagem para contemplação, passa-se a outra para transcendência. O espaço La Chapelle é um lugar reservado à transcendência. No centro está um depósito embutido no solo, dentro do qual há cinzas. A partir dele surgem vasos horizontais e verticais ajardinados com plantas de diferentes variedades, com e sem flores.
La Chapelle é um espaço sagrado que responde à ideia de vida após a morte; um belo jardim que nasce e transcende o tempo em movimento contínuo e harmonioso, que nos envolve, transporta e nos acompanha para sempre com sua luz e sua cor.
12 - JARDIM RELIGARE / BRASIL E PORTUGAL
A escultura e o jardim.
Um jardim com seixos de pedras entrecortado por nichos de vegetações que tem como objeto ornamental atravessando todo o perímetro uma instalação artística uma escultura de 20 metros por 1.20 mts largura e 3.10 mts de altura. representando A serpente Boitatá entidade protetora da natureza nas religiões e folclores dos povos da Amazônia. Esta escultura produzida dentro dos conceitos da eco arte é apoiada nas políticas éticas dos 5R (Reduzir, Reciclar, Reutilizar, Recuperar e Reintegrar).
A enorme escultura em forma de serpente,é confeccionada com resíduos sólidos de tecnologia (sucatas) restos de cabos electro eletrônicos,de computadores, e o corpo da escultura revestido com teclados de computadores criando a ilusão óptica de escamas . No seu interior estão plantadas mudas de vegetação que germinadas dão outra textura e cor à escultura da serpente, criando a ilusão de mudança de pele da cobra.
Assim como a natureza, a escultura em forma de serpente terá mudanças imagéticas de acordo com as estações do ano. Porquê uma serpente: Elegemos o ícone da serpente como elemento unificador entre religiosidade e natureza. A Sua representação é utilizada como símbolo de religiões, possuindo vários significados e aparecendo em diversas simbologias.
A serpente ou a cobra tem sido um símbolo de sabedoria, eternidade, cura, mistério, poder mágico, e santidade pela maior parte do mundo. O Seu símbolo até hoje é utilizado na medicina, e outras profissões de cura. A Serpente foi venerada na antiga Babilônia, México, Egito, bem como em diversas civilizações em diferentes períodos da humanidade. Em toda a linguagem mitológica a serpente é também um emblema da imortalidade. A Sua representação do infinito com a sua cauda na sua boca (Ouroboros), e a constante renovação de sua pele e vigor, tornam vivos os símbolos da juventude continuada e eternidade.
A importância da Serpente (cobra) para o meio ambiente: Na natureza, a cobra - nome popular dado às serpentes - tem uma grande importância ambiental, pois sinaliza problemas nos seus habitats. Sendo animais pecilotérmicos (que têm sangue frio, e não mantêm a temperatura corporal), são muito sensíveis às mudanças climáticas e a quaisquer alterações que ocorram em seus habitats. Como todos os outros animais, as cobras também são de suma importância para o equilíbrio do ecossistema!
Como é habitual, o jardim vencedor fica patente no ano seguinte, por isso o jardim nº é o "Jardim Vertigem (Ir)reversivel de 2019.
O festival de jardins estará aberto até ao final de Outubro de 2021 e a entrada tem um custo simbólico de 1€.
Olá bom dia.
ResponderEliminarSimplesmente liiiindo.....
Uma boa semana.
Obrigado!
EliminarBoa semana!